segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

MARTINHO: ESSA BAGUNÇA QUE É A NOSSA JUSTIÇA!


Martinho desfilou na Unidos do Peruche, em São Paulo  

O Blog reproduz trechos da entrevista de Martinho da Vila à 
Fel-lha:

(...) Aproveitando sua menção à Lava Jato, que tem achado da operação?

Esse é assunto que estou evitando. Tirei férias da política, não vejo noticiário.

O sr. ainda é filiado ao PCdoB?
Sou, mas não sou ativo. É que nem católico não praticante, que não vai à igreja.

O sr. dará palestra na Faculdade de Direito da UFF. Qual o tema?
Acho que vou falar o que o povo está pensando. Por exemplo, o Supremo Tribunal Federal, eles 
[ministros] se digladiam muito. Estão parecendo é artista [risos]. A ministra que é presidente do 
Supremo [Carmen Lúcia], foi eleita, foi logo no programa do Bial ["Conversa com Bial", na Globo]. 
Falam de assuntos que ainda vão decidir nos autos, já dão opinião. Só rindo mesmo, porque a coisa é 
tão triste que não tem jeito.

Antes da condenação do ex-presidente Lula, o sr. afirmou que ele não deveria se candidatar na 
eleição deste ano. Ainda pensa assim?
Continuo achando que o Lula cumpriu um papel importante como presidente, um momento 
histórico, e que ele deveria andar pelo mundo, estudar, dar palestras e esquecer esse negócio de 
política. Mas ele insistiu nessa coisa, foi envolvido e tal. É tudo em função da candidatura, para tirá-
lo da eleição.

Ele daria um bom enredo de escola de samba?

Com certeza. Agora ninguém botaria, mas, no futuro ainda vai ser enredo. Ele é um cara do 
Nordeste, que estudou pouco, tem uma inteligência fora de série. Aí vai para São Paulo, vira líder 
sindical, é preso pela ditadura, resolve ser presidente do Brasil, perde três vezes, depois ganha.
Com o Lula presidente, qualquer família pobre com filho pode falar "esse cara ainda pode ser 
presidente". Tudo isso dá um enredo fantástico. Essa fase atual eu não sei como colocaria. O enredo 
tem que contar a história inteira, então é melhor não fazer agora.

O documentário dedicado ao sr. ["O Samba", 2014] traz um depoimento de Aécio Neves. 
Como o conheceu?
Ele é muito amigo, conheci quando ainda não tinha ocupado nenhum cargo político. O Sérgio Cabral 
também, já conhecia desde pequeno, por causa da família. A gente foi para a Rússia, para um festival 
da juventude socialista [12º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, em 1984]. E a gente fez 
amizade. Eles se tornaram políticos logo depois e eram dois jovens de quem os cariocas gostavam 
muito.
Sonhava-se com um dos dois na Presidência. O Aécio chegou a concorrer, mas depois... Deu no que 
deu. O Cabral também deu no que deu. Eu só fico triste, mas fui bastante amigo deles e tenho uma 
certa consideração por eles.

O sr. se decepcionou com eles?
É uma decepção total, né? É como um fã meu que não pensa que eu vou cometer um ato baixo, 
entendeu? Se acontecesse isso, que Deus me livre, o cara ficaria triste, não conseguiria festejar a 
minha derrota. Eu também não consigo festejar a prisão do Cabral. Quando ele foi preso com os pés 
algemados, aquilo me causou um mal-estar tão grande. Ele merece estar preso, tenho certeza. Mas 
aquilo é um absurdo. É essa bagunça que está a nossa Justiça.

O sr. é um ícone e difusor da cultura negra. Como é ser negro no Brasil hoje?

Muito melhor do que quando eu era criança e adolescente. Os negros eram perseguidos de tudo 
quanto é jeito. Se eu andasse com esse cabelo assim que eu tô, a polícia me parava. Tinha de andar 
de cabelo comportadinho. De barba, nem pensar [risos]. A polícia ia em cima e, se eu não tivesse 
emprego, era preso por vadiagem. Era uma coisa terrível. Os militantes do movimento negro 
conseguiram reverter bastante esse quadro, embora ele ainda não esteja no ponto ideal.
Agora, nosso problema é trabalho. Até hoje temos empresas no Brasil que nem empregam negros. 
Você vê o retrato do governo do Brasil, de qualquer Estado ou prefeitura, não tem negros.

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