terça-feira, 25 de dezembro de 2018

ANÁLISE: A IRRESISTÍVEL ASCENSÃO DOS IDIOTAS


Para o economista Paulo Nogueira Batista Jr., o Brasil e parte do mundo vive as consequências 
de um "fenômeno arrasador": "a ascensão fulminante e irresistível do idiota"; segundo ele, 
"até o século passado, os idiotas ignoravam a sua condição de maioria e, portanto, viviam 
omissos e acomodados", mas "de repente, tudo mudou. O idiota descobriu o próprio peso e 
desencadeou-se por toda parte com força brutal. Passou a publicar, dar entrevistas, gerir 
empresas e — o que é pior — ocupar cargos públicos da maior importância"
Paulo Nogueira Batista Jr na Carta Capital
Há muito tempo, leitor, não trato de um tema que me era caro outrora: a ascensão fulminante e 
irresistível do idiota. E, no entanto, hoje mais do que nunca vivemos as consequências desse 
fenômeno arrasador – não só no Brasil, mas em grande parte do mundo.
Tudo começou no século XX. O primeiro a diagnosticar o fenômeno foi, salvo engano, o filósofo 
espanhol Ortega y Gasset. A sua obra A Rebelião das Massas marcou época. Décadas depois, Nelson 
Rodrigues retomou o tema com mais verve e mais graça. Os idiotas sempre existiram — e em grande 
número.
Sempre foram a maioria — sólida e compacta maioria. Mas, até o século passado, os idiotas 
ignoravam a sua condição de maioria e, portanto, viviam omissos e acomodados, ignorantes da força 
que a sua condição lhes proporcionava. A deferência era seu traço característico. Nunca lhes 
ocorreria incomodar os outros com opiniões, ideias, projetos.
De repente, tudo mudou. O idiota descobriu o próprio peso e desencadeou-se por toda parte com 
força brutal. Passou a publicar, dar entrevistas, gerir empresas e — o que é pior — ocupar cargos 
públicos da maior importância. Isso foi, como dizia, no século passado.
De lá para cá, o campo ocupado pelo idiota só fez expandir-se. É notório, por exemplo, que as redes 
sociais ampliaram sobremaneira as suas possibilidades de atuação. Convenhamos, leitor: o que 
temos, hoje, não é mais a ascensão do idiota, mas o seu completo e indiscutível triunfo. Os não 
idiotas sobrevivem assustados e acuados. Quando botam a cabeça para fora, sofrem as piores 
agressões.
O fenômeno se reproduz em todas as esferas. Começa no seio das famílias. Em outros tempos, os 
idiotas da família eram bem-comportados. Não arriscavam um palpite, um parecer, sequer faziam 
perguntas. Hoje, não. As reuniões familiares são dominadas pelos patetas, sempre ruidosos e cheios 
de convicções. Nunca lhes ocorrerá, é claro, que a dúvida tem um papel salutar. Nietzsche, não por 
acaso, escolheu o jumento como metáfora para o portador de convicções…
Obviamente, os patetas não se contentam em tumultuar reuniões familiares ou sociais. Querem 
“influir nos destinos da nação”.
Em 2016, leitor, quem é que marchava atrás de pato na Avenida Paulista, na Avenida Atlântica e em 
tantas outras avenidas Brasil afora? O idiota, ora, o idiota na sua mais límpida e cristalina 
manifestação. E ali começou a nossa desgraça atual.
Mas o fenômeno está longe de ser apenas nacional. Basta dar uma espiada nos Estados Unidos, por 
exemplo. É uma grande nação. Já teve um Abraham Lincoln como presidente da República. Lincoln, 
além de grande líder político, era um artista da palavra. Escrevia ele mesmo, com grande cuidado, os 
seus discursos e pronunciamentos. Alguns deles são verdadeiras obras de arte.
Bem. Esse mesmo país elegeu George W. Bush para a Presidência (duas vezes!) e agora Donald 
Trump. Bush tinha, ao menos, certo senso de humor. Trump, nem isso. Mas, enfim, quem sou eu para 
menosprezar o presidente dos EUA? Trump tem, sem dúvida, pontos fortes e qualidades apreciáveis. 
Mas aí é que está: consegue disfarçá-los de maneira magistral. Pode parecer estranho, mas não há 
mistério nem paradoxo. Num mundo dominado inapelavelmente pelos idiotas, um homem de talento 
como Trump tem de se comportar como se idiota fosse.
O presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, trilha exatamente o mesmo caminho. Comporta-se, às 
vezes, como perfeito idiota. Mas é tudo manobra, tudo disfarce. Na campanha, Fernando Haddad deu 
um show de inteligência e cultura. Chegou a lançar expressões em latim na cara do eleitor. Um 
grande erro, evidentemente.
Bolsonaro, assim como Trump, mostra traços de verdadeira genialidade no modo como simula 
idiotice. A escolha de alguns ministros causou sensação.
Um exemplo: o embaixador Ernesto Araújo, futuro ministro das Relações Exteriores. Pelos seus 
escritos, percebe-se que é um diplomata de vasta cultura. Mas, para subir na vida, é obrigado a fazer 
concessões medonhas.
Em texto recente, citado na mídia, Araújo sugeriu que o Brasil questione os BRICS, grupo formado 
por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A sua ideia é que se tente, no lugar, constituir “um 
agrupamento nacionalista Brasil – EUA – (Rússia?) – (Índia?) – (Japão?) – (países de Visegrado?)”, 
em suma “um BRICS antiglobalista sem a China”. O futuro chanceler sugere ainda que o governo 
explore “a possibilidade de um núcleo composto pelos três maiores países cristãos, Brasil-EUA-
Rússia”.
Insuperável.

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