Academias militares precisam de escolas com partido democrático
e-mail do professor Wanderley Guilherme dos Santos:Tanto a entrevista do general Villas Bôas quanto as ideias do Moro parecem expressar formas de
violentar a Democracia como se a estivessem defendendo.
A do Villas Bôas, em particular, é assustadoramente superficial em matérias muito complexas.
A explicação sobre o cerco ao Supremo no julgamento do Lula é estapafúrdia: caso não houvesse um
A do Villas Bôas, em particular, é assustadoramente superficial em matérias muito complexas.
A explicação sobre o cerco ao Supremo no julgamento do Lula é estapafúrdia: caso não houvesse um
golpe no limite haveria um golpe sem limite.
Essa tese dá ao comandante militar o poder de arbitrar quando é necessário um semi golpe
Essa tese dá ao comandante militar o poder de arbitrar quando é necessário um semi golpe
preventivo para evitar um golpe inteiro fora da cadeia hierárquica.
Que doutrina é essa?
Precisamos de escolas com partido democrático nas academias militares.
Wanderley Guilherme dos Santos
Precisamos de escolas com partido democrático nas academias militares.
Wanderley Guilherme dos Santos
O amigo navegante se lembra da intervenção militar do Gal. Villas Bôas: estacionou tanques na porta
do Supremo antes de julgar o que chama de "a questão do Lula".
Ou seja, a liberdade de um ex-presidente que não cometeu crime.
Nesse domingo, numa entrevista Villas Boas admitiu que esteve no limite do Golpe de Estado e se
Ou seja, a liberdade de um ex-presidente que não cometeu crime.
Nesse domingo, numa entrevista Villas Boas admitiu que esteve no limite do Golpe de Estado e se
orgulha de o William Bonner ler seu histórico Twitter!
(...) Folha: Desde que o presidente foi eleito, ele tem buscado fazer gestos simbólicos de
deferência à Constituição e à democracia. Ao mesmo tempo, ele tem feito ameaças explícitas a
órgãos de imprensa, como este jornal e outros, que não falem o que ele considera ser a verdade.
Aliás, ele sempre fala em verdade...
Villas Bôas: Uma coisa meio messiânica, né?
Folha: Isso. Mas enfim, é compatível a defesa da democracia e esses chutes na canela de instituições
Folha: Isso. Mas enfim, é compatível a defesa da democracia e esses chutes na canela de instituições
que fazem parte da democracia?
Villas Bôas: Acho que, se nós olharmos da perspectiva dele, esse é um marketing que ele faz em
Villas Bôas: Acho que, se nós olharmos da perspectiva dele, esse é um marketing que ele faz em
torno de si, que explora.
Eu não creio que ele vá materializar isso a ponto de ameaçar o funcionamento das instituições.
O país está amadurecido, tem um sistema de freios e contrapesos que não permite que essas coisas
Eu não creio que ele vá materializar isso a ponto de ameaçar o funcionamento das instituições.
O país está amadurecido, tem um sistema de freios e contrapesos que não permite que essas coisas
prosperem a ponto de ameaçar a eficiência do processo democrático.
Folha: O seu comando foi marcado pela moderação em momentos de crise, que foram vários. Como
o sr. analisa o período? O que considera sua melhor marca e onde não deu certo?
Villas Bôas: Nós assumimos em fevereiro de 2015 e logo em seguida começou a crise que resultou
no impeachment. Começou uma instabilidade, e ao mesmo tempo surgiu a demanda crescente pela
tal da intervenção militar.
Intervenção militar constitucional, até hoje não descobri como é que faz isso. Até houve discussões
de juristas sobre isso, que o Exército teria um mandato para intervir, e isso foi verbalizado pelo
general Mourão, gerando uma pequena crise [em 2015].
Em função dessa pressão, elaboramos diretrizes que transmiti internamente e que passaram a
Em função dessa pressão, elaboramos diretrizes que transmiti internamente e que passaram a
preencher espaço externamente. A conduta seria baseada em três pilares.
Primeiro, a manutenção da estabilidade. Segundo, a legalidade: o Exército jamais agiria fora de
Primeiro, a manutenção da estabilidade. Segundo, a legalidade: o Exército jamais agiria fora de
preceitos legais, dentro do artigo 142 da Constituição e leis subordinadas.
O terceiro pilar, a legitimidade, que o Exército foi acumulando ao longo dos tempos exatamente pelo
O terceiro pilar, a legitimidade, que o Exército foi acumulando ao longo dos tempos exatamente pelo
posicionamento apolítico.
Caso fôssemos empregados, jamais poderíamos ter essa intervenção interpretada como favorecendo
Caso fôssemos empregados, jamais poderíamos ter essa intervenção interpretada como favorecendo
um lado ou outro. Temos imparcialidade.
Os militares da reserva, com muita frequência, têm influência. Foram comandantes, instrutores do
Os militares da reserva, com muita frequência, têm influência. Foram comandantes, instrutores do
pessoal da ativa. Então quando eles se pronunciam, isso muitas vezes repercute interna e
externamente.
Eu precisei ter o domínio da narrativa. Por isso, às vezes nós éramos mais enfáticos na expressão,
Eu precisei ter o domínio da narrativa. Por isso, às vezes nós éramos mais enfáticos na expressão,
sempre no limite para não invadir o espaço de outras instituições.
Eu reconheço que houve um episódio em que nós estivemos realmente no limite, que foi aquele tuíte
Eu reconheço que houve um episódio em que nós estivemos realmente no limite, que foi aquele tuíte
da véspera do votação no Supremo da questão do Lula.
