quarta-feira, 1 de novembro de 2017

COMO A IMBECILIDADE MENTAL DA DIREITA BRASILEIRA TRANSFORMOU NUM SUCESSO A PALESTRA DA FILOSOFA JUDITH BUTLER


Judith Butler

Por Kiko Nogueira

Você conhece a obra de Judith Butler? Nem eu. Mea culpa.
Aos 61 anos, nascida em Cleveland, Ohio, a filósofa pós-estruturalista é o principal nome da teoria 
estranho.
Céli Regina Jardim Pinto, professora titular do Departamento de História da UFRGS, explica a 
importância dela num artigo no Sul21.
Mas não é sobre Judith Butler e seu trabalho que eu queria falar.
Butler, por óbvio, não é um tremendo sucesso de público — ou não era, até que as milícias direitistas 
brasileiras a transformassem numa celebridade, num acontecimento.
Sua palestra no Sesc Pompeia, em São Paulo, no seminário “Os Fins da Democracia”, esgotou em 
tempo recorde, para surpresa dos organizadores. Mesma coisa aconteceu no Rio.
Ela já esteve por aqui em outras ocasiões, mas agora é um estouro. Seus livros estão sendo mais 
procurados. Seus vídeos no YouTube ganharam acessos.
Tudo graças à imbecilidade coletiva de extremistas que resolveram empreender uma caça às bruxas 
com ela, perigosa agente disseminadora da ideologia de gênero, a encarnação do diabo para todo 
débil mental falso moralista.
Mais de 300 mil pessoas que nunca chegaram perto de um livro de Judith Butler participaram de um 
abaixo assinado contra sua apresentação.
O negócio está no site CitizenGo, que se define como uma plataforma que, “partindo de uma visão 
cristã do ser humano e da ordem social”, quer “oferecer a todos os cidadãos uma ferramenta de 
participação e aprimoramento de nossa sociedade”.
O sujeito assina a petição afirmando que “sua presença em nosso país num simpósio comunista (sic), 
pago com o dinheiro de uma fundação internacional, não é desejada pela esmagadora maioria da 
população nacional.”
Além de se colocar como porta vozes de uma suposta maioria, os fascistas querem PROIBIR que a 
mulher fale. Ora, não era mais fácil fazer um “simpósio” próprio?
Não, porque a lógico desse obscurantismo é o veto, o cala boca. Esse raciocínio vagabundo provoca 
o efeito contrário. Faz com que a exposição Histórias da Sexualidade, no Masp, por exemplo, outro 
alvo das milícias, esteja bombando.



De acordo com a assessoria de imprensa do museu, houve 18 mil visitantes em dez dias (até o 
domingo, 29). Isso representa 80% a mais que no mesmo período do ano passado. Até Polenguinho 
vende mais graças a eles.
O MBL, como de hábito, puxa a carroça da censura contra Judith Butler.
Atrás dos kataguiris, vêm baluartes da ética e dos bons costumes como o ex-ator pornô Alexandre 
Frota e o pastor deputado Marco Feliciano (que, num vídeo, demonstrou não saber sequer o nome de 
sua inimiga).
O padre Paulo Ricardo, o Malafaia da Igreja Católica, olavete de carteirinha, garante que 
“ideólogos” como Butler “objetivam agora atingir o sistema educacional cooptando as crianças 
desde mais tenra idade, pois assim fica mais fácil moldá-las”.
Segundo o velho PR, “desejam educá-las para escolha do seu objeto de satisfação sexual, não 
importando qual, pois todos são possíveis. Querem, em última análise, formar uma sociedade 
sexualmente versátil. Pode parecer loucura, absurdo, mas é a realidade. Já está sendo implantada 
aqui mesmo no Brasil. Não se engane. Trata-se de uma estratégia demolidora, revolucionária cujo 
objetivo maior é destruir a família”.
Bolsonaro ainda não se manifestou, mas até Roberto Jefferson, ladrão rematado, preso por corrupção 
passiva e lavagem de dinheiro, denunciou Judith por “corromper os valores da sociedade”.
Em entrevista ao Jornal Extra Classe, ela declarou que seus detratores a consideram “um fantasma”: 
“Eles pensam que talvez eu seja um pesadelo vindo para a cidade”.
O Brasil emburreceu — e ganhou uma cambada de degenerados fazendo propaganda reversa com 
sua degenerescência mental.


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