segunda-feira, 11 de junho de 2018

FERNANDO MORAIS NÃO SE INTIMIDA E DISCUTE COM MORO DURANTE DEPOIMENTO


Durante depoimento como testemunha de Lula na ação na ação sobre o sítio de Atibaia, o 
jornalista e escritor Fernando Morais reagiu a reprimenda do juiz Sérgio Moro; Fernando 
Morais contou ter ouvido de Bono Vox, cantor do U2, que Lula é uma espécie de Nelson 
Mandela, pois tem o poder de unir todas as raças; "Aqui não é lugar para propaganda", disse 
Moro; "Não faço propaganda, faço jornalismo dos meus biografados", rebateu, indignado, 
Morais

Revista Fórum - O escritor Fernando Morais e o juiz Sergio Moro, conforme informações da coluna 
Radar, da Veja, trocaram farpas na manhã desta segunda (11).
Morais, que escreve uma biografia de Luiz Inácio Lula da Silva, depôs como testemunha do ex-
presidente na ação penal que investiga o sítio de Atibaia.
Na ocasião, o escritor disse que o acompanha desde 2010. Afirmou ainda, de acordo com a coluna, 
que, nesses oito anos, Lula sempre esteve disponível a todos os seus questionamentos.
Quando Fernando Morais contou ter ouvido de Bono Vox, cantor do U2, que Lula é uma espécie de 
Nelson Mandela, pois tem o poder de unir todas as raças, Moro o repreendeu.
"Aqui não é lugar para propaganda", disse o juiz, pedindo para que o diálogo não entrasse para os 
autos do processo.
A interrupção foi questionada pelo advogado de Lula, Cristiano Zanin:
"Mas é importante, porque faz parte da história do Lula".
Indignado, Fernando Morais rebateu:
"Não faço propaganda, faço jornalismo dos meus biografados".
Uma particularidade menos relevante chamava a atenção: apenas um, no caso, uma jornalista
circulava pelo corredor (na foto, a repórter quando entrevistava o ex-presidente Fernando Henrique,
em frente à sala de videoconferência): a representante da Globo. Os coleguinhas dos demais veículos
tomavam sol na moleira, na calçada do prédio.
Veja o vídeo e a transcrição do depoimento, gravado pela Justiça, e a indicação de links sobre o
assunto.

Sergio Moro: Nesta ação penal 50236532, depoimento do senhor Fernando Gomes de Morais.
Senhor Fernando, o senhor foi chamado como testemunha neste processo e na condição de 
testemunha o senhor tem um compromisso com a justiça em responder a verdade e às perguntas que 
lhe forem feitas, certo?
Fernando Morais: Certo.
Moro: Eu vou adverti-lo, senhor Fernando, que se o senhor faltar com a verdade o senhor fica 
sujeito a um processo criminal, certo?
FM: Sim.
Moro: Dito isso eu passo a palavra para a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para 
perguntas.
Zanin: Senhor Fernando, bom dia.

FM: Bom dia.
Zanin: Senhor Fernando, o senhor poderia ainda que brevemente nos relatar sua trajetória pessoal e 
profissional?
FM:
Eu sou jornalista desde os 14 anos, comecei um Belo Horizonte, me mudei para São Paulo em 
1965, quando os Mesquita criaram o Jornal da Tarde. Trabalhei dez anos no Jornal da Tarde, 
trabalhei na Revista Veja, trabalhei na Folha de São Paulo, trabalhei na TV Cultura e depois passei a 
me dedicar a publicar meus trabalhos jornalísticos em livros, seja sob a forma de biografias, seja sob 
a forma de relatos de episódios brasileiros e estrangeiros. E tive uma breve passagem pessoal pela 
política. Fui deputado em dois mandatos, fui Secretário de Cultura do Estado de São Paulo e depois 
Secretário da Educação do Estado de São Paulo, sem ter abandonado a minha atividade profissional 
original, de jornalista.
Zanin: Pois não. Em relação ao ex-presidente Lula, existe alguma situação pessoal ou profissional 
que tenha colocado o senhor em maior contato com ele? Notadamente após ele ter deixado o cargo 
de Presidente da República?
