sexta-feira, 1 de junho de 2018

QUEDA DE VIRA LATA: O PROBLEMA NÃO ACABA, A CRISE TAMBÉM NÃO


POR FERNANDO BRITO 
A escolha do novo presidente da Petrobras é o próximo capítulo da novela do preço dos
combustíveis, que teve seu primeiro clímax com a paralisação dos caminhoneiros. E que está longe
de acabar.
Hoje, dificilmente sairá o nome do ocupante do cargo “definitivo”, seja por conta das disputas
políticas – lembre-se que é Moreira Franco, Ministro das Minas e Energia, quem deverá formalizar a
indicação do escolhido – seja pela dificuldade em encontrar algum nome capaz de dar ao “mercado”
a ideia de que não se interferirá na política de preços.
Até porque é inevitável que se interfira.
Parente estava cercado e já previa que poderia sair, tanto que deixou “standby” o cargo de presidente
da BRF, que estava à sua disposição.
Está claro que não existem mais objetivos de longo prazo e, neste momento, nada preocupa mais o
Governo em evitar que se consume a reunião de elementos que exploda o único patrimônio que
ainda lhe resiste: a taxa de inflação “civilizada” e, com ela, o nível da taxa de juros públicos.
Porque estes elementos, a começar pela sustentação do dólar acima do patamar de R$ 3,70, estão
todos presentes e, agora, agravados pela elevação dos preços do setor que vinha segurando altas
inflacionárias: o de alimentação.
Parente estava cercado e já previa que poderia sair, tanto que deixou “standby” o cargo de presidente
da BRF, que estava à sua disposição.


Por que Pedro Parente caiu?
por Gilberto Maringoni
Houve uma combinação de interesses que tornou insustentável a permanência de Pedro
Parente à testa da Petrobrás.
O PRIMEIRO e mais evidente deles foi a abrangência de um maciço movimento de massas
policlassista que paralisou o país por dez dias. Os efeitos da mobilização dos caminhoneiros
foram os de uma verdadeira greve geral nacional.
O SEGUNDO se deve à espantosa receptividade e acolhida popular do movimento. É algo
extremamente avançado: mesmo prejudicada em sua mobilidade e com sérios problemas
de abastecimento, a maioria da população brasileira - vide sondagem do DataFolha -
apoiou os bloqueios nas estradas. É como se as pessoas dissessem: "a situação geral está
tão ruim que alguma coisa precisa ser feita, mesmo que isso me prejudique
momentaneamente". Greve vitoriosa é greve com sustentação social para além da
categoria.
EM TERCEIRO, houve um descolamento de um setor da burguesia do bloco dominante
golpista. Os donos do agronegócio já vinham há meses se colocando contra a política de
comercialização da Petrobrás. Os constantes aumentos no preço do diesel representam um
irrefreável aumento de custos de produção que - apesar da altíssima produtividade do setor
- lhes tira competitividade internacional. No interior do agronegócio, o ramo de abate - em
especial o de frango, como mostrou o Jornal Nacional - teve prejuízos expressivos ao longo
da semana de paralisação.
Formou-se assim, tacitamente, uma frente que vai da base dos caminhoneiros -
funcionários, terceirizados e autônomos - ao patronato da indústria agrícola de exportação,
passando pelo empresariado de transportes.
Ironicamente, pode-se dizer que a queda de Parente foi uma vitória da conciliação de
classes, pois frente é o nome científico desse fenômeno.
DOIS PONTOS ADICIONAIS:
UM: Os céticos afirmam que de nada adianta tirar Parente se a Petrobrás seguir adiante
com sua diretriz de exportar óleo cru e importar refinados. Sim, há essa possibilidade.
Arrisco dizer que essa não é a mais provável, numa quadra de virtual dissolução da gestão
Temer.
O embate entre agronegócio e governo não é brincadeira e os caminhoneiros podem
retomar a mobilização. De mais a mais, o paliativo da isenção tributária para o diesel tem
limites orçamentários e políticos numa situação de valorização do dólar e do barril do
petróleo no mercado mundial. É possível que se chegue a uma saída mista, como chegou a
aventar Moreira Franco há alguns dias. De toda forma, a política pura e dura de Pedro
Parente parece ter saído do mapa.
DOIS: A semana que passou foi pródiga para os arautos do apocalipse, que viram golpe
até embaixo da cama. A visão é distorcida: o golpe já aconteceu. O que há é uma disputa
de rumos no interior da coalizão que o dirige.
O fato de desequilibrados e desinformados entre a massa de caminhoneiros e de populares
clamarem por intervenção militar é ruim. Mas nada é mais emblemático da confusão
mental dessa gente do que a cena vista em uma manifestação no interior de Minas. Após
brados pela volta dos fardados, a turba em uníssono cantou "Pra não dizer que não falei
das flores", quase um hino contra a ditadura, composto por Geraldo Vandré, em 1967.
A conjuntura mudou. Para melhor.

Nenhum comentário: