sábado, 3 de março de 2018

CIRO: A ELEIÇÃO É A GRANDE SAÍDA


Trechos de uma entrevista do Ministro Ciro Gomes ao Datena na rádio Bandeirantes:

(...) Olha, eu tenho que ter muita paciência, porque não é nada fácil para um homem que tem a trajetória do Lula estar hoje carregando uma condenação de doze anos e um mês de cadeia, já em segunda instância, com mais não sei quantos processos, com sua honradez em suspeição… Não é fácil pra ninguém e eu tenho coração, antes de ser uma pessoa da luta, que eu sou muito também.
Então eu prefiro não comentar [as declarações de Lula], mas o que é importante e grave aí é que o Lula parece não estar percebendo corretamente o que está acontecendo no país. A conclusão do raciocínio dele é de que ou a gente é subordinado ao PT, ou é subordinado ao PSDB. Ou seja, a velha história de repartir o Brasil entre coxinhas e mortadelas, caracterizar esse enfrentamento por miudices, ódios, paixões, enquanto o país está sofrendo todo tipo de grave constrangimento, no emprego, salário, violência, deseducação, saúde pública, que é o que de fato nós deveríamos estar debatendo.

(...) Eu acho que o Lula tá até melhor, um pouco, do que [a imagem do] PT. O PT - e isso não é falar mal, eles se sentem melindrados porque eu costumo ser franco, eu cultivo a obrigação de falar o que eu penso, de repartir minhas convicções com as pessoas que me perguntam, com repórteres e jornalistas como você.
Então, repare, vamos olhar o último dado: a eleição municipal. O que aconteceu nos principais municípios do país? O PT foi varrido. Em São Paulo tinha um prefeito respeitável que ficou fora do segundo turno. Não chegou nem a 15% dos votos. Perdeu as eleições no Brasil inteiro, foi ganhar em Rio Branco, no Acre. Todas as grandes cidades, também, no interior, Campinas, Ribeirão Preto… Perdeu. Foi uma repulsa generalizada. Até imerecida, vamos dizer, porque ninguém é de todo mau nem o justo deve pagar pelo pecador.
Mas o presidente Lula não está percebendo isso. E ele, que tem uma popularidade ainda, saiu do governo com 83%, e frequenta hoje a preferência de 35%. Tudo bem, se ele acha que é assim… Mas o Brasil não é isso. Nós precisamos construir um projeto que saia desse extremismo de esquerda e direita, e o caminho para isso é uma grande aliança de centro-esquerda para que a gente possa proteger os interesses dos pobres em associação com o mundo que produz e trabalha no Brasil.

(...) Em determinados assuntos, a falha ou o fracasso ou a falta de intensidade no olhar do problema da população fez com que um assunto [segurança pública] que é de todo o espectro político-ideológico virasse um tema da direita. O que é um erro. Eu fui governador do Ceará, nunca fui da direita, e no meu governo eu tinha uma mão muito dura para o banditismo, a violência, enfim. Nós nunca alisamos bandido, e isso é um pedido de direita, de esquerda, não interessa.
O direito à paz, o direito de ir e vir, a incolumidade pessoal e patrimonial, isso é uma obrigação que o Estado deve prover para o conjunto da sociedade, das famílias. Não aconteceu isso, nasceram fenômenos novíssimos e muito complexos como os bilhões de reais que circulam no narcotráfico e essas facções criminosas extremamente audaciosas que estão já se organizando para lavar dinheiro em postos de gasolina, em vans, até se intrometendo em igrejas para mexer com dinheiro em espécie… E não inovou-se nada no Brasil, nem sob o ponto de vista das leis, das normas, e nem se inovou no orçamento e na forma como, institucionalmente, o governo trata o assunto.
De maneira que a população tem toda a razão de pedir uma novidade. Evidentemente, os espertalhões oferecem novidades que são muito fáceis de serem entendidas, mas que não são planejadas, não guardam coerência com nada científico, com os precedentes de sucesso internacional no enfrentamento a esse mesmo tipo de fenômeno… E o mais grosseiro aqui é imaginar que as forças armadas vão ser capazes de cortar a cabeça do narcotráfico, das facções criminosas, cercando favela. Isso jamais vai acontecer, porque jamais aconteceu no mundo.

