quarta-feira, 7 de novembro de 2018

MORO NÃO ENTENDE... NENHUMA DE MÃOS LIMPAS ITALIANA


O que ele chama de "juiz" não é juiz . Quá, quá, quá!

Entrevista de Mario Cesar Carvalho com o Procurador 
Rodrigo Chemin, autor do livro "Mãos Limpas e a Lava Jato: 
corrupção se olha no espelho":
(...) Há alguma semelhança entre a ida de Sergio Moro para o Ministério da Justiça de 
Bolsonaro e a situação de procuradores italianos à época da Operação Mãos Limpas? 
Há alguma semelhança, sim, mas vejo mais diferença do que semelhança. A principal diferença é
que na Itália os que foram para o governo não eram juízes, mas procuradores da República. Há essa
confusão porque procuradores são chamados na Itália de juízes do Ministério Público. O segundo
ponto é que os procuradores recusaram o convite de Silvio Berlusconi. Dois anos depois, Antonio di
Pietro, que era o principal investigador das Mãos Limpas, se afasta da magistratura e aceita o convite
para o ministério das Obras Públicas. Não é o ministério da Justiça, como é o caso de Moro, nem era
o Berlusconi o primeiro-ministro, mas Romano Prodi. Ele demorou dois anos para aceitar. (...)
Moro disse em nota enviada a juízes que gostaria de ser como Giovani Falcone, que "fez 
grande diferença mesmo em pouco tempo". Isso é possível? 
Giovani Falcone foi um procurador da República. Eles chamam de juiz na Itália, mas não é juiz
propriamente dito. Ele conduziu o chamado Maxiprocesso contra a máfia nos anos 1980. É uma
investigação diferente da Operação Mãos Limpas. Ele finaliza a investigação no ano em que está
começando as Mãos Limpas, em 1992. Falcone estava tentando mudar a legislação antimáfia quando
sofre o atentado ordenado pela máfia e morre. (...)
O professor italiano Francesco Guerra desossou no site Next
analogia que Moro fez entre ele e o juiz italiano Giovanni 
Falcone.
Moro enviou mensagem à Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil) sobre sua decisão de
integrar o ministério de Jair Bolsonaro.
“Lembrei-me do juiz Falcone, muito melhor do que eu, que depois dos sucessos em romper a 
impunidade da Cosa Nostra, decidiu trocar Palermo por Roma, deixou a toga e assumiu o cargo de 
Diretor de Assuntos Penais no Ministério da Justiça, onde fez grande diferença mesmo em pouco 
tempo”, escreveu.
Falcone morreu assassinado em 1992 por Giovanni Brusca, a mando do mafioso Salvatore Riina.
Guerra criticou “o suposto legado de Giovanni Falcone” reclamado por Sergio Moro.
Alguns trechos*:
  1. A notícia é daquelas de tremer na base. Ontem, durante uma de minhas muitas andanças pela internet, acabei lendo uma epístola aos colegas e magistrados brasileiros do novo Superministro da Justiça Sergio Fernando Moro, o juiz-herói da Lava Jato. (…)
  2. Com base no que Moro se compara a Giovanni Falcone é, realmente, um mistério. Entre as hipóteses: a) ter sido mal aconselhado por alguém que conhece a história recente da Itália como eu a história de Uganda, b) foi traído por uma tradução equivocada do Google Translator, c) seu ego desmesurado.
  3. Infelizmente para Moro, no entanto, a comparação faz a água por todos os lados. É certamente verdade que Falcone perseguiu com sucesso a Cosa Nostra, uma vez que ele, juntamente com outros componentes do pool anti-máfia de Palermo, instruiu o julgamento da maior máfia maior da história. (…)
  4. Mas Falcone atraiu mais inveja, calúnias e venenos de todos os tipos do que os reconhecimentos ou celebrações públicos de Moro. (…)
  5. Abandonar o Judiciário não foi, portanto, uma manobra para irromper na política (…), mas uma escolha extremamente dolorosa (…)
  6. Um magistrado não deve ser apenas honesto, mas também parecer honesto. Houve até quem acusou Falcone, de maneira totalmente infundada, de defender os políticos, mantendo os documentos sobre os chamados crimes políticos de Palermo encerrados em gavetas. (…)
  7. Sergio Moro e sua gestão da Lava Jato, o chamado kit Lava Jato, para usar uma expressão do advogado Rodrigo Tacla Durán, investigação essencialmente política iniciada sistema judicial em 2014 pelo juiz de Curitiba ficam a uma distância abismal do magistrado italiano.
Em suma, o super-ministro Moro, bem como seus numerosos vassalos, devem ter a graça de deixar
em paz Giovanni Falcone, olhando possivelmente outros modelos de inspiração. Não é tão difícil
quanto parece, basta mover o olhar um pouco mais para o norte, de Palermo a Milão ou, talvez, na
direção de Montenero di Bisaccia.

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