quinta-feira, 20 de julho de 2017

MARCO AURÉLIO GARCIA: UM HERÓI NACIONAL !!!


Marco Aurelio Garcia, ex-assessor especial da Presidência da República, Morreu 

O ex-assessor especial da Presidência dos governos Lula e Dilma Marco Aurélio Garcia morreu 
nesta quinta-feira (20/07), aos 76 anos. A assessoria de imprensa do PT disse a Opera Mundi que a 
morte foi em decorrência de um infarto fulminante.
MAG, como era conhecido, foi artífice da construção da política externa brasileira durante o governo 
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tendo sido um dos idealizadores das relações Sul-Sul e 
dos Bics. Ele era filiado ao PT e professor aposentado da Unicamp.
Segundo o partido, os líderes da agremiação devem se pronunciar em breve sobre o falecimento do 
ex-assessor especial, que serviu nos governos Lula e Dilma.
Biografia
Garcia começou a carreira como vice-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) e 
militante do Partido Comunista, “a única opção de esquerda em Porto Alegre” na época, contou, em 
entrevista a Opera Mundi em 2009. Para seu grupo, Luís Carlos Prestes era uma figura respeitada, 
mas já do passado. Os jovens eram mais inspirados pelo que se passava em Cuba, onde um punhado 
de guerrilheiros barbudos conseguira derrubar a ditadura de Batista.
“No início, a gente desconfiava um pouco da Revolução Cubana, parecia um modelo muito 
heterodoxo. As coisas mudaram com o golpe de Estado no Brasil: começamos a olhar para o Partido 
Comunista de maneira muito mais crítica e a acreditar na luta armada”, contou.
Um ano em Paris – onde a mulher e parceira intelectual Elisabeth Souza Lobo queria estudar 
sociologia da literatura – confirmou a sensação de que o mundo inteiro estava prestes a passar por 
uma revolução.
“Eu queria escrever uma tese sobre a sociologia do marxismo no Brasil, que acabei não fazendo. 
Decidimos que não podíamos perder mais tempo na Europa, era urgente participar deste processo”, 
lembrou. Em Paris, não dava para entender o alcance do Ato Institucional número 5, de dezembro de 
1968, decreto mais duro do regime militar.
Quando o casal chegou a Porto Alegre, em janeiro de 1969, a universidade tinha lhe retirado a oferta 
de um posto de professor. O jovem historiador tornou-se, assim, jornalista no diário gaúcho Zero 
Hora. “Foi legal. Aprendi a escrever rapidamente, com mais objetividade, e perdi minhas ilusões: no 
final das contas, o que você escreve hoje é usado para embrulhar o peixe na feira do dia seguinte”, 
contou, rindo.
“Nunca fui trotskista, apesar do que todo mundo acha, inclusive o Lula. Eles veem como prova o 
nome do meu filho, Leon, mas não tem nada a ver com Trotsky, é só um nome bonito”, insiste, sem 
convencer. Marco Aurélio apenas reconheceu ter sido influenciado pelo pensamento trotskista, que o 
ajudava a “escapar dos esquemas tradicionais”, e ter mantido “boas relações com os quadros da LCR 
[Liga Comunista Revolucionária, da França]”.
A pressão dos militares incentivou o casal Garcia a deixar o Brasil mais uma vez. “Naquele 
momento, me senti um desertor, alguém que fugia de uma obrigação moral muito forte. 
Retrospectivamente, fizemos bem”. Marco Aurélio e Elisabeth foram para Montevidéu, de onde 
fogem depois de alguns meses, no dia da queda dos tupamaros. “Eu vivi o filme ‘Estado de Sítio’, do 
Costa-Gavras, ao vivo”.
Destino: Santiago do Chile, sacudida pela recente eleição de Salvador Allende. “O Chile era uma 
democracia e a chegada ao poder da Unidade Popular foi uma experiência única. Para mim, era 
também a possibilidade de dar aula numa universidade, que era meu sonho”.
“Toda minha vida, fiquei dividido entre a militância política e a vontade de fazer carreira 
universitária. Talvez por isso, acabei não sendo nem um bom político, nem um bom intelectual. A 
divisão teve sua riqueza: o trabalho intelectual pode ser útil para o militante, e vice-versa. Acho a 
esfera acadêmica excessivamente dominada por uma perspectiva cética. O ceticismo é importante, 
mas ter algumas certezas pode ajudar a escolher o bom caminho intelectual”, disse.