(...) O Exército pode, as Forças Armadas podem, está escrito na Constituição brasileira, apoiar o esforço de restauração da lei e da ordem. Agora, vamos entender juntos: (…) o que nós precisamos fazer é criar um sistema nacional de segurança envolvendo desde uma regulamentação diferente para as guardas municipais, que passariam a integrar também um sistema de inteligência, de informação, até uma cabeça de discussão e inovações. Até algumas polêmicas.
or exemplo, só o Brasil tem duas polícias: uma polícia enfrenta o teatro do crime, que é a militar, mas não tem nenhum poder de investigação. E aí a gente inventa uns trambiques, que é pegar o policial militar, vai, prende o bandido, e leva para uma audiência de custódia. Chega lá, ele não é formado para investigação, ele não é treinado para formação de culpa, como as leis complicadas do país exigem, e um defeitozinho formal, joga o bandido na rua e o policial fica absolutamente angustiado. Em paralelo a isso, o mundo inteiro tá experimentando o suborno. Não é só de policiais, é de políticos, de juízes, de promotores, ministros…

E isso a gente tem que ter clareza que não se enfrenta com aparato. Isso se enfrenta com inteligência, com informação. E esse será meu grande passo adiante no sistema de segurança no Brasil. Eu vou montar um sofisticado sistema de inteligência e contra-inteligência, a Polícia Federal será encarregada de… Mudaremos a lei para que seja federalizado algum conjunto de crimes. Um deles será, evidentemente, a corrupção de autoridades. Um deles será, evidentemente, a corrupção de autoridades públicas.

(...) Eu torço muito que [a operação do exército no Rio] dê certo. Eu não sou daqueles que torcem pro “quanto, pior melhor”. Mas as unidades do Exército e da Marinha na fronteira estão simplesmente trabalhando a meio expediente por falta de verba pro rancho [refeitório]. Só pra você ter uma ideia de qual o nível real, profissional, de seriedade com que se trata a questão do verdadeiro enfrentamento na segurança pública brasileira.

(...)
A Lei da Ficha Limpa foi aprovada no governo do Lula, sancionada por ele. Trata-se de uma dessas tentativas de fazer um puxadinho para resolver problemas reais que a gente não tem tido capacidade política de fazer. O que eu tô querendo dizer: a justiça brasileira é muito lenta, anda a passo de cágado manco, especialmente se o réu for rico, contratar um bom advogado. Os tempos da justiça brasileira são ridículos. E só no Brasil você tem a possibilidade de quatro graus de jurisdição, ou seja: o juiz singular, o Tribunal Regional, o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal. Isso por média leva 12, 14, 16 anos para atravessar.
Zangados com isso, muita gente boa, da igreja, bem-intencionada, do PT, bem-intencionada, inventaram essa história de que resolver a punição para a questão da política já seja no meio dos recursos: ou seja, o primeiro lugar do mundo onde o réu tem direito a dois recursos ainda mas já tem que pagar uma pena irreparável que é ficar sem os direitos políticos. O Lula que assinou isso. Eu cansei de escrever na época, dizendo que a gente tinha que resolver era a lentidão da justiça, mudar a leia processual, acabar com quatro graus de jurisdição, deixar só em dois como o mundo inteiro faz. Não: a gente evita, porque os advogados ganham dinheiro com isso - eu sou advogado, não tô falando mal de ninguém - os juízes gostam do poder de fazer isso, o Ministério Público adora, enfim…
Então agora nós temos a seguinte situação: nenhum brasileiro condenado na Lei da Ficha Limpa teve direito a se candidatar nem a vereador, nem estadual, federal, senador, nem a governador, nem a prefeito, no Brasil inteiro. Nenhum! Portanto, eu vejo como mais ou menos inevitável que o Tribunal, em linha com 100% dos seus julgados, não permita que o Lula seja candidato. Isso é um dado com o qual eu trabalho há muito tempo. Conversei com ele sobre isso. Não comemoro isso, não gosto disso.
Mas, por exemplo, a tal unidade da esquerda: assinaram um manifesto outro dia dizendo que eleição sem Lula é fraude. Eu não assinei. Por que? Porque existe um país pra gente alimentar, milhões de jovens pra gente educar, mães de família precisando que mude a saúde pública… E o país não pode ficar refém, por melhor que a pessoa seja, de quem quer que seja. Então, a eleição tem que ser a grande saída para o Brasil resolver seus problemas. Um deles é ter um grande líder popular como Lula condenado a 12 anos um mês de cadeia e impedido de participar do processo eleitoral por uma lei que ele próprio fez.

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