POR FERNANDO BRITO
Pessoas medíocres acham que podem gerir os negócios públicos com golpes de esperteza.
A história é recorrente: desde o “a inflação acabou” do Cruzado de José Sarney à “jogada de mestre”
A história é recorrente: desde o “a inflação acabou” do Cruzado de José Sarney à “jogada de mestre”
de Michel temer com a finada intervenção federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro.
Cármen Lúcia, que quer vestir uma coroa evidentemente grande demais para sua cabeça, fez isso,
Cármen Lúcia, que quer vestir uma coroa evidentemente grande demais para sua cabeça, fez isso,
ontem, ao marcar para a tarde de hoje o julgamento do pedido de habeas corpus do ex-presidente
Lula, em lugar de, como seria lógico, colocar em votação as ações de inconstitucionalidade que
questionam a decretação de prisão sem o trânsito em julgado de sentenças.
Numa frase curta, preferiu julgar o caso ,em lugar de julgar a regra.
A razão é óbvia e facilmente compreendida nos escombros do Judiciário que temos hoje: a lei, aqui,
Numa frase curta, preferiu julgar o caso ,em lugar de julgar a regra.
A razão é óbvia e facilmente compreendida nos escombros do Judiciário que temos hoje: a lei, aqui,
faz tempo, não é para todos.
Com o que conta “Carminha”, transmutada em “Mulher Maravilha” da mídia e da extrema direita?
O primeiro fator é: o ministro que quiser manter a sua convicção jurídica de que se deve respeito ao
Com o que conta “Carminha”, transmutada em “Mulher Maravilha” da mídia e da extrema direita?
O primeiro fator é: o ministro que quiser manter a sua convicção jurídica de que se deve respeito ao
comando constitucional de que “ninguém será considerado culpado ( e, portanto, preso para
cumprimento de pena) até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”, terá de assumir a
execração que a mídia lhe fará de estar “salvando Lula”.
É com o que conta, na sua matemática mesquinha, para dobrar o voto contrário à execução apressada
É com o que conta, na sua matemática mesquinha, para dobrar o voto contrário à execução apressada
da pena já pronunciado pela senhora Rosa Weber.
A tíbia magistrada terá a oportunidade de, se quiser seguir o desvio acovardado que marca sua
A tíbia magistrada terá a oportunidade de, se quiser seguir o desvio acovardado que marca sua
carreira no STF, produzir uma nova versão de seu tristemente famoso “não tenho prova cabal contra
Dirceu – mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite”. Dirá, na expectativa de
Carmen Lúcia, agora: “tenho convicções doutrinárias para acatar o habeas corpus, mas a decisão
anterior me permite negá-lo”.
Embora já tenha reafirmado uma vez a posição contrária à execução imediata da pena , já a reviu em
Embora já tenha reafirmado uma vez a posição contrária à execução imediata da pena , já a reviu em
outros casos. O vento, desta vez, é forte.
Gilmar Mendes, que ontem ensaiou protestar contra decisões casuísticas e, por isso, foi duramente
Gilmar Mendes, que ontem ensaiou protestar contra decisões casuísticas e, por isso, foi duramente
atacado pelo pavão feroz Luís Roberto Barroso, fica também na saia que a outros seria justa de
“salvar” o arqui-inimigo Lula. Gilmar, porém, é menos preso a escrúpulos de consciência – algo de
que Barroso, há tempos, libertou-se e decidirá por razões que só a política pode explicar.
É claro que a manobra de Cármen Lúcia está mais que evidente para os outros dez ministros do
É claro que a manobra de Cármen Lúcia está mais que evidente para os outros dez ministros do
Supremo, mas abre espaço para que a covardia encontre o muro da frágil decisão anterior como
biombo da pusilanimidade. Isso, claro, não deve funcionar para Marco Aurélio Mello, Ricardo
Lewandowski, Celso de Mello e, provavelmente, Dias Toffoli, que abriu a primeira divergência
quanto a ela.
Mas os dois votos em disputa ficam mais fáceis colocando-se o caso à frente da tese.
Afinal, “a lei é para todos” é apenas um filme de ficção.
PS. O Dr. Sepúlveda Pertence, que já disse que, por ter dado tanto poder ao Ministério Público que
Mas os dois votos em disputa ficam mais fáceis colocando-se o caso à frente da tese.
Afinal, “a lei é para todos” é apenas um filme de ficção.
PS. O Dr. Sepúlveda Pertence, que já disse que, por ter dado tanto poder ao Ministério Público que
“criou um monstro”, como autor da indicação de Cármen Lúcia para o Supremo também pode
renovar a frase: “criei dois”
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