FM: Sim, eu na verdade conheço o ex-presidente Lula há 44 anos, quando ele era um operário, 
sindicalista, e eu era deputado, me aproximei sem intimidades com ele. Testemunhei a primeira 
prisão dele. Por uma dessas curiosidades do destino, acabei testemunhando as duas prisões dele. Não 
entrei para o PT quando a maioria dos meus colegas foram para o PT eu continuei no MDB. Depois 
eu abandonei a política e no período em que o presidente exerceu a Presidência da República, eu 
praticamente perdi o contato com ele, talvez por não ser muito afeito a palácios. Nos oito anos dele 
como presidente, eu estive três vezes no Palácio do Planalto. Uma vez para uma entrevista 
profissional com ele, uma vez, que era Dia Internacional da Mulher, e a Dona Marisa, falecida Dona 
Marisa, organizou uma exibição do filme “Olga”, que é baseado em um livro meu, para as mulheres 
que trabalhavam no Palácio e estive em uma terceira ocasião, que não me lembro qual é, mas sem 
contatos maiores.
Depois que ele deixou a Presidência da república eu fui contratado por duas editoras, uma brasileira 
e uma norte-americana, Companhia da Letras no Brasil, e a Penguin, nos EUA, para escrever um 
livro, que não é uma biografia. O projeto original, o contrato original que eu fiz com a Pinguin e com 
a Companhia, era de escrever a partir da prisão dele em 1980 até o fim do mandato dele em 2010. O 
livro terminaria aí. No entanto, como eu grudei no calcanhar dele, se o senhor me permite a 
expressão vulgar, nos últimos sete anos, eu achei que seria um desperdício profissional eu ter tido o 
privilégio de conviver com ele durante toda essa crise que estamos vivendo até hoje, desde o golpe 
contra a presidente Dilma Rousseff até agora, então propus as meus editores que eu fizesse o livro 
em dois tomos.
O primeiro tomo, tal como foi combinado, irá de 1980 a 2010, e o segundo tomo, de 2010 até saberá 
Deus quando.
Zanin: A partir notadamente de 2011, então, o senhor começou a ter um contato frequente com o 
presidente Lula?
FM: Absolutamente frequente. E com pouco tempo eu descobri que o melhor local para entrevistá-lo 
era dentro de aviões porque não havia telefone, secretários, deputados, assessores, então comecei a 
acompanhá-lo nas viagens que ele fazia ao exterior para realizar palestras no mundo inteiro. 
Excluindo a Oceania, fui a todos os outros continentes com ele. E literalmente grudado, um cacoete 
que veio da minha profissão de repórter.
Um pouco antes da descoberta do tumor, eu comecei a gravar com ele. Lembro que ele ainda estava 
com cabelo grande, barba. Eu ficava praticamente o tempo todo ao lado dele.
Uma, duas, três vezes por semana eu ia ao Instituto fazer gravações com ele. Fiz mais de cem 
gravações com pessoas que gravitaram na órbita dele nesse período, inclusive gente de oposição.
Não pretendo que seja um livro chapa-branca, um livro oficial. É um livro jornalístico como todos os 
11 que eu fiz até agora.
E tive o privilégio de acompanhá-lo provavelmente mais até que… Acho que só os seguranças dele 
tiveram mais tempo do que eu com ele nesse período que vai do começo de 2011 até dias antes dele 
ser preso.
Zanin: Nessa situação que o senhor mencionou de acompanhar o ex-presidente Lula a viagens no 
exterior para a realização de palestras, o senhor chegou a assistir às palestras? Sabe dizer se o 
presidente realizou as palestras?
FM: Eu imaginei que essa pergunta pudesse ser feita pelo senhor ou pelo juiz Sergio Moro. Hoje de 
manhã eu descobri que fui a 18 países com o presidente Lula. Eu assinalei aqui, por causa da pressa, 
vim correndo para cá: África do Sul, Alemanha, Angola, Cuba, Espanha, Etiópia, França, Índia, 
Inglaterra, México, Moçambique e Portugal. Eu ficava sempre no mesmo hotel, ou se era uma casa 
reservada para ele pelos anfitriões eu ficava sempre junto com ele. A maioria das vezes era em hotel. 
Embora eu não goste muito de acordar cedo, ele às 6h pedia a um segurança ir ao meu quarto me 
chamar para tomar café da manhã. E eu ficava com ele até a hora dele ir dormir.
Uma particularidade, não sei se interessa para o julgamento do Dr Moro, é que em nenhum momento 
ele disse para mim: “Olha, na hora que eu tiver que tratar de um assunto particular, eu te aviso e você 
sai”. Isso é muito comum, não seria uma indelicadeza da parte dele. Eu já fiz outros perfis, inclusive 
de um presidente em exercício, o presidente Collor, e o combinado foi isso: na hora que ele quisesse 
tratar de assuntos reservados, alguém me tiraria do gabinete, da casa, ou de onde ele estivesse.
No caso do presidente Lula não. O que eu não assisti foi o que eu não quis, mas eu assistia, 
rigorosamente, a todos os encontros, todas as palestras, gravei as palestras – com um gravadorzinho 
amador – algumas delas eu fiz fotos, mas como eu sabia que existia um fotográfo dele, 
acompanhando o tempo todo, eu não me preocupava tanto com imagem, mas em alguns casos, eu 
próprio me encarreguei de fazer fotos.
Então eu posso dizer que nessas viagens eu o acompanhei 24h por dia. Só não dormia com ele. Nos 
momentos que ele estava acordado, fosse em avião, fosse em jantar, fosse com chefes de estado – e 
em muitos casos ele foi recebido por chefes de estado dos países que estava visitando – ou fosse com 
personalidades. Eu me lembro que, por exemplo, que nós estávamos na Inglaterra ele foi fazer um ….
Moro: Vou interromper um minutinho, senhor Fernando. O senhor pode responder mais brevemente, 
mais objetivamente às questões da defesa? Não precisa se alongar nessas histórias, com todo o 
respeito, mas existe aqui a necessidade de seguir. Então qual é a próxima pergunta?
FM: O senhor me desculpe mas …
Zanin: O senhor ia, na verdade, tocar em um ponto que eu ia lhe questionar na sequência, que era 
um episódio em Londres, envolvendo o cantor Bono Vox. O senhor pode descrever, por gentileza?
FM: Posso. O presidente foi a Londres, convidado para fazer uma palestra para empresários. Porque 
às vezes ele ia convidado por empresários e às vezes por trabalhadores. Na Alemanha e na África do 
Sul, por exemplo, ele foi convidado por sindicatos e em Londres ele foi convidado por empresários.
Depois do almoço estávamos no hotel conversando e chegou o cantor, o roqueiro Bono Vox para 
fazer uma visita a ele. Conversaram um pouquinho e a hora que o Bono foi embora o presidente me 
perguntou se eu poderia fazer a delicadeza de acompanhá-lo até a portaria do prédio. Eu desci e 
havia ali uma centena de repórteres europeus e brasileiros (em número menor) mais por causa do 
Bono do que pelo presidente Lula, obviamente, era uma estrela universal… E os repórteres 
perguntaram a ele: o que o senhor achou da conversa com o presidente brasileiro, o presidente Lula? 
E o Bono respondeu com uma frase que ficou muito marcada na minha memória. Ele disse o 
seguinte, “Depois da morte do Mandela, só existe no mundo uma pessoa capaz de juntar ricos e 
pobres, pretos e brancos, gordos e magros, e essa pessoa se chama Luiz Inácio Lula da Silva.”
Por se tratar, não de um cientista político, nem de um teórico, mas um cantor de rock, aquilo me 
impressionou muito.
Moro: Essa questão da relevância para o caso é por qual motivo doutor?
Zanin: Excelência nós estamos falando da reputação de um acusado. E segundo …
Moro: Nós não estamos falando de reputação, existe uma acusação a ser julgada e esse tipo de …
Zanin: Certo, a defesa … a reputação. E segundo, nós estamos falando, inclusive vossa excelência
Moro: Você pode divulgar essas questões meritórias em relação ao ex-presidente fora do processo. 
Não precisa ser aqui em audiência.
Zanin: Mas divulgar fora do processo, vossa excelência …
Moro: Não diz respeito aos fatos em julgamento doutor. Qual é a próxima pergunta?
Zanin: Há questões. Vossa excelência sabe bem que, há questões que devem levar em consideração …
Moro: Essas questões não tem nenhuma relevância para o julgamento.
Zanin: Eu não sei se incomoda vossa excelência.
