sábado, 4 de agosto de 2018

GENERAL ADMITE: "INTERVENSSÃO TABAJARA" É UM FIASCO


General confessa fiasco da intervenção no RJ
no blog do jornalista Kennedy Alencar:
O general Richard Nunes, secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, disse hoje com todas as
letras que não faz sentido manter a intervenção federal no Estado a partir de janeiro. Foi a mais
contundente manifestação a respeito da intervenção feita por um alto integrante das Forças Armadas.
Os militares consideram que se meteram num atoleiro, numa espécie de Vietnã. No mérito, eles estão
certos. Querem dar o fora. Mas a decisão caberá ao poder civil. No caso, ao próximo presidente, na
hipótese de Michel Temer não encerrar a intervenção antes do término do seu mandato. É o que
Temer deveria fazer, porque a medida não deu certo.
De fato, a presença das tropas do Exército no Rio de Janeiro, com toda sua pirotecnia bélica exibida
pela mídia venal, foi um completo fiasco. Ela foi imposta como uma manobra diversionista do
governo golpista, que temia a derrota na votação da “reforma” da Previdência. O medo da sociedade
diante do aumento da violência também foi utilizado para tentar reanimar o vampiro Michel Temer,
que bate recordes de impopularidade. As vozes críticas, que foram abafadas pela imprensa chapa-
branca, sempre advertiram que a intervenção militar não teria qualquer eficácia. Pelo contrário: ela
tendia a aumentar a violência e desgastar ainda mais a imagem das Forças Armadas.
Estudo do Instituto de Segurança Pública (ISP), divulgado em meados de julho, confirmou o
desastre. “Comparando os dados que compõem o indicador ‘letalidade violenta’ de janeiro a maio
deste ano, com o mesmo período do ano passado, contatou-se que as mortes violentas subiram em
quase todas as regiões do estado. Houve aumento de homicídios dolosos, lesões corporais seguida de
morte, latrocínio e autos de resistência. No período de janeiro a maio deste ano, foram registrados
3014 mortes em todo o estado, contra 2958 no ano passado. Uma análise dos números do Instituto
denuncia uma explosão de mortes bárbaras no interior do Rio. Foram 827 casos deste tipo - 147 a
mais do que no mesmo período do ano passado”, registrou o Jornal do Brasil.
Conforme apontaram vários especialistas ouvidos pela mesma reportagem, esta tragédia já era
esperada. “Para o coronel da reserva Robson Rodrigues, ex-chefe do Estado maior da PM e
doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, os dados comprovam que a
estratégia de segurança pública continua equivocada. ‘Os baixos resultados da intervenção
expuseram que a repressão sem inteligência não resolve nada. Cresceu o número de operações, mas
não o de investigações. Há uma baixa taxa de elucidação de crimes’, critica. ‘Isso se confirma pelo
plano estratégico da intervenção, que sequer cita a maior necessidade de investir em perícia’. Para o
sociólogo João Trajano Sento Sé, do Laboratório de Análise da Violência, da Uerj, o crescimento de
mortes após a intervenção não surpreende. ‘A abordagem da violência só com as ações militares não
produz resultados desejáveis. Só se produz mortes’, detona.
"DITADURA IDEALIZOU MODELO ATUAL DAS MILICIAS"

