sábado, 26 de maio de 2018

CENÁRIOS: O BRASIL E O RISCO DE UM CARACAZO


A greve dos caminhoneiros destampou uma panela cuja água está fervendo desde o golpe 
contra Dilma. Que não foi realizado apenas para tirar o PT e setores da esquerda do governo, 
mas para implantar uma política neoliberal entreguista e anti-povo.

Por Renato Rovai
No dia 27 de fevereiro de 1989 os “cerros” (morros) de Caracas desceram e a Venezuela viveu uma 
de suas maiores explosões sociais.
O protesto foi motivado por um pacote de medidas econômicas imposto pelo governo de Carlos 
Andrés Pérez, que entre outras coisas aumentava significativamente o combustível e o transporte 
público. Eles se iniciaram por Caracas incendiaram o país como um todo.
Ônibus eram apedrejados e queimados. Lojas, supermercados, shopping centers, pequenos comércios 
eram invadidos e saqueados. Tudo que houvesse pela frente era destruído pelos manifestantes.
Para tentar conter a revolta e salvar o seu podre governo, Pérez fez o mesmo que Temer, convocou os 
militares para restabelecer a ordem. O resultado foi um massacre de grandes proporções (a foto que 
ilustra a matéria dá a dimensão da chacina, mas se o amigo quiser entender melhor o que foi basta 
dar uma busca no google).
Até hoje não se sabe exatamente quantas pessoas foram assassinadas naqueles dias. Os números 
variam entre 300 e 2000.
Chávez se posicionou contra a ação e seu grupo cresceu com base nisso no interior do Exército. Foi 
o Caracazo que o levou a tentar derrubar o governo de Peréz em 1992, quando foi preso e se tornou 
um mito no país.
Mas o que isso tem a ver com o Brasil atual? O Caracazo aconteceu de forma pouco organizada, mas 
muito violenta por parte da população porque o governo estava completamente desacreditado, o 
desemprego era imenso, havia muita gente passando fome no país e com o aumento do combustível 
as pessoas perceberam que não iam ter condições sequer de fazer o básico. E que tudo que já estava 
caro iria aumentar muito de preço.
O Brasil de 2018 é mais parecido com a Venezuela de 1989 do que com a atual. O governo Temer 
tem o nível de apoio popular semelhante ao de Pérez e não ao de Maduro, que continua com uma 
base social razoável.
Por isso, a greve dos caminhoneiros destampou uma panela cuja água está fervendo desde o golpe 
contra Dilma. Que não foi realizado apenas para tirar o PT e setores da esquerda do governo, mas 
para implantar uma política neoliberal entreguista e anti-povo cujo preço é o aumento da pobreza e 
da miséria em níveis recordes em tão curto espaço de tempo.
Enquanto o movimento ficar restrito aos caminhoneiros ele está relativamente sob controle. Mas se a 
greve adentrar pela semana que vem não existe possibilidade de ficar contida apenas nesta categoria.
A crise do abastecimento que já elevou o preço dos alimentos em todos os cantos vai se tornar algo 
insuportável para a parcela da população que não tem como pagar mais caro pelos alimentos. E isso 
vai fazer com que grupos se organizem para resolver na mão grande o seu drama.
Mas não na base do assalto no farol e sim na ação de grandes grupos invadindo comércios e 
shoppings.
Não é um cenário desejável e nem revolucionário. É algo que foge completamente do controle de 
qualquer mediação. E por isso resultou na imensa tragédia que se tornou conhecida como Caracazo 
na Venezuela.
Temer pode estar levando o Brasil para um grande banho de sangue. Isso não pode ser mais 
descartado como uma hipótese e deveria fazer parte dos cenários em discussão dos que estão 
preocupados com o destino do país.
E, ironicamente, este banho de sangue pode ser o que alguns setores desejam para cancelar as 
eleições de 2018.
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