Moro: Não incomoda doutor. Acho que o processo não deve ser utilizado para esse tipo de 
propaganda.
Zanin: Não é propaganda. É uma questão de reputação.
FM: propaganda?
Zanin: Estamos discutindo aqui a reputação e mais do que isso. Existe aqui uma discussão em torno 
de palestras. Inclusive colocada em dúvida pelo juízo. E nós estamos aqui fazendo a prova de que as 
palestras foram realizadas. De que foram realizadas por uma pessoa de grande reputação e que havia 
o interesse em assistir às palestras. Portanto, absolutamente pertinente às questões.
Moro: Qual é a próxima pergunta?
FM: Eu posso fazer uso da palavra senhor juiz?
Moro: Não. O senhor respondeu as perguntas que foram feitas. Qual é a próxima pergunta?
Zanin: O senhor comentou que por conta desse trabalho, desse livro que o senhor está escrevendo 
que envolve o presidente Lula, o senhor passou a ter uma relação próxima, inclusive, presenciou, 
pelo que eu entendi, contatos do ex-presidente Lula com diversas pessoas, sem que houvesse 
necessidade do senhor deixar o recinto. Correto?
FM: Sim, senhor. Exatamente da maneira que o senhor expôs. Em nenhum momento, mesmo que 
fosse em algumas conversas pelas quais eu não tinha nenhum interesse, encontro com o embaixador 
do Brasil no país onde a gente se encontrava. Eram conversas aleatórias, mas eu tinha sido 
convidado, seria indelicado da minha parte não estar presente. Então, assistia todas. Acho que 
praticamente todas as conversas que ele teve e em nenhum momento eu posso dizer, eu posso 
assegurar que em nenhum momento, ou ele ou alguém da sua comitiva disse: olha o presidente 
queria que o senhor ficasse fora cinco minutos porque ele precisa tratar de um assunto particular. 
Zero.
Zanin: Pois não. E o senhor, nesta situação, o senhor presenciou algum ato do ex-presidente Lula 
que houvesse sugerido a prática de um ilícito ou então que pudesse sugerir estar ele resgatando algum  que ele tenha praticado como presidente da República. Solicitar ou exigir uma vantagem indevida.
FM: Não. Nada, nenhum momento, nada. E, o meritíssimo fez uso da palavra propaganda o que eu 
repudio. Eu não estou aqui fazendo propaganda. Quero dizer, inclusive, que as viagens que eu fazia 
com o presidente, eu só ia no avião que o transportava quando havia lugar sobrando. Quando não 
havia, as minhas viagens eram pagas pela Companhia das Letras. O Ministério Público pode 
averiguar. O meritíssimo juiz pode averiguar isso. Eu fui para a África do Sul com dinheiro da 
Companhia das Letras, fui para Cuba com o dinheiro da companhia das Letras. Eu voltei para o 
Brasil com dinheiro e voo pago pela Companhia da Letras. Então, em nenhum momento, eu teria r
razão para estar fazendo propaganda de quem quer que seja. Eu não ia jogar fora uma carreira de 
cinquenta anos para fazer propaganda de um presidente da República.
Zanin: Pois não. Senhor Fernando, basicamente eram essas as perguntas que eu tinha ao senhor. Eu 
agradeço a sua colaboração e devolvo a palavra ao magistrado.
Moro: Outros defensores têm perguntas? Ministério Público tem indagação? A acusação tem 
indagação? Certo. O juiz também não tem questões a serem colocadas. Vou declarar encerrado o 
depoimento do senhor Fernando Morais.
A biografia
A biografia de Lula foi anunciada por Morais em 2011, logo após o fim do segundo mandato do 
político como presidente. A ideia inicial do escritor era contar a trajetória do petista até a chegada à 
presidência. Em 2015, no aniversário de 70 anos de Lula, o autor chegou a falar, em um vídeo em 
que parabenizava o amigo, que "o livro está prontinho, só falta escrever".
Fernando Morais é amigo pessoal de Lula e é o autor de "A Ilha", livro-reportagem sobre 
Cubalançado em 1976, além das biografias "Olga", de Olga Benário, "Chatô – O Rei do Brasil", de 
Assis Chateaubriand, e "O Mago", de Paulo Coelho.

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