Eles e a planilha.
Depois que a coluna Radar, da Veja, informou que o Ministério Público omitiu da investigação da
Lava Jato documentos que mostravam a relação profissional de Rosângela Moro com o escritório de
advocacia de Rodrigo Tacla Durán, começam a surgir outros dados que dão clareza a fatos que são
suspeitos.
No mínimo, reforçam os argumentos de que Sergio Moro não tem isenção para conduzir os
processos da Lava Jato.
O escritório de Tacla Durán foi investigado pela unidade da Receita Federal em São José do Rio
Preto, em procedimento de fiscalização conduzido pelos auditores Rogério César Ferreira e Paulo
Cesar Martinasso.
No âmbito de suas atribuições, a Receita Federal investiga sonegação de tributos, mas esta pode ser
apenas uma consequência da lavagem de dinheiro, que é o que efetivamente o escritório de Tacla
Durán fazia.
Na relação, que acompanha o ofício assinado por Flávia Tacla Durán, irmã de Rodrigo, aparece o
nome de Rosângela, de Carlos Zucolotto Júnior e do escritório de Zucolotto. Também aparece o
advogado Leonardo Guilherme dos Santos Lima, que tem o mesmo sobrenome do procurador da
república Carlos Fernando dos Santos Lima.
Flávia não informa detalhes sobre o trabalho realizado pelos advogados para os quais fez
pagamentos. Para justificar o não atendimento dessa exigência da Receita, ela apresenta o resultado
de uma consulta que fez ao presidente da OAB de São Paulo, Marcos da Costa.
“Conforme verificado na apresentação das presentes informações e documentos requisitados, o
presente escritório de advocacia encontra-se devidamente inscrito em seu órgão de regulamentação
profissional, sob número 13.242 e, portanto, submetido ao Regime do Estatuto da Advocacia (Lei
número 8.906/94), razão pela qual, nos termos do instruído pela Ordem dos Advogados do Brasil,
através do referido despacho proferido em 27/07/2015, do presidente da OAB – seccional de São
Paulo, Dr. Marcos da Costa, ora acostado em sua íntegra, nos abstemos de apresentar o conteúdo
completo dos trabalhos que pressupõe sigilo profissional”, escreve Flávia Tacla Durán.
O submundo que une Tacla Durán a advogados próximos de Sergio Moro começou a ser revelado
pela jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, com a informação de que o advogado
Rodrigo Tacla Durán, começou a escrever um livro em que pretende contar que o amigo de Moro, o
advogado Carlos Zucolotto Júnior, lhe tentou vender facilidades na Lava Jato. Para trocar a prisão
em regime fechado por prisão domiciliar, com tornozeleira, teria que fazer pagamentos por fora.
Agora, com o furo de Maurício Lima, do Radar, o cerco ficou mais próximo — a própria esposa do
juiz aparece na relação do escritório que apareceu na Lava Jato como operadora de caixa 2 e lavagem
de dinheiro para empreiteiras, entre as quais a Odebrecht. Em 2016, Moro determinou a prisão de
Tacla Durán, quando este estava na Espanha, mas não conseguiu trazê-lo para o Brasil, pois a
Espanha negou a extradição.
Rodrigo Durán é colaborador da justiça nos Estados Unidos e também na Espanha. Em entrevista ao
jornal El País, Durán diz que a Odebrecht, uma das empresas para as quais fazia lavagem de
dinheiro, pagou em propina pelo menos quatro vezes mais do que revelou no acordo de delação
premiada homologado no Brasil.
Sergio Moro assinou dois mandados de prisão preventiva contra Durán, atendendo a pedido do
Ministério Público Federal, que o acusava de celebrar contratos de fachada com empreiteiras para
gerar caixa 2. O procurador da república Júlio Motta Noronha, que deu entrevista para falar da 36a.
Operação de Lava Jato, em que as prisões de Durán foram decretadas, explicou assim a razão do
pedido:
“Rodrigo Tacla Duran foi responsável por lavar dezenas de milhões de reais por meio de empresas
controladas por ele, como a Econocell do Brasil, TWC Participações e Tacla Duran Sociedade de
Advogados. Diversos envolvidos na Operação Lava Jato se valeram das empresas de Duran para
gerar dinheiro e realizar o pagamento de propinas”, afirmou o procurador da República Julio Motta
Noronha, da força-tarefa da Lava Jato.
Um gigante desses na lavagem de dinheiro (na prática, doleiro) teria que tipo de relação profissional c
com Rosângela Moro e também com Carlos Zucolotto Júnior? A respeito deste, logo que se revelou
o que agora ganha dimensão de escândalo de grandes proporções, Moro veio a público para tentar
minimizar os efeitos da informação de venda de facilidades na Lava Jato.
Diante da impossibilidade de negar o relacionamento entre o amigo e o réu, Moro disse:
“A partir das perguntas efetuadas, o sr. Carlos Zucolotto, consultado, informou que foi contratado
para extração de cópias de processo de execução fiscal por pessoa talvez ligada a Rodrigo Tacla
Duran em razão do sobrenome (Flávia Tacla Duran) e por valores módicos”, diz Moro.
Quem acredita que Zucolotto foi contratado para ir ao fórum e fazer xerox de processo acredita em
tudo. O mesmo raciocínio vale para Rosângela.
Será que a esposa do juiz apareceu na relação de pagamentos de um escritório que faz lavagem de
dinheiro para fazer serviços que, a rigor, poderiam ser feitos por um estagiário?
Se o que se pretende é passar o Brasil a limpo, chegou a hora de investigar fatos que comprometem
Sergio Moro.
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