quinta-feira, 4 de outubro de 2018

LEWANDOWSKI DESCREVE MORO/ROBESPIERRE/BOLSONARO

Na foto, flagrante da atuação da Lava Jato em 1789, em Paris
Oxalá Brasil escape do risco dos paladinos da virtude
Por Ricardo Lewandowski
Ruth Scurr, historiadora e crítica literária inglesa, em seu instigante livro "Pureza Fatal", convida os 
leitores a uma reflexão sobre o destino daqueles que, no exercício do poder ou de uma parcela dele, 
se arrogam o papel de paladinos da virtude.
A autora traça a biografia de Maximilien de Robespierre (1758-1794), um dos principais líderes da 
Revolução Francesa do fim do século 18, que se tornou uma das figuras históricas mais controversas 
da era moderna.
A obra reconstitui a vida daquele modesto advogado provinciano que, em meio ao turbilhão político 
resultante da derrubada da monarquia absolutista e seu séquito de aristocratas decadentes, se 
transformou num implacável perseguidor daqueles que considerasse venais ou antirrevolucionários, 
enviando-os sem titubear para a guilhotina.
Denominado pelos admiradores de "incorruptível", tinha poucos amigos, era circunspecto e arredio. 
Embora não conste que tenha sido subornado, terminou corrompido pela soberba e vaidade. Sua 
dramática trajetória retrata as contradições do próprio movimento revolucionário, que com mão de 
ferro conduziu por um breve e tormentoso período.
Integrante da facção dos jacobinos, a ala mais radical dos insurgentes, empenhou sua vigorosa 
eloquência para defender a condenação do rei Luís 16 à morte. Consolidou seu domínio instituindo o 
Comitê de Salvação Pública e a longa manus deste, o Tribunal Revolucionário, instrumentos que 
empregou para perseguir adversários, nos quais se incluíam os girondinos, de postura menos 
extremada.
Foi responsável pela instauração do Terror, regime sob o qual milhares de pessoas foram 
guilhotinadas, inclusive Georges Danton (1759-1794), um dos principais dirigentes do levante, 
porém mais conciliador.Acabou destituído pela força e, em seguida, decapitado a mando de seus 
inimigos e antigos correligionários, fartos das arbitrariedades que perpetrou.
Os meritórios ideais que inspiraram os revolucionários franceses, expressos no lema "liberdade, 
igualdade e fraternidade", depois manipulados para combater supostos desvios éticos, foram logo 
suprimidos pelo jovem e ambicioso general Napoleão Bonaparte (1769-1821), o qual instaurou uma 
ditadura, aplaudida pelo povo, cansado dos intermináveis expurgos promovidos pelos jacobinos e 
também receoso do retorno da nobreza deposta.
Após diversas conquistas militares que desestabilizaram a Europa, Napoleão foi derrotado por uma 
coalizão de países, liderados pela Inglaterra, sendo preso e exilado na ilha de Santa Helena, onde 
acabou morrendo longe de tudo e de todos.
A lição extraída pelos estudiosos dessa singular época de desmandos e desatinos, cometidos a 
pretexto de restaurar a moral e os bons costumes, é que os puritanos de plantão quase sempre são 
substituídos por outros, autoproclamados salvadores da pátria. Já a normalidade institucional só é 
reconstituída após muitas lutas e provações, que não raro se estendem por várias gerações.
Oxalá possa o Brasil escapar desse fatídico vaticínio e trilhar, com desassombro, os rumos da 
plenitude democrática, cujo pressuposto é a livre manifestação da vontade popular, única legitimada 
para estabelecer os valores que balizam os rumos da nação.

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