POR FERNANDO BRITO
Nenhum dos grandes jornais, até agora, percebeu o potencial de mobilização com o fato de que ao
menos oito crianças brasileiras, com idades entre seis e 17 anos, estão presas nos Estados Unido, em
abrigos semelhantes a campos de concentração, porque seus pais foram pegos em situação de
imigração ilegal no país norte-americano.
Samuel Wainer, Paulo Bittencourt, Assis Chateaubriand ou Julio de Mesquita, há 50 anos, teriam
Samuel Wainer, Paulo Bittencourt, Assis Chateaubriand ou Julio de Mesquita, há 50 anos, teriam
agarrado como bandeiras de seus Última Hora, Correio da Manhã, Associados ou Estadão e estariam
mandando correspondentes para achar, fotografar e entrevistar os meninos e meninas enjaulados pela
política migratória de Donald Trump.
A diplomacia brasileira, desafiada pela mídia, estaria exigindo a imediata repatriação das crianças e
de seus pais e eles seriam recebidos aqui por um mar de câmeras e microfones. Choveriam ofertas de
emprego para os emigrantes frustrados de grandes empresas, interessadas no marketing espontâneo e
as lágrimas dos pais inundariam as televisões.
Mal e mal, porém, temos chamadas pequenas, anódinas, salvando-se esta, ao menos em pé de
Mal e mal, porém, temos chamadas pequenas, anódinas, salvando-se esta, ao menos em pé de
página, de O Dia.
Já nem se fala no sabujismo de não criticar o “grande irmão do Norte” mesmo diante de situações
vexatórias como esta, apenas mais uma no mar de monstruosidades chauvinistas dos EUA na gestão
Trump. Mas nem mesmo sensacionalista esta pretensiosa mídia brasileira consegue ser.
Não há uma manchete garrafal, nenhum editorial indignado, nenhuma cobertura especial, que fica
Não há uma manchete garrafal, nenhum editorial indignado, nenhuma cobertura especial, que fica
reservada para o corte do “miojo” da cabeleira de Neymar Jr e para a tal carta da CBF para a Fifa
exigindo a falta sobre Miranda no gol da Suíça.
O “quarto poder” brasileiro vai cada vez mais se aproximando dos outros três, que atuam,
O “quarto poder” brasileiro vai cada vez mais se aproximando dos outros três, que atuam,
repectivamente, nos padrões Temer, Centrão e Carmem Lúcia, numa mediocridade e genuflexão sem
tamanho.
Cuba, a quem gostam tanto de criticar, moveu mundos e fundos para resgatar um criança levada
Cuba, a quem gostam tanto de criticar, moveu mundos e fundos para resgatar um criança levada
contra a vontade do pai para os Estados Unidos e, aqui mesmo, não se economizou espaço e tempo
para fazer o mesmo por um menino, filho de norte-americano, que era mantido pelos avós, influentes
no Judiciário, longe do pai.
Crianças presas, meu Deus, pais e mães separados por nove meses, como registra o Estadão,
Crianças presas, meu Deus, pais e mães separados por nove meses, como registra o Estadão,
discretamente. Drama para ninguém botar defeito; “mundo cão”, escândalo, comoção. Mas age-se
como se estivessem falando de um caso de simples burocracia.
Guardaram toda a sua indignação moralista para adular os rapazes da Lava Jato.
Guardaram toda a sua indignação moralista para adular os rapazes da Lava Jato.
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