segunda-feira, 7 de agosto de 2017

"Vai dar merda com Michel" está com Fachin


O edificante diálogo entre Eduardo Cunha - o que o Janot manteve em liberdade até perder a 
serventia - e Henrique Eduardo Alves - os dois, Cunha e Alves, encarcerados - chegou às mãos 
do Ministro Fachin, por gentileza da Polícia Federal.

“Vai dar merda com o Michel”, diz Cunha em mensagem de 
O nome do presidente Michel Temer (PMDB) aparece em uma troca de mensagens de celular entre os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) sobre um acerto que seria feito com o dono da JBS, Joesley Batista, numa conversa que, para a Polícia Federal (PF), tem indícios de negociação de propina.
A conversa, que cita "três convites" de Joesley que seriam repassados aos peemedebistas, aconteceu em 2012 e estava no celular de Cunha, apreendido pela Polícia Federal. Para a PF, os "três convites" podem ser a forma disfarçada de falar em propina.
O diálogo integra o relatório da PF que foi anexado na semana passada a uma das ações cautelares que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF). Com 186 páginas, o documento foi redigido em dezembro do ano passado, dentro das investigações sobre Eduardo Cunha, preso pela Lava Jato.
Na ocasião, 22 de agosto de 2012, Alves e Cunha eram deputados e Temer, o vice-presidente da República. Estavam em curso as eleições municipais, das quais nenhum dos três eram candidatos.
Alves informa Eduardo Cunha sobre o resultado de uma conversa com “Joes”. A PF afirma que se trata de Joesley Batista. "Joes aqui. Saindo. Confirme dos 3 convites, 1 RN 2 SP! Disse a ele!", escreveu Alves.
Cunha reagiu: "Ou seja ele vai tirar o de São Paulo para dar a vc? Isso vai dar merda com o Michel. E ele não estaria dando nada a mais".
Para a PF, convite é um código para propina.
“A utilização do termo ‘convites' pode ser uma tentativa de mascarar uma atividade de remessa financeira ilegal, já que, caso fosse um procedimento que obedecesse estritamente as normas legais, não haveria o porquê do uso deste termo”, diz o relatório.
Outro trecho do relatório da PF levanta a suspeita de que se trata de pagamentos durante a campanha.
“A hipótese seria que três repasses originados do acerto com o grupo JBS fossem relacionados a MICHEL TEMER, lembrando que era um momento eleitoral, porém houve a intervenção de HENRIQUE ALVES para que 1 (um) fosse direcionado ao Rio Grande do Norte, fato que poderia gerar alguma indisposição com MICHEL TEMER, segundo EDUARDO CUNHA”.


O diálogo mostra o potencial da delação que Eduardo Cunha negocia com a Procuradoria Geral da República. A conversa reforça, ainda, informações que Joesley Batista deu à Justiça em sua delação premiada, em maio deste ano. Ele afirma que deu, via caixa dois, R$ 3 milhões _ número similar ao dos convites _ para a campanha de Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo em 2012, a pedido de Temer.
No dia seguinte do diálogo, 23 de agosto, uma nova conversa entre Cunha e Henrique Eduardo Alves releva a suspeita de que esses valores podem ter relação com a liberação de dinheiro público da Caixa Econômica para Joesley Batista, no FI-FGTS.
Cunha envia mensagem a Alves dizendo que iria conversar com Joesley Batista. “Vou resolver com ele de qualquer forma porque tem o assunto de ontem dele que foi aprovado”.
Essa mensagem foi enviada às 14h22. A PF ainda recuperou mensagens do mesmo dia, que já tinham sido anexados em outro relatório policial. Pouco antes da meia-noite, Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Temer e à época dirigente na Caixa Econômica, informa a situação da holding de Joesley Batista, a J&F, nos pedidos de investimentos do FI-FGTS. “J e F: voto está pronto para pauta, porém surgiu pendência junto ao FGTS. que segundo Dijur impede assinatura. Fala para regularizar lá”, escreveu Geddel.
Para a PF, esse diálogo revela a conexão entre "Joes", FGTS e os "convites" que seriam repasses de campanha.


Somadas, essas mensagens mostram três das pessoas mais próximas de Temer - Geddel, Eduardo Cunha e Henrique Alves - tratando de “convites” de interesses do presidente da República e repasses do FGTS.
Três dias depois, Cunha alerta Henrique Alves que Joesley Batista pode não cumprir o combinado sobre o Rio Grande do Norte. Cunha sugere, ainda, contornar Michel Temer. Henrique Alves, por sua vez, diz: “o problema é dele com o Michel”.
Henrique Eduardo Alves: Ok . Não esqueça conversa. E Joes?
Eduardo Cunha:Vou resolver dentro de outra ótica, sem tocar em Michel. O cara foi malandro e vc caiu e não vamos nos atritar por isso, ele vai resolver e pronto, deixa para lá.
Henrique Eduardo Alves: Cai não. Me garantiu, concordei. De onde problema dele com Michel Ok


O relatório é de dezembro do ano passado, cinco meses antes de Joesley Batista fazer a delação e emparedar Temer numa crise sem fim. Já naquele momento, a PF colocava o celular de Eduardo Cunha como indício do esquema do FGTS.


O ainda vice-presidente Michel Temer com Eduardo Cunha, quando era deputado, em 2015. 
(Créditos: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

A assessoria da Presidência da República informou que não comentará o caso. O advogado de Eduardo Cunha, Délio Lins e Silva Júnior, também não quis se pronunciar sobre o assunto.

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