quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Lula encerra em São Luís caravana 'com cheiro de poeira, de esperança e de sonho'

"Se enganam eles se pensam 'vamos tirar o Lula da jogada e está tudo resolvido'; se pensam 
que o 'problema' sou eu, é bom tirar o cavalo da chuva porque temos milhões de pessoas que 
pensam como o Lula".

São Luís – Quase três horas para chegar à Praça Pedro II, no centro histórico da capital. Metade do 
caminho de balsa, metade de ônibus. Assim Elza Rodrigues saiu da comunidade quilombola de Rio 
Grande, no município de Bequimão, para chegar ao ato de encerramento da Caravana Lula pelo 
Brasil, na noite desta terça-feira (5). Foram 20 dias e 4.300 quilômetros passando por mais de 50 
municípios nos nove estados do Nordeste. Dona Elza é mais um personagem dessa história que não 
poderia ser contada sem os milhares de rostos anônimos, principal componente em cada parada pelo c
caminho, em cada grande manifestação.
São os responsáveis por uma mistura especial de "cheiro de poeira com cheiro de esperança", como 
definiu Lula em seu discurso de despedida. "Termino dizendo para vocês: queria que todo 
governante desse país fizesse uma caravana. Que tivessem coragem de conversar com o povo, 
abraçar pessoas com cheiro de poeira, cheiro de esperança e cheiro de sonho. Pessoas dizendo que 
estamos perdendo o que conquistamos. Eu diria: não percam a esperança. Quando não acreditarem e
em ninguém, entrem na política."
Aos 65 anos, Elza estava feliz por estar ali e, mesmo sem saber, fazendo política. "Nunca tinha visto 
uma coisa assim", dizia a mãe de quatro filhos, avó de 15 netos e uma bisneta. Ela conta que em 
Bequimão tinha "muita gente pobre". "E no governo de Lula melhorou a qualidade de vida de muitas 
pessoas. Na associação que nós temos, arranjamos 49 casas nesse projeto. Colocamos o projeto no 
governo de Lula e recebemos as casas no governo de Dilma", explica a agricultora que ao lado de 
três dos seus filhos planta milho, mandioca, feijão e já quebrou muito coco babaçu. "Hoje não 
quebro mais, não."
Essa é a realização de dona Elza: ter sua casa e não quebrar mais coco. E foi à praça para 
comemorar. Se isso é pouco aos olhos de alguns, para ela é parte importante de sua satisfação com 
sua terra e sua cultura. As festas na comunidade têm forró de caixa e tambor de crioula, tudo que 
aprendeu com a avó e com a mãe, e ensina aos filhos e netos. 
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O vigilante de escola Luiz Bezerra Lima, 50 anos, saiu de Capinzal do Norte, a 200 quilômetros da capital maranhense, para 'ver Lula e ouvir suas palavras'. Dona Elza viajou três horas, saiu da comunidade quilombola de Rio Grande, no município de Bequimão, para estar ali. Aos 65 anos, foi quebradeira de coco. 'Hoje não quebro mais não', comemora
Lula é uma ideia

Dona Elza respondia à pergunta feita por Flavio Dino, do alto do palco, em frente à sede do governo 
estadual, o Palácio dos Leões. "Quem construiu as riquezas de São Luís? Quem construiu a riqueza 
do Brasil? Os negros, índios, os trabalhadores, o povo mais pobre do nosso país. Todos nós sabemos 
que, estranhamente, nosso país desenvolveu um ódio aos mais pobres. Esse país é racista, 
preconceituoso e obscenamente desigual. Temos de lutar contra tudo isso."
Era mais uma noite em que, longe dali, o Jornal Nacional dedicava longos minutos a uma denúncia 
perseguição política por uso da Justiça e da mídia – enquanto o telejornal desprezava as provas 
materializadas em malas de dinheiro em apartamento de Geddel Vieira Lima.
E Lula voltava a pedir que ninguém se desesperasse. "Ninguém pode perder a esperança", reforçou. 
"Se enganam eles se pensam: vamos tirar o Lula da jogada e está tudo resolvido. Se pensam que o 
problema sou eu, é bom tirar o cavalo da chuva porque já temos milhões e milhões de pessoas que 
pensam como o Lula", avisou.
"O Lula hoje representa uma ideia: a ideia de que o povo merece e pode viver bem. Nós aprendemos 
que não queremos mais morar na senzala, queremos morar na casa grande. Queremos subir o degrau 
social nesse país. Nosso milagre não está na capacidade do Lula, está na capacidade de vocês."
Benjamim Alves, 15 anos, é um dos Lulas. O estudante estava na praça por que sempre conviveu 
com a desigualdade social. "Para mim, esse ato é um grito de democracia. O que a gente está 
vivendo hoje é uma espécie de ditadura camuflada. Esse ato é o grito da classe dominada, que somos 
nós. Representa toda a luta de um povo. Agora querem chegar e tomar a liderança, mas não vão. Eles 
só ganham no grito, a gente ganha na urna."
Definindo Lula como um grande orador, Benjamim ainda estava por ali quando o ex-presidente falou 
da caravana. "Defendemos a democracia, o respeito à Constituição, o direito de termos um 
presidente que conhece a alma do povo, o que pensam negros, índios, LGBT, a sociedade diversa." 
Mas ressaltou: "A democracia que eu quero é diferente da democracia que a elite quer. Na 
democracia deles, você pode gritar que tá com fome, mas não pode comer. Tem direito de dizer que 
quer trabalhar, mas não se preocupam com seu emprego. Por isso, o Temer está destruindo todas as 
conquistas dos trabalhadores", criticando as mudanças impostas após o golpe contra a presidenta 
Dilma Rousseff e o projeto político eleito para governar o Brasil. 

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O presidente da Contag, Aristides Santos, destaca o papel agregador e conscientizador da caravana; o engenheiro Eduardo Souza, 55 anos, estava com a mulher e o filho, um dos muitos cadeirantes que estavam perto do palco para agradecer pelas políticas para as pessoas com deficiência: 'A elite se perdeu e abriu brechas para uma aberração como Bolsonaro', disse
Agradecimentos

Lula aproveitou o ato de encerramento da caravana em São Luís para agradecer aos governadores e 
prefeitos que receberam a comitiva em seus estados, suas cidades. Também agradeceu ao MST, à 
CUT, à Contag, aos sindicatos locais, "pela dedicação extraordinária para que pudéssemos colher 
carinho e sugestões do povo".
A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), incentivou seus sindicatos 
filiados às noves federações locais no Nordeste a se envolver na caravana. "Está sendo uma 
oportunidade muito boa de a gente discutir com a população o que está acontecendo com o Brasil. O 
Lula não traz apenas esperança, traz também consciência, para que as pessoas entendam o que está 
acontecendo com o Brasil e a gente possa sair desta situação", observou o presidente da Contag, 
Aristides Santos.
A secretária nacional de combate ao racismo da CUT, Júnia Nogueira, chegou à caravana durante 
esta passagem pelo Maranhão. "Minha participação está se dando no meu estado natal, mas 
acompanho a caravana pelas redes sociais e Lula acertou em ter construído essa caravana que, no 
Nordeste, tem sido um sucesso total. O objetivo principal dela é o presidente dialogar com a 
sociedade local e, acima de tudo, ouvir o que a população nordestina, que tanto se beneficiou das 
políticas sociais do governo Lula, está pensando e querendo", disse.
O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro 
Stédile, destacou: "Não podemos apenas vir aqui e bater palmas para o Lula. Como militantes e 
representantes do povo brasileiro, temos que arregaçar as mangas e lutar. A luta é para amanhã, e 
depois, e só termina 1º de janeiro de 2019. O Brasil tem jeito. O Brasil tem futuro. O Brasil tem um 
povo lutador. E nós temos vontade política. Em 2018, vamos colocar de volta nosso companheiro 
Lula. A direita está perdida porque eles não representam o povo, não têm líderes do povo. Eles só 
têm uma forma de impedir que o povo volte ao poder, que é impedir o companheiro Lula".
Stédile anunciou que os movimentos sociais estarão novamente solidários ao ex-presidente na 
ocasião de seu próximo depoimento ao juiz de primeira instância Sérgio Moro, no dia 13, em 
Curitiba. "O Judiciário tem que estar com o povo e não contra, como estão", disse.
O ex-presidente encerrou o último ato de sua viagem com uma saudação especial ao movimento 
social: "Termino essa caravana muito grato ao movimento social, porque fizeram acontecer a 
caravana que mexeu com o coração do povo brasileiro, apesar de a grande imprensa não ter dado 
uma única notícia em todos esses dias".
Em entrevista aos jornalistas da mídia alternativa, Lula já tinha criticado a postura dos jornais, 
revistas e emissoras de TV e rádio comerciais. "Se a elite não sabe fazer, por favor, não se escondam 
atrás de mentiras. Disputem as eleições pra gente recuperar o Brasil para os brasileiros. Eles que se 
cuidem porque o povo brasileiro vai voltar a governar esse país."

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