quarta-feira, 7 de novembro de 2018

GILBERTO CARVALHO: GILMAR MENDES DISSE QUE PROCESSO CONTRA LULA 'NÃO PARA DE PÉ'


Gilberto Carvalho, um dos líderes do PT com ligação mais profunda com Lula e ex-secretário-
geral da Presidência revelou numa entrevista à BBC News Brasil que o todo-poderoso ministro 
do STF Gilmar Mendes confessou-lhe: o processo da Lava Jato contra no caso do tríplex "não 
para de pé"; segundo Carvalho, o STF ficou calado diante da ilegalidade evidente do processo 
por conta do calendário eleitoral. Leia a seguir a sequência de perguntas e respostas sobre a 
perseguição da Lava Jato a Lula:
Os processos contra Lula do tríplex e do sítio de Atibaia indicam um relacionamento de 
compadrio com empreiteiras, em que ele pode ter obtido benefícios, ou quase obtido. Como 
olhar esses demônios se o discurso é de que o Lula é totalmente inocente?
Eu não vejo contradição nenhuma nisso porque eu conheço o Lula e Lula efetivamente é inocente. O
Lula foi o presidente que tomou a iniciativa de estimular o desenvolvimento dos órgãos de controle,
e nunca, isso eu posso testemunhar porque eu convivi com ele oito anos na Presidência, nunca ele
pôs a mão na cabeça de ninguém. Ele sempre disse: "quem no meu governo errar será investigado,
não peça para não ser investigado". Tanto que ele viu cair (o ex-ministro Antônio) Palocci, cair Zé
Dirceu (ex-ministro e ex-presidente do PT). Até diziam que ele era pouco solidário.
O Lula focou o governo dele na questão da mudança do país, desenvolvimento econômico e tal, e
criou os mecanismos para que tudo fosse detectado. Muita coisa não foi detectada porque não havia
como chegar à Presidência informações que não chegam tão rapidamente, como o caso da Petrobras.
O erro que o Lula cometeu, que nós cometemos, foi ter convivido com pessoas que foram governo
com objetivo claro de se locupletar, e praticaram um monte de coisa que depois vieram pra nossa
conta, como é o caso da Petrobras. Lula não conhecia Paulo Roberto, não conhecia (Renato) Duque
(ex-diretores da estatal presos na Lava Jato).
E eu não concordo com afirmação de que teve compadrio. E o que ele fez, e aí sim se inclui no
conjunto do PT, foi aceitar e tolerar o financiamento empresarial de campanha. Mas vamos lembrar
que isso estava dentro da lei. Nunca o Lula se dirigiu a nenhum empresário, e falou "eu peço
dinheiro para você".
Mas tem as obras realizadas por empreiteiras no sítio de Atibaia (que não pertence a Lula 
formalmente, mas ele fazia uso), a própria questão do tríplex do Guarujá (que foi oferecido a 
Lula pela OAS e ele chegou a visitar antes de recursar)?
Elas se deram depois do governo dele, nunca durante o governo dele, na ciência dele.
Mas essas obras no sítio são um problema?
Não. Se fossem feitas durante o governo, seria um problema. Não foram feitas durante o governo
dele, ao menos com a ciência dele não foram feitas. O caso do tríplex foi uma oferta que não foi
aceita.
Não tenho dúvida nenhuma de que o processo contra o Lula foi um processo montado para tirá-lo do
jogo. São absolutamente ridículas as acusações contra o Lula a ponto de um juiz do Supremo como o
Gilmar Mendes dizer para mim pessoalmente: "o processo do tríplex não para de pé". Não sou eu
que falei isso. Qualquer juiz sabe disso. Só não agiram antes porque não queriam fazer interferência
no processo eleitoral.
Sérgio Moro pode ocupar o cargo de ministro da Justiça no governo Bolsonaro (o que foi 
confirmado na quinta-feira um dia após a entrevista). Como o senhor recebe essa notícia?
Essa notícia é apenas a confirmação de tudo que nós tínhamos falado. Há um processo de um
Judiciário que se tornou acusador. Um Judiciário que perdeu a imparcialidade e se tornou parte de
um processo de destruição de um projeto. É só isso. Ele aceitando ou não, para mim não importa
muito. O fato de o Bolsonaro convidá-lo é apenas a consolidação de que ele tem parte no processo e
que eles conseguiram tirar (Lula da eleição), nos derrotaram desse ponto de vista.
Moro e uma parte importante do Judiciário, aí incluída a segunda instância, estão afundados até as
botas nessa ação de destruir o nosso projeto, e não é pelos nossos erros, é pelos nossos acertos: em
função de nossa autonomia em relação aos Estados Unidos, o ferimento dos interesses das petroleiras
no pré-sal, o ferimento de interesses do sistema financeiro com as medidas que a Dilma tomou
sobretudo (de tentar reduzir os spreads bancários). O resto foram argumentos que foram se
acoplando para justificar perante a opinião pública uma ação criminosa, que, ao meu juízo, ao tentar
destruir o PT, acabou destruindo o Brasil.

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