segunda-feira, 3 de setembro de 2018

ANALISE: HADDAD É A TENTATIVA DO PT DE REINGRESSAR NA ORDEM


Wanderley: quem vai pra cima dos predadores e entreguistas?

FACE A FACE COM O ELEITOR 
O golpe de 2016 impediu Dilma Rousseff e expulsou as forças populares do circuito do poder. Fiz esse diagnóstico em Democracia Impedida, publicado em 2017. Desde então o tabuleiro foi sacudido e nenhuma das pedras conquistou posição invulnerável.

A fórmula conservadora sustenta que é preciso mudar alguma coisa para que tudo permaneça como está. Minha fórmula para identificar os progressistas liberais é a de que, para eles, “tudo precisa continuar como está para algo mudar”. Parece a mesma, mas na fórmula dos conservadores são eles que dizem o quê e como mudar; na dos liberais progressistas, são estes que decidem o que continuará como está. Raramente uma peça coadjuvante interfere no conchavo entre conservadores e liberais progressistas. Quando surge, é ela a peça de efetiva oposição às regras estruturais, mais do que à simples competição na margem.

Os conservadores contam com três participantes no jogo: Jair Bolsonaro, Marina Silva e Geraldo Alkmin. O destemperado Bolsonaro foi contido pela didática de Paulo Guedes e só os rudes acreditam que vá distribuir armamentos ou castrar homossexuais. O conservadorismo de Guedes é extremista de outro modo: propõe substituir o que está aí em sentido ainda mais devastador para a economia e soberania populares, mantendo a essência imutável.

Marina Silva dispõe-se a defender o status quo promovendo reformas selecionadas, desde que a preservação e as reformas incluam o critério da sustentabilidade. A arbitrariedade do critério só é inferior à da graça da intimidade com a vontade divina, monopólio dos pós-graduandos em teologia. À parte a indignação contra escandalosas iniquidades da ordem, Marina investe na permanência dela.

Geraldo Alkmin é o conservador clássico. Polido com os grupos de interesse, não hesita em tornar-se bolsonariano se a exacerbação das demandas populares lhe parecerem ameaçadoras. Basta lembrar o início do vandalismo policial em junho de 2013. Talvez seja desafiado por um Collor retardatário, João Amoedo, do Partido Novo.

O liberalismo progressista – deixar tudo como está e alterar o possível – resultou da metamorfose do Partido dos Trabalhadores ao chegar ao poder e topar com a dura oposição dos conservadores. Os defensores da ordem não seguem regras contratuais, como ocorre nos acordos coletivos de trabalho e acertos de convivência são inevitáveis. Acertos cujos termos dependem mais da força social do que dos números eleitorais.

Lula obteve mudanças nas margens do sistema, embora vitais para os beneficiados, mantendo intacta a estrutura de extração de mais valor nas indústrias e nas transações bancárias. Foi o melhor acordo fechado, suficiente para transformá-lo no mais amado governante brasileiro. Ainda assim, escapou por pouco de um golpe em 2005.

Dilma não escapou. Depois da crise internacional de 2008, e apesar de drástica redução de recursos, Dilma expandiu os programas sociais. O lance foi inaceitável pelo conservadorismo, temeroso de uma efetiva redistribuição de renda. Caiu e cairia, mesmo se mais competente na administração da crise, ao contrário das fantasias dos críticos de massa falida. Dilma caiu por romper o pacto firmado pelo hábil metalúrgico. Haddad é tentativa de reingresso na ordem, solidário à estrutura vigente, mas aliviando as populações marginais da ordem.

Onde se encontram as propostas de mudanças estruturais afetando as posições dos predadores da economia e da soberania nacionais? – Assistam aos debates.

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