Reportagem de Leandro Prazeres e Luís Adorno no UOL:
As autoridades estaduais e federais brasileiras têm indícios de que as facções criminosas que atuam
no país já agem para tentar influenciar o processo eleitoral em pelo menos nove estados, espalhados
pelas cinco regiões do Brasil, segundo documentos e relatos obtidos pelo UOL.
Essa relação pode ser ainda maior porque, na grande maioria dos casos, as investigações sobre as
Essa relação pode ser ainda maior porque, na grande maioria dos casos, as investigações sobre as
tentativas das facções de se infiltrarem no mundo político são conduzidas sob enorme sigilo.
De acordo com o coordenador-geral de Defesa Institucional da Polícia Federal, Thiago Borelli, o
temor de que as facções influenciem as eleições nunca foi tão grande. "Nossa preocupação é maior
neste ano. Infelizmente, em que pese os esforços para reprimir a criminalidade, a gente percebe que
houve um crescimento no poder das facções no país", diz Borelli.
O delegado acrescenta que as três principais preocupações das autoridades em relação à ação das
facções nas eleições são: financiamento ilegal de candidatos ou partidos, candidaturas de integrantes
de facções ou de pessoas ligadas a elas, e ainda a capacidade de coagir eleitores a votar em
candidatos apoiados por essas organizações.
(...) Investigadores de São Paulo e Rio de Janeiro revelaram que pelo menos 20 candidatos (dez em
cada estado) são investigados por suas supostas ligações com facções criminosas como o CV
(Comando Vermelho) e o PCC (Primeiro Comando da Capital).
O tema é tratado com sigilo pela maioria das pessoas envolvidas nos casos. Em São Paulo, a polícia
tenta identificar os objetivos da ligação entre os candidatos com criminosos.
Um dos casos que chamou a atenção dos investigadores foi a candidatura de um filiado ao PTC,
partido do senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello. Segundo promotores, ele é irmão de
um rapper que mantém ligações com o PCC. Os nomes da dupla foram mantidos sob sigilo para não
prejudicar as investigações.
Enquanto essas suspeitas ainda são investigadas, o MP e a Justiça de SP afirmam que já há pelo
menos um caso concreto de ligação entre o PCC e a política em território paulista: Ney Santos
(PRB), eleito prefeito de Embu das Artes em 2016.
Santos teve duas passagens criminais pela polícia antes de virar prefeito. Em 1999, ele foi preso por
receptação e formação de quadrilha. Em 2003, por roubo a banco. Em 2005, foi solto por falta de
elementos probatórios, sem nunca ter sido condenado criminalmente.
Em 2009, ele se filiou ao PSC e, três anos depois, foi eleito vereador. Em 2016, foi acusado pelo
Ministério Público de integrar o PCC e de ter cometido os crimes de lavagem de dinheiro e
associação ao tráfico de drogas. Mas, em outubro daquele ano, acabou eleito prefeito da cidade.
Santos só assumiu a gestão municipal porque conseguiu uma liminar expedida pelo ministro Marco
Aurélio Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal). Em 2018, porém, ele foi declarado inelegível e
afastado do cargo, a partir de uma ação por abuso de poder econômico.
(...)
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