segunda-feira, 26 de novembro de 2018

ENTREVISTA HADDAD: 'LULA TERIA VENCIDO AS ELEIÇÕES'


Em sua entrevista à jornalista Mônica Bergamo, Fernando Haddad disse que se Lula não fosse 
condenado sem provas, ele teria vencido as eleições. Ele afirma: "está claríssimo que, se não 
tivessem condenado o Lula num processo frágil, que nenhum jurista sério reconhece como 
robusto, ele teria ganhado a eleição. Eu fiz 45% dos votos [no segundo turno]. Ele teria feito 
mais de 50%"
HADDAD: COM BOLSONARO, ELITE BRASILEIRA 
MOSTROU AO MUNDO O QUE DE FATO É
Na primeira entrevista após as eleições, concedida jornalista Mônica Bergamo, do jornal Folha de 
S. Paulo, Haddad retoma sua previsão de que a direita estava consolidando um espaço político 
inédito até então no Brasil: "há dois anos, eu te dei uma entrevista. E talvez tenha sido um dos 
primeiros a dizer: 'É muito provável que a extrema direita tenha espaço na cena política nacional'. Eu 
dizia: 'Existe uma onda que tem a ver com a crise [econômica] de 2008, que é a crise do 
neoliberalismo, provocada pela desregulamentação financeira de um lado e pela descentralização das 
atividades industriais do Ocidente para o leste asiático'."
E sobre as perspectivas de libertação: "não saberia te responder. Estaria sendo leviano. Mas eu penso 
que a defesa do Estado democrático de Direito e de um julgamento justo para o Lula se confundem. 
A verdade é que as pessoas que não são do establishment não se sentem seguras no país hoje, seja 
num partido, na universidade, na escola, nas redações ou no movimento social."
Na reportagem do jornal Folha de S. Paulo, Haddad também comenta sobre a condição do ex-
presidente: "eu acredito que o Lula pós-eleição está num momento mais difícil. Mas a capacidade de 
regeneração dele é grande. Já superou um câncer, a perda da esposa, a privação de liberdade."
O candidato derrotado no segundo turno das eleições, Fernando Haddad, afirma que a classe 
dirigente brasileira perdeu a máscara com a eleição de Bolsonaro. Ele diz: "achava que a elite 
econômica não abriria mão do verniz que sempre fez parte da história do Brasil. As classes 
dirigentes nunca quiseram parecer ao mundo o que de fato são". Sobre Lula, ele destaca: "o Lula tem 
um significado histórico profundo. Saiu das entranhas da pobreza, chegou à Presidência e deixou o 
maior legado reconhecido nesse país. Ele teria força para conter essa onda"
Fernando Haddad, colocou em dúvida a condição de esquerda de Ciro Gomes e o PDT.
“O PDT [de Ciro] é um partido de esquerda, “pero no mucho”“, disse o petista à jornalista Mônica
Bergamo, da Folha.
Haddad, que obteve 45% dos votos válidos no segundo turno, afirmou ainda que Ciro errou ao
querer correr numa raia própria.
“Eles [PDT e Ciro] não queriam ser vistos como a continuidade do que julgavam decadente.
Apostavam que, com Lula preso, o PT não teria voto a transferir. Aconteceu exatamente o oposto”,
relatou o ex-candidato do PT.
Também, Haddad avança na compreensão do que significa democracia neste momento histórico: 
"ditadura e democracia eram conceitos bem definidos. Os golpes se davam de fora da democracia 
contra ela. Hoje, o viés antidemocrático pode se manifestar por dentro das instituições. Ele pode se 
manifestar na Polícia Militar, na Polícia Federal, no Judiciário, no Ministério Público."
E complementa: "o projeto Escola Sem Partido é um projeto autoritário que está nascendo dentro da 
democracia. O STF pode barrá-lo. Os pesos e contrapesos de uma República moderna vão operar? 
Se não operarem, você tem o modelo híbrido, com o autoritarismo crescendo por dentro. Estamos já 
vivendo em grande medida esse modelo."
Na reportagem do jornal Folha de S. Paulo Fernando Haddad comenta sobre os evangélicos. Ele diz: 
"há estudos mostrando que, se eu tivesse no mundo evangélico o mesmo percentual de votos que tive 
no mundo não evangélico, eu teria ganho a eleição". Ele relembra o fim da ditadura como elemento-
chave para um diálogo possível com o setor evangélico: "assim como no final da ditadura foi 
possível abrir um canal de diálogo com a Igreja Católica, a esquerda tem agora o desafio de abrir um 
canal com a igreja evangélica, respeitando suas crenças. "a pauta regressiva afeta esse mundo de 
forma importante. Há um fenômeno evangélico sobre o qual temos que nos debruçar. Não podemos 
dar de barato que essas pessoas estão perdidas. 'A Ética Protestante e o Espírito Capitalista' é um 
clássico do Max Weber. A gente deveria pensar na 'Ética Neopentecostal e o Espírito do 
Neoliberalismo'.”
Haddad prossegue: "o Brasil, estruturalmente, é um híbrido entre casta com meritocracia. Se admite 
que o indivíduo ascenda. Mas sozinho. Desde que a distância entre as classes permaneça. O 
neopentecostalismo e a teologia da prosperidade são compatíveis com isso."

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