Ali, nós conscientemente trabalhamos sabendo que estávamos no limite. Mas sentimos que a coisa
Ali, nós conscientemente trabalhamos sabendo que estávamos no limite. Mas sentimos que a coisa
poderia fugir ao nosso controle se eu não me expressasse. Porque outras pessoas, militares da reserva
e civis identificados conosco, estavam se pronunciando de maneira mais enfática. Me lembro, a
gente soltou [o post no Twitter] 20h20, no fim do Jornal Nacional, o William Bonner leu a nossa nota. (...)
SIC....Ao fim de carreira, o general admite, melancolicamente, que não tinha o comando de sua
Força. Teve medo de “pronunciamentos enfáticos” de militares da reserva e até de “civis
identificados conosco” que, aliás, foi falha imperdoável da reportagem não indagar quem seriam
estes “generais de terno e gravata”.
Villas-Boas passa, na entrevista, a nítida impressão de que quer se eximir do desastre que será, para
nossas Forças Armadas, serem mais que comandadas, identificadas com um ex-capitão oportunista, a
quem não teve coragem ou competência para afastar dos oficiais generais que saíam (saíam?) do
Alto Comando do Exército diretamente para o “baixo comando” bolsonarista, sem nenhum objetivo
estratégico que não o de abocanhar parte do poder e impor um discurso conservador que, a esta
altura, nem tem como se sustentar por meios próprios, tanto que tem de se servir de Sérgio Moro
para dar operacionalidade à repressão política.
Chamei aos generais bolsonaristas de “baixo comando” porque, a esta altura, é impossível deixar de
perceber que é Bolsonaro quem tem, afinal, prestígio com a tropa, pela sua inserção nela, inclusive
no baixo oficialato a quem, durante anos, deixaram cacifar-se, o que seria evitável pelo conceito
simples e direto que sobre ele lançou o ex-presidente general Ernesto Geisel: “é um mau militar”,
por lhe faltarem, escandalosamente, as noções de hierarquia e disciplina essenciais às estruturas
castrenses.
Nem é preciso falar, claro, na gratuita humilhação a que, com a confirmação de sua “ordem tuitada” – claramente expressa na entrevista – submeteu o Supremo Tribunal Federal.
No final das contas, a corte suprema cometeu o mesmo erro suicida ao deixar Sérgio Moro
transformar-se em personificação do Judiciário, tal como o Exército deixou Bolsonaro transformar-se
em sua encarnação pública.
Daí a razão de Janio de Freitas, na Folha, preocupar-se com “o risco de [o Exército] ser identificado
com possíveis insucessos de Bolsonaro e seu governo”, algo que hoje não é preciso mais que um
pouco de bom-senso para se prever.
Dificilmente haverá no comando, ao menos do Exército, um núcleo capaz de preservá-lo deste
desastre.
Ao contrário, parece que, pela fraqueza de seus comandos, como o de Villas-Boas, atenderá às
ordens de “civis identificados” com ele, transformando-o em milícia de um projeto político, seja lá
que desastre for.
Força. Teve medo de “pronunciamentos enfáticos” de militares da reserva e até de “civis
identificados conosco” que, aliás, foi falha imperdoável da reportagem não indagar quem seriam
estes “generais de terno e gravata”.
Villas-Boas passa, na entrevista, a nítida impressão de que quer se eximir do desastre que será, para
nossas Forças Armadas, serem mais que comandadas, identificadas com um ex-capitão oportunista, a
quem não teve coragem ou competência para afastar dos oficiais generais que saíam (saíam?) do
Alto Comando do Exército diretamente para o “baixo comando” bolsonarista, sem nenhum objetivo
estratégico que não o de abocanhar parte do poder e impor um discurso conservador que, a esta
altura, nem tem como se sustentar por meios próprios, tanto que tem de se servir de Sérgio Moro
para dar operacionalidade à repressão política.
Chamei aos generais bolsonaristas de “baixo comando” porque, a esta altura, é impossível deixar de
perceber que é Bolsonaro quem tem, afinal, prestígio com a tropa, pela sua inserção nela, inclusive
no baixo oficialato a quem, durante anos, deixaram cacifar-se, o que seria evitável pelo conceito
simples e direto que sobre ele lançou o ex-presidente general Ernesto Geisel: “é um mau militar”,
por lhe faltarem, escandalosamente, as noções de hierarquia e disciplina essenciais às estruturas
castrenses.
Nem é preciso falar, claro, na gratuita humilhação a que, com a confirmação de sua “ordem tuitada” – claramente expressa na entrevista – submeteu o Supremo Tribunal Federal.
No final das contas, a corte suprema cometeu o mesmo erro suicida ao deixar Sérgio Moro
transformar-se em personificação do Judiciário, tal como o Exército deixou Bolsonaro transformar-se
em sua encarnação pública.
Daí a razão de Janio de Freitas, na Folha, preocupar-se com “o risco de [o Exército] ser identificado
com possíveis insucessos de Bolsonaro e seu governo”, algo que hoje não é preciso mais que um
pouco de bom-senso para se prever.
Dificilmente haverá no comando, ao menos do Exército, um núcleo capaz de preservá-lo deste
desastre.
Ao contrário, parece que, pela fraqueza de seus comandos, como o de Villas-Boas, atenderá às
ordens de “civis identificados” com ele, transformando-o em milícia de um projeto político, seja lá
que desastre for.
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