sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Não estamos num zoológico, estamos nas nossas terras !


"Não estamos num zoológico, estamos nas nossas terras"
por Marcos Apurinã, Bonifácio José e André Baniwa 
Já fomos dizimados, tutelados e vítimas de política integracionista de governos e Estado
Nacional Brasileiro, por isso, vimos em público afirmar que não aceitamos mais política de
integração, política de tutela e não queremos ser dizimados por meios de novas ações de
governo e do Estado Nacional Brasileiro. Esse país chamado Brasil nos deve valor
impagável senhor presidente, por tudo aquilo que já foi feito contra e com os nossos povos.
As terras indígenas têm um papel muito importante para manutenção da riqueza da
biodiversidade, purificação do ar, do equilíbrio ambiental e da própria sobrevivência da
população brasileira e do mundo.
Não é verdade que os povos indígenas possuem 15% de terras do território nacional. Na
verdade são 13%, sendo que a maior parte (90%) fica na Amazônia Legal. Esse percentual
é o que restou como direito sobre a terra que antes era 100% indígena antes do ano de
1500 e que nos foi retirado. Não somos nós que temos grande parte do território Brasileiro,
mas os grandes latifundiários, ruralistas, agronegócios, etc que possuem mais de 60% do
território nacional Brasileiro.
O argumento de “vazio demográfico” nas terras indígenas é velho e falso. Serve apenas
para justificar medidas administrativas e legislativas que são prejudiciais aos povos
indígenas. As nossas terras nunca são vazios demográficos. Foram os indígenas que
ajudaram a proteger as fronteiras brasileiras na Amazônia.
Diferente do que o senhor diz de forma preconceituosa, também não somos manipulados
pelas ONGs. As políticas públicas, a ação de governos e do Estado Brasileiro é que são
ineficientes, insuficientes e fora da realidade dos povos indígenas e nossas comunidades.
Quem não é indígena não pode sugerir ou ditar regras de como devemos nos comportar ou
agir em nosso território e em nosso país. Temos capacidade e autonomia para falar por nós
mesmos. Nós temos plena capacidade civil para pensar, discutir os rumos dos povos
indígenas segundo nossos direitos, que são garantidos nos artigos 231 e 232 da
Constituição Federal, na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e
na declaração da ONU sobre os povos indígenas. Nós temos condições de elaborar projetos
e iniciativas. Muitos já estão elaborados. É o caso dos planos de gestão de terras indígenas
aplicados no estado do Amazonas.
Senhor presidente, cumpra com suas falas e discursos de campanha de fazer valer a
democracia, pois somos brasileiros que merecemos respeito sobre nossos direitos. Não
aceitamos a ação ditatorial, pois contradiz com o discurso do senhor Ministro da Casa Civil 
Onyx Lorenzoni que defende o diálogo. Afirmamos que estamos organizados com
lideranças e povos capazes de diálogo com o presidente, Estado brasileiro e governo, pois
já aprendemos falar na Língua Portuguesa, além de nossas línguas nativas de cada povo e
línguas de outras nacionalidades.
As mudanças feitas na reestruturação e na reorganização administrativa do governo federal
através de MP n° 870 do dia 1 de janeiro de 2019 são uma completa desordem e um
ataque contra a política indigenista Brasileiro. Além de prejudicial, pretende inviabilizar os
direitos indígenas que são constitucionais. O mesmo sobre novo decreto, que tira a
competência da Funai de licenciamento que impactam nossos territórios. Essa prática já
aconteceu no passado na história Brasileira como uma tentativa agressiva de nos dizimar.
Foi um período muito difícil e ineficiente do Estado. Não aceitamos e não concordamos com
suas medidas de reforma administrativa para gestão da política indigenista.
Não somos culpados de ter muitas mudanças em nossas vidas e em nossas culturas. Isso é
fruto de um processo de colonização violento, que matou muitos povos e extinguiu línguas
nativas. Queremos continuar sendo indígenas, com direito a nossa identidade étnica, assim
como somos brasileiros. O brasileiro quando sai para outros países e outros continentes 
continuam sendo brasileiros. Nós, da mesma forma, e ainda mais quando estamos dentro
do Brasil que aprendemos a defender como nossa nacionalidade.
Nosso modo de vida é diferente. Não somos contra quem opta por um modelo econômico
ocidental, capitalista. Mas temos nossa forma própria de viver e se organizar nas nossas
terras e temos nossa forma de sustentabilidade. Por isso, não aceitamos desenvolvimento e
nem um modelo econômico feito de qualquer jeito e excludente, que apenas impacta
nossos territórios. Nossa forma de sustentabilidade é para nos manter e garantir o futuro
da nossa geração.
Não estamos nos zoológicos, senhor Presidente, estamos nas nossas terras, nossas casas,
como senhor e como quaisquer sociedades humanas que estão nas suas casas, cidades,
bairros. Somos pessoas, seres humanos, temos sangue como você, nascemos, crescemos,
procriamos e depois morremos na nossa terra sagrada, como qualquer ser humano vivente
sobre esta terra.
Nossas terras, já comprovado técnica e cientificamente, são garantias de proteção
ambiental, sendo preservadas e manejadas pelos povos indígenas, promovendo constantes
chuvas com as quais as plantações e agronegócios da região do sul e sudeste são
beneficiadas e sabemos disso.
Portanto, senhor presidente da República Jair Messias Bolsonaro,  considerando a política de
diálogo do seu governo na democracia, nós lideranças indígenas, representantes legítimas,
estamos prontos para o diálogo, mas também estamos preparados para nos defender.
– Marcos Apurinã – Povo Apurinã
Liderança Indígena Apurinã da Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do
Rio Purus; contato –
– Bonifácio Jose´- Povo Baniwa
Liderança Indígena Baniwa do Alto Rio Negro, membro da Organização Baniwa e Koripako
NADZOERI;
– André Baniwa – Povo Baniwa
Liderança Indígena Baniwa do Alto Rio Negro, Terra Indígena Alto Rio Negro, Presidente da
Organização Indígena da Bacia do Içana, OIBI.

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