terça-feira, 4 de julho de 2017

BELTERRA NÃO É SÓ SOJA E AGROTOXICOS: Trabalhadoras rurais criam associação agroecológica


Sandra Pereira e Selma Ferreira, duas das associadas da Amabela, Associação de Mulheres 
Trabalhadoras Rurais do Município de Belterra / Bob Barbosa

Em região dominada pela soja e agronegócio, mulheres aliam 
demandas produtivas às pautas feministas

Por Bob Barbosa no Brasil de Fato 

“É a minha segunda família. Eu me emociono muito quando eu me lembro que vim para o sindicato, 
nunca imaginei que eu iria trabalhar com esse grupo de mulheres, eu nunca tinha saído da minha 
casa para associação nenhuma. E quando, no sindicato, eu descubro a maravilha de trabalhar com as 
mulheres da minha categoria, as trabalhadoras rurais, foi a coisa mais linda que aconteceu na minha 
vida.”
A frase acima é da agricultora Selma Ferreira. Ela faz parte da Amabela, a Associação de Mulheres 
Trabalhadoras Rurais do Município de Belterra, no interior do Pará.
O Brasil de Fato conta, em três reportagens, a história desta associação de 75 trabalhadoras rurais 
que alia demandas produtivas às pautas feministas, tendo como princípio a agroecologia. 
O tema da primeira reportagem de Bob Barbosa, enviado especial a Belterra, é o contexto em que 
surgiu a Amabela.
Belterra de muitos contrastes
Quem chega a Belterra, município de 17 mil habitantes no oeste do Pará, logo percebe que se trata de 
um lugar com muitos contrastes. Metade do seu território faz parte da Floresta Nacional (Flona) do 
Tapajós, uma Unidade de Conservação (UC), com 25 comunidades tradicionais, onde vivem 5 mil 
pessoas, entre indígenas e ribeirinhos.


Na outra metade do município, o que domina a paisagem são as lavouras de soja. O ar que se respira 
ali vem sendo constantemente afetado pelas pulverizações aéreas de agrotóxicos. No meio desse 
cenário, está o pequeno e bucólico centro de Belterra.
Uma inusitada sequência de casas tipicamente norte-americanas, sem muros ou cercas, compõem a 
principal rua da cidade. As casas, assim como hidrantes e caixas d’água de metal espalhadas pela 
cidade, foram construídas pelo empreendimento estadunidense que se instalou na região para 
explorar látex, na década de 1930.
O desejo de Henry Ford em transformar Belterra numa próspera exportadora de borracha, porém, 
não vingou. Menos de dez anos depois, a empreitada na Amazônia virava ruína. Sequer deu tempo 
de Ford conhecer a “sua bela terra”.
A maioria dos trabalhadores e trabalhadoras rurais da agricultura familiar de Belterra descendem de 
imigrantes nordestinos que vieram para trabalhar como mão de obra no sonho americano da borracha.
Somente décadas depois, na virada dos anos 2000, apareceram em Belterra os produtores de soja, 
vindos do sul. Diferentemente da borracha, a soja é atualmente um rentável produto de exportação, 
garantindo lucro aos proprietários dessas lavouras.
Nesse processo, grande parte dos agricultores familiares foram vendendo seus lotes e passaram a 
morar em terrenos menores, próximos ou até dentro da área urbana de Belterra. No entanto, eles 
mantiveram o hábito de cultivar roçados e de criar pequenos animais. Outros seguiram nas suas 
terras, cercados pelas propriedades de soja. Seus roçados, contudo, ficaram vulneráveis aos efeitos 
dos agrotóxicos que são sistematicamente aplicados na vizinhança.
Dentro desse contexto, de contrastes sociais, econômicos e ambientais é que surge, em 2015, uma 
organização composta exclusivamente por mulheres da agricultura familiar: a Associação de 
Mulheres Trabalhadoras Rurