O teólogo Leonardo Boff acredita que a principal luta do povo brasileiro agora deve ser o
resgate do pacto social; 'Uma Constituição é um pacto social, que nós fazemos para 'um não
comer o outro'. Então, esse pacto social foi rompido com o impeachment contra a Dilma. Como
foi rompido, não vale a Constituição, não valem as leis, eles pintam e bordam, surram,
prendem", disse; para ele, que visitou Lula em Curitiba, o ex-presidente vem sendo usado
como "troféu, para sustentar as mentiras que fizeram, especialmente aquele desenho onde ele
era a cúpula de toda uma estratégia de corrupção"
Lia Bianchini, Brasil de Fato
O teólogo Leonardo Boff acredita que a principal luta do povo brasileiro no próximo
período é resgatar o pacto social rompido após o impeachment de Dilma Rousseff. Ele
esteve em Curitiba nesta segunda-feira (12) para visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) na Superintendência da Polícia Federal. Após a visita, o teólogo concedeu
entrevista coletiva à imprensa.
“Uma Constituição é um pacto social, que nós fazemos para 'um não comer o outro'. Então,
esse pacto social foi rompido com o impeachment contra a Dilma. Como foi rompido, não
vale a Constituição, não valem as leis, eles pintam e bordam, surram, prendem”, disse Boff.
Para o teólogo, a prisão do ex-presidente Lula é uma “vergonha para o Brasil e para o
sentido do Direito”, pois sua condenação foi baseada em um processo sem provas de
culpabilidade. Lula está preso na Superintendência da PF desde o dia 7 de abril, condenado
no âmbito da Operação Lava Jato, por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex
do Guarujá.
“Usam ele [Lula] como troféu, para sustentar as mentiras que fizeram, especialmente
aquele desenho onde ele era a cúpula de toda uma estratégia de corrupção. Seguram o
Lula preso para se autojustificar. Mas sabem que é mentira a questão do triplex. Eles
montaram uma narrativa que fez dele chefe de quadrilha, mas não conseguem trazer
nenhuma prova”, afirma Boff.
Além das violações jurídicas que envolvem o processo do ex-presidente Lula, para o
teólogo, a campanha eleitoral de 2018 mostrou um novo fator para desestabilização da
democracia brasileira, que foram as notícias falsas disseminadas pelas redes sociais.
Dez dias antes do segundo turno das eleições, o então candidato à presidência Jair
Bolsonaro (PSL) foi denunciado por receber financiamento ilegal de campanha, com
montante de mais de R$ 12 milhões. A denúncia divulgada pelo jornal Folha de São Paulo
mostrava que empresários estariam bancando a compra de pacotes de distribuição em
massa de mensagens contra o PT no Whatsapp.
“Ele [Bolsonaro] ganhou as eleições de forma fraudulenta, com aqueles milhões de notícias
falsas. É uma lição para nós, saber que as eleições futuras não vão ser mais de grandes
comícios, vão ser o manejo das mídias sociais, que nós temos que aprender a usar,
aprender a nos defender”, diz.
Aliado ao trabalho nas redes sociais, Boff entende também que existe a necessidade de
que os movimentos e organizações de esquerda voltem-se às suas bases e ao contato mais
próximo com o povo. Para o teólogo, a religião tem parte fundamental nesse processo, pois
o povo “entende o discurso religioso, porque eles manejam a Bíblia.
“Nós temos que retomar o trabalho na base, criar escolas de formação política. E o tema
central que nós vamos sempre bater será injustiça social no brasil. Não vamos falar só
desigualdade, porque é um tema neutro. Injustiça é um tema ético. Injustiça é pecado
contra Deus e contra os filhos e filhas de Deus”, diz.
Antes de visitar o ex-presidente Lula, Boff falou às pessoas presentes na Vigília Lula Livre,
que mantém-se em frente ao prédio da PF desde que o ex-presidente foi preso, há 220 dias.
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