terça-feira, 7 de novembro de 2017

ALMIRANTE OTHON: HOUVE INTERESSE INTERNACIONAL EM MINHA PRISÃO


O ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva ficou preso por dois anos e 
recebeu uma das maiores condenações da Lava Jato: 43 anos de prisão por corrupção, lavagem 
de dinheiro, evasão de divisas e organização criminosa; em entrevista, ele diz que sua prisão 
atendeu a interesses internacionais; "Tudo o que eu fiz [na área nuclear] desagradou. Qual o 
maior noticiário que tem hoje? A Coreia do Norte e suas atividades nucleares. A parte nuclear 
gera rejeição na comunidade internacional. E o Brasil ser potência nuclear desagrada. Disso eu 
não tenho a menor dúvida", explica o almirante, considerado um dos mais importantes 
cientistas brasileiros e o pai do programa nuclear do país

Pela primeira vez, um grande jornal, a Folha, se interessa em ouvir detalhadamente o relato do vice-
almirante Othon Pinheiro da Silva sobre o caso que o levou a ser condenado a 43 anos de prisão por 
corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e organização criminosa por ter recebido, 
pagamentos de R$ 3 milhões, que ele diz serem por consultoria e a Justiça diz serem trabalhos 
fictícios.
Seja como for, ponha na balança: Marcelo Odebrecht, confessadamente corrompedor de centenas de 
políticos com infindáveis bilhões de reais, pegou 30 anos, que foram convertidos em 10, com seu 
acordo de delação e sai agora em dezembro.
Reproduzo trechos da entrevista que Othon deu a Monica Bergamo:
O Ministério Público Federal considerou que o estudo assinado pelo senhor para a Andrade 
Gutierrez era simplório e entendeu que ele é fictício.
É um desconhecimento total ou uma vontade de não querer reconhecer [a importância do trabalho]. 
São anos de pensamento sobre o Brasil.
O que ocorreu no país, e sobre o que falava no meu estudo? O consumo de energia cresceu e o 
estoque de água das hidrelétricas estacionou na década de 80. Antes disso, o Brasil poderia passar 
por vários anos “secos” porque tinha estoque de água. Mas isso mudou e veio o apagão.
O Brasil agora precisa de energia térmica de base.
Termelétricas têm que ser [movidas a] carvão ou [energia] nuclear. E nuclear é melhor para nós 
porque temos reservas [de urânio] correspondentes a 50% do pré-sal.
Nós temos que aproveitar o que a natureza nos dá.
Ah, se eu tivesse mais [usinas] nucleares. O custo do investimento é maior mas o do combustível é 
menor [do que o de outras alternativas].
No caso da hidrelétrica, o custo [do combustível, a água] é quase zero. E no caso da nuclear, é 
pequeno.
Se eu tiver a energia nuclear, eu economizo água e não chego nessa situação [de apagão]. A energia 
nuclear não compete com a hidrelétrica. Ela complementa. Era isso o que o estudo mostrava.
Depois o senhor foi para o governo e a obra de Angra 3 foi retomada.
Em julho [de 2005], eu soube que tinha uma lista [no governo Lula] para escolher o presidente da 
Eletronuclear. Eu não queria.
Mas aí eu fiz a grande bobagem da minha vida. Fui convidado. Bateu a vaidade e eu aceitei. Em 
outubro de 2005, assumi o cargo.
E como passou a receber dinheiro da empreiteira?
Tudo o que eu fazia na época [em que prestava consultoria] era na base do sucesso.
E coincidiu que fui para o governo e houve a decisão [de retomar Angra 3].
Quem decidiu foi o Conselho Nacional de Política Energética, do qual eu não fazia parte. Como 
presidente, eu apenas executei as diretrizes.
Mas passei a fazer jus [à remuneração] do trabalho [estudo para a Andrade] que eu fiz antes.
Quanto passou a receber?
Eu cobrei R$ 3 milhões, em valores de dezembro de 2004 [a Polícia Federal diz que o almirante 
recebeu R$ 4,5 milhões em valores atualizados].
Comecei a receber depois que houve a decisão da retomada das obras.
Como era um troço completamente diferente, eles falaram “vamos pagar através de outras 
empresas”. Aí virou outro crime.
Se fosse hoje, eu exigiria deles [Andrade] um contrato de confissão de dívida para que me pagassem 
só depois que eu saísse. Eu não receberia no cargo.
Eu tinha direito, foi um trabalho que eu fiz antes. Não era imoral nem ilegal. Apenas com a 
experiência de hoje eu teria feito diferente.
O Ministério Público Federal e a Justiça consideraram que era propina.
Não era propina, não foi mesmo. Eu achava que tinha direito de receber. Agora, tive o cuidado de 
não tomar nenhuma decisão [que beneficiasse a empreiteira], não tem nenhum ato de ofício assinado 
por mim.
Tivemos [ele e a Andrade]inclusive um atrito inicial, porque eu exigi que o TCU aprovasse os 
detalhes do aditivo [para o pagamento do serviço nas obras de Angra 3].
Eles ficaram irritadíssimos. Fui uma decepção para eles. Houve outras divergências, chegaram a 
parar as obras. Oras, se eu tivesse ligação com eles, isso teria ocorrido?
Delatores da empresa afirmaram que o senhor, na verdade, cobrava percentual sobre os contratos de 
Angra 3.
A Andrade já tinha um ressentimento em relação a mim. E delação premiada é um processo muito 
danado. O cara acha que agrada [os investigadores] e senta a pua. Ele não tem compromisso.
O senhor diz que sua prisão interessa ao sistema internacional. Que evidência tem disso?
Como começou tudo isso? Num depoimento que o presidente de uma empreiteira fazia sobre um 
contrato com a Petrobras.
Ele mencionou que ouviu dizer algo sobre o presidente da Eletronuclear estar de acordo com um 
cartel.
Isso serviu de pretexto para os camaradas vasculharem a minha vida desde garoto. Havia um 
direcionamento.
Mas haveria um comando externo nas investigações?
Não comando, mas influência forte, ideológica. Não posso provar mas tenho um sentimento muito 
forte. Houve interesse internacional.
E por que haveria interesse internacional em sua prisão?
Porque tudo o que eu fiz [na área nuclear] desagradou. Qual o maior noticiário que tem hoje? A 
Coreia do Norte e suas atividades nucleares. A parte nuclear gera rejeição na comunidade 
internacional.
E o Brasil ser potência nuclear desagrada. Disso eu não tenho a menor dúvida.
Há setores que acreditam que o Brasil deveria desenvolver a bomba atômica. O país fez bem em 
abrir mão dela?
Eu acho que fez. O artefato nuclear é arma de destruição de massa e inibidora de concentração de 
força. Mas, no nosso caso, se tivéssemos a bomba, desbalancearíamos a América Latina, suscitando 
apreensões.
E a última coisa que a gente precisa na América Latina é de um embate.
O país, no entanto, não abriu mão da tecnologia. Se necessário, em quanto tempo faríamos uma 
bomba?
Em uns quatro meses. Com a tecnologia de enriquecimento que nós usamos, podemos fazer a bomba 
com o plutônio, como a de Nagasaki, ou com o urânio, que foi a de Hiroshima. Temos os dois porque 
quem tem urânio enriquecido pode ter o plutônio também.
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