Chile
Membro do MIR, um dos principais grupos da esquerda chilena da época, ele assistiu, impotente, à 
derrubada do governo socialista e da Unidade Popular, em setembro de 1973. “No dia do golpe, 
estávamos uns 40 reclusos na universidade, com algumas armas ridículas, esperando o levante 
popular que, obviamente, nunca aconteceu”.
Após ficarem presos por algumas horas, os brasileiros conseguiram se refugiar na Embaixada do 
Panamá, antes de se espalhar entre a Argentina, ainda democrática, o México e a Europa. Marco 
Aurélio e Elisabeth escolheram Paris, onde acabaram ficando de 1974 a 1979, dando aulas na 
universidade. Na época, a capital francesa era uma verdadeira encruzilhada de latino-americanos.
O MIR encarregou Marco Aurélio de organizar a militância na Europa. Munido de um passaporte de 
refugiado, podia circular à vontade para organizar reuniões e juntar dinheiro para a resistência. Mas 
as missões podiam ser bem mais complicadas. Certa vez, o comando do partido pediu para ele levar 
para os companheiros clandestinos no Chile 110 mil dólares, uma fortuna para a época.
”Sabia que era muito perigoso. Todos os que tentaram cumprir esta tarefa antes acabaram mortos em 
alguma parte do Chile”, diz. Marco Aurélio não tinha disposição para o heroísmo, mas acabou 
topando. “Uma vez mais, senti o peso daquela obrigação moral e política”.
Em 1979, a distensão do governo militar permitiu ao casal Garcia (Marco Aurélio e Elisabeth) voltar 
para o Brasil, desta vez diretamente para São Paulo. Na chegada, encontram outro país, um 
movimento operário potente e um novo líder: Lula. A criação do Partido dos Trabalhadores, em 
1980, parece um sopro de ar fresco.
“O partido tinha uma diversidade extraordinária, que impedia qualquer ortodoxia. A coisa que nos 
seduzia muito é que o setor hegemônico, constituído pelo núcleo sindical, não tinha nenhuma 
ideologia hegemônica”, lembra. A partir deste momento, a aventura do PT confundiu-se com a luta 
pela redemocratização do país e a conquista da presidência.
Sua querida Elisabeth Souza Lobo, mulher e parceira intelectual, não veria o sonho se realizar. Em 
1991, ela falece brutalmente num acidente de carro. Marco Aurélio era muito discreto em relação a 
este episódio, como explicou em artigo escrito na época: “Não vejo razão, nem interesse, para falar 
dos sentimentos de ausência e perda que me atravessam e, imagino, a todos aqueles que estiveram 
muito próximos de Elisabeth, não apenas no plano intelectual e político” (Teoria & Debate n° 14, em 
30/06/1991).
A eleição de Lula em 2002 e as primeiras batalhas no governo mudaram sua percepção das 
qualidades do PT. “Com o tempo, a falta de ideologia hegemônica virou um problema, que 
começamos a entender de maneira aguda depois da eleição de Lula. Como partido de esquerda, 
tínhamos dado um passo importante com a decisão de disputar o poder. Mas com uma concepção do 
poder errada, como se fosse um lugar, o proverbial palácio de inverno. O poder não é um lugar, é 
uma relação de força”.
Com Lula, o país avançou muito, mas a esquerda não tomou o poder, na concepção dele: “Como 
você pode considerar que tomou o poder com a imprensa que temos no Brasil? Ou com o peso do 
capital financeiro?”. Por este erro, Garcia se sentia responsável, junto com os outros intelectuais do 
partido. “Era nossa tarefa, não a dos dirigentes operários”.
O julgamento de Garcia, na época, sobre a atuação do PT, era duro: “Tudo o que um partido de 
governo tem que fazer não foi feito. O PT tinha que, de um lado, cobrar mais do governo sobre 
questões como a política econômica, e do outro, felicitar o governo quando anunciava por exemplo 
um forte aumento do salário mínimo. Mais que tudo, o partido tinha que apoiar o governo em 
momentos cruciais, como a crise de 2005 [causada pelo chamado mensalão]. Ao contrário, o partido 
ficou silencioso, perplexo”.
Garcia ficou no governo Dilma até o golpe contra a então presidente, em 2016.
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