"Na lógica militarizada, policial é apenas um cumpridor de 
ordens", afirma pesquisador
Milícias tiveram seu embrião nos esquadrões da morte apoiados pela ditadura, afirma 
sociólogo. Em entrevista, ele rejeita a ideia de poder paralelo, apontando que grupos fariam 
parte da "dimensão ilegal do Estado".Os últimos anos testemunharam um acelerado 
crescimento das milícias no Rio de Janeiro: elas expandiram seu rol de atividades econômicas e 
se fortaleceram politicamente. Esse fenômeno está sendo gestado há décadas, afirma o 
sociólogo José Cláudio Alves, pesquisador da atuação de grupos paramilitares e professor na 
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Em entrevista à DW Brasil, ele diz que a incorporação de grupos de extermínio à estrutura do Estado
é um legado do regime militar, mais especificamente dos esquadrões da morte - grupos compostos
por policiais que, à margem da lei, torturavam e executavam pessoas que considerassem suspeitas
nas periferias de Rio de Janeiro e São Paulo.
Alves aponta a incapacidade do regime democrático de superar esse legado. "Pelo contrário, é como
se você tivesse saído do aquário do regime militar e entrado no oceano da democracia", afirma. "A
estrutura militarizada da polícia é que permite sua transformação nisso que é hoje. Não há qualquer
controle social ou jurídico sobre ela."
DW Brasil: Documentos indicam que a cúpula da ditadura apoiou os esquadrões da morte. Quais
são as consequências disso hoje?
José Cláudio Alves: As formas de poder que se perpetuaram no Brasil desde que ele se constituiu
são calcadas na desigualdade e na segregação de grupos sem acesso à segurança, um dos bens mais
preciosos e caros desse país. Foi construído um totalitarismo socialmente reconhecido, como são os
esquadrões da morte. Os grupos dominantes se valem dessa estrutura sanguinária para se
perpetuarem, eliminar seus inimigos e silenciar qualquer reação. Assim, submetem grandes
conjuntos da população ao medo e ao silêncio.
A ditadura civil-militar foi capaz de organizar essa estrutura muito próxima dos moldes que temos
hoje nas milícias. No início da organização da economia política do crime organizado, o regime
cumpriu o papel de projetar esses grupos, fortalecê-los, mostrar a viabilidade deles e a eficiência que
eles têm no papel de controle político, econômico e social. A ditadura foi a grande idealizadora de
um modelo que foi evoluindo até chegar aos nossos dias, em que temos as milícias.
Quando a lógica do justiçamento começou a ganhar força na sociedade?
A operação dos grupos de extermínio nessa dimensão mais ampla, na lógica do "bandido bom é
bandido morto", só ocorre mesmo com a formação dos esquadrões da morte, no fim dos anos 1960.
Nesse momento, é feito todo um trabalho de propaganda. Circulam imagens de cadáveres de pessoas
assassinadas com plaquinhas dizendo que eles iriam assaltar bancos, roubar. Tem início a construção
de um imaginário que é o mais simples possível: se a pessoa foi morta daquela forma, é porque
estava vinculada a alguma estrutura de crime, banditismo. Logo, merecia aquele destino. A vítima se
transforma em réu. Os autores daquelas mortes ganham um respaldo social. Sem acesso a nenhuma
forma de segurança, a população mergulha nessa lógica. De lá para cá, essa estrutura só se
aprofundou.
O tráfico de drogas, por sua vez, constitui uma resposta para uma massa que nunca foi incorporada à
economia e nem tem como ser. Esses grupos sociais veem no tráfico uma grande possibilidade de
obtenção de ganhos. A lógica da execução sumária se amplia principalmente na busca da eliminação
deles, mais uma vez se respaldando em grupos ilegais criminosos que vão fazer essa prática - e a
própria polícia que, de um tempo para cá, adota essa lógica da execução sumária.
Nós vemos relatos de policiais mortos, mas não tem comparação com os grupos ligados ao tráfico,
que são executados muito mais e em proporção muito maior, porque são os mais pobres - negros,
favelizados, a massa de eliminação que mantém aquecido o mercado das drogas.
Não é problemática essa generalização dos policiais?
O policial da ponta ou acaba se associando a essa dimensão ilegal e criminosa para poder, também,
obter o seu ganho, ou corre permanentemente o risco de ser eliminado - seja pelos companheiros de
farda ou pelos demais membros dessa estrutura, como o tráfico ou a milícia. Esse policial, na lógica
militarizada, não tem como falar o que pensa, rejeitar, resistir ou constituir uma outra dimensão de
segurança pública não calcada na execução sumária, no suborno e na corrupção. Ele é apenas um
cumpridor de ordens. O máximo que vai poder fazer é tentar galgar essa hierarquia para também se
beneficiar dela, mas são poucos que conseguem isso. Ele acaba operando na ponta da estrutura, na
lógica do matar ou morrer, do ganho ilegal ao qual vai se submeter.
É uma estrutura absolutamente corrompida. Seus primórdios estão no período da ditadura civil-
militar, mas a democratização não foi capaz de arranhar essa estrutura. Pelo contrário, é como se
você tivesse saído do aquário do regime militar e entrado no oceano da democracia. Há a ampliação
de todas essas dimensões e a ampliação desses grupos, com seus ganhos maximizados. Foi isso que a
democracia permitiu. Essa estrutura militarizada da polícia é que permite sua transformação nisso
que é hoje. Não há qualquer controle social ou jurídico sobre ela.
Se são agentes públicos, por que o Estado não combate esses grupos?
A atuação dos esquadrões da morte no regime militar e a atuação das milícias no regime democrático
nada mais são do que essa face ilegal do Estado que o projeta numa proporção muito maior do que se
poderia imaginar. Esse controle ilegal é totalitário absoluto. Na estrutura da assim dita democracia,
temos esses grupos atuando numa dimensão política de execução sumária e perpetuação daqueles
que ganham com essa estrutura. Este é o maior nó no qual estamos envolvidos hoje.
Não há mais uma dimensão centralizada de poder que possa ser atribuída a um regime ditatorial. O
que se tem é uma pulverização dessas estruturas de poder. O Estado gerencia essa dimensão ilegal a
seu próprio favor, constituindo assim um Estado muito mais poderoso e absoluto. Cada dono de
milícia, patrulhamento policial em comunidade onde há tráfico de drogas, grupo de extermínio que
atua fazendo limpeza social tem sua própria lógica de funcionamento dentro do Estado, na dimensão
ilegal, sem um controle centralizado disso. Você não sabe onde pisa, em que dimensões pode
esbarrar. Marielle Franco foi morta assim.
Você acredita, então, que Marielle foi executada pela milícia?
Minha posição é de que ela foi morta por milicianos ou grupo de extermínio, o que dá no mesmo. Ou
seja, profissionais da execução sumária, que atuam como agentes de segurança do Estado. Digo isso
pela forma como foi realizada - a ação em si mesma, o cenário e o contexto vivido por ela como
relatora da CPI da Intervenção [Militar no Rio de Janeiro]. Ela tinha poder para prejudicar os
interesses deles. Podem ser policiais e, nesse caso, é difícil separar a atuação deles e dos milicianos,
no que eu chamaria de "milicianização" da polícia.

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