sábado, 6 de outubro de 2018

TOFFOLI, A HISTORIA NÃO TEM PIEDADE COM COVARDES

Não é novidade para ninguém que o Brasil vive há dois anos sob uma ditadura chefiada por 
um preposto chamado Michel Temer.
POR FERNANDO MORAIS
Quem tiver a pachorra de correr os olhos pelos arquivos do Nocaute verá que há dois anos nós temos 
chamado esse governo postiço pelo seu nome real: ditadura.
Ontem, porém, tive a infelicidade de viver na pele os efeitos da ditadura que tanto denunciamos. O 
único consolo foi ter como companhia o Mino Carta, diretor da revista Carta Capital e um dos mais 
talentosos e corajosos jornalistas do Brasil.
Mino e eu somos amigos de Lula há quarenta anos. A primeira vez que Lula apareceu na capa de 
uma revista, no final dos anos 70, foi por obra e iniciativa de Mino. E a mim quis o destino que eu 
testemunhasse, ao lado de Lula, a intervenção manu-militari no sindicato dos metalúrgicos do ABC, 
que ele presidia, em uma madrugada de abril de 1980.
Dias depois, Lula estava preso.
Ontem Mino e eu viajamos a Curitiba para uma visita ao amigo preso na Polícia Federal local.
Metade do tempo destinado ontem às visitas, o que ocorre sempre às quintas-feiras, Lula destinou a 
receber seus familiares. A outra metade ele reservou para nos receber, ao Mino e a mim.
Que fique claro que solicitamos a visita e lá estávamos na condição de amigos, não no exercício de 
nossa profissão de jornalistas. Nenhum de nós levava uma câmera, um gravador, um celular, uma 
caderneta – um lápis sequer.
Não era a visita de dois repórteres, mas de dois amigos que não viam Lula há exatos 180 dias, tempo 
em que esle está preso. Injustamente preso, nunca é demais sublinhar.
Ao chegarmos ao prédio da Polícia Federal, pontualmente às quatro da tarde, fomos informados de 
que “havia problemas” e que estávamos proibidos de visitar Lula.
Que problemas?
Qual um ectoplasma em terreiro de macumba, baixou em Curitiba o despacho do presidente do 
Supremo, Dias Toffoli, de quatro dias atrás, proibindo Lula de conceder entrevistas.
Não cabe aqui perder tempo com a prolixa chorumela do despacho ilegal e inconstitucional do 
ministro Toffoli datado de primeiro de outubro.
Em dúvidas sobre se, por sermos jornalistas, Mino e eu estávamos ou não incluídos na proibição de 
Toffoli, a Polícia Federal decidiu consultar o juiz da Vara de Execuções Penais de Curitiba.
Certamente diante da dúvida shakespeariana – permito ou proíbo a visita? – o Meritíssimo preferiu 
uma decisão a la Pilatos: na fila, antes da consulta feita pela Federal ele tinha alguns processos 
esperando e, e portanto, a visita estava proibida.
Mino e eu – ele em doses infinitamente mais cruéis – fomos vítimas da Censura imposta no Brasil 
pela ditadura militar de 64.
Ontem experimentamos a pesada mão da ditadura togada. O despacho do ministro Toffoli – alguém 
que balbucia até para ler sentenças escritas – confirma o que todos já sabíamos: sobreviventes da 
ditadura fardada, Mino e eu estávamos sendo vitimados pela ditadura togada.
Não importa que os bajuladores e capachos de plantão absolvam Toffoli pelo mal que ele fez não a 
mim nem ao Mino. Sim, porque ao silenciar Lula, ele está silenciando o Brasil.
Não importa que Toffoli seja absolvido por seus acólitos.
A História o condenará.

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