segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

ANÁLISE: O CREPÚSCULO DE BOLSOMACHO


POR FERNANDO BRITO

Que me desculpe o Fernando Gabeira pela a apropriação indébita do título de seu livro para definir a
situação do atual (com 48 dias já temos de nos referir assim a ele) Presidente da República.
Quem prometeu tanto para os “100 dias de governo” completa amanhã, quando sair – se sair – a
exoneração de Gustavo Bebianno, 100 horas de um impasse impensável, com a manutenção de
alguém que chama de “mentiroso” e que vaza para a imprensa barbaridades em off contra seu
governo.
Nada pior para alguém que se elegeu apresentado-se como o “macho” que, no peitaço, ia por ordem
no governo.
Pois Bolsonaro, ao contrário do Capitão Rodrigo Cambará de Érico Veríssimo – o do “Buenas e me
espalho, nos pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho” com que explicava o manejo do
facão – está “tirando o papel de fraco” na briga de botequim quese transformou a demissão de
Bebianno.
Não demitiu, ofereceu uma sinecura de R$ 67,6 mil mensais como “cala a boca”, fez que aceitaria
manter o ministro “mentiroso” e dar um puxão de orelhas no filho.
Horas depois, “última forma” e a caneta BIC, em tese, voltou a ser um machado.
Se Bebianno disse ou não que Bolsonaro “é um louco”, um “perigo para o Brasil” – expressões 
registradas por Lauro Jardim – ou se chegou a admitir, como informa Gerson Camarotti, do G1, que
tem o dever de “pedir desculpas ao Brasil por ter viabilizado a candidatura de Bolsonaro” é o de
menos.
Ainda que não tenha dito – e duvido – tais coisas, encontrou integrandes do governo Bolsonaro a
dizerem o que disse, até como forma de expressarem o que pensam.
Sinal de que não se tem tanto medo mais do “facão do capitão”.
Que descerá, é certo, nesta segunda-feira sobre o pescoço de um Bebianno que é imensamente maior
do que era 100 horas atrás.
Mas que está impedido, pelo menos por algum tempo, de descer sobre qualquer outro pescoço.
ENQUANTO ISSO....
“DO” não trouxe demissão de Bebianno e confusão continua...
Tempo não faltou, pois a edição do
Diário Oficial da União agora é
eletrônica.
Mas a publicação regular de hoje
não traz a esperada exoneração de
Gustavo Bebianno da Secretaria
Geral da Presidência.
Ao contrário, o que sai são atos
administrativos assinados pelo
ainda ministro sobre atribuições de
funcionários da pasta.
A novela, portanto, prossegue, com
novas saraivadas de offs de
Bebianno a jornalistas, que vão se
alternando no conhecido “morde e sopra”, entre ameaça de revelações e juras de civilidade.
O mais novo off de “interlocutores” está na Veja, quando dizem que o ainda ministro “diz ter ‘papéis
e documentos’, mas se cala sobre gravações”.
Pode sair até uma edição “extra” do Diário Oficial durante o dia, mas a pergunta que segue é por que
Bebianno tem tanto poder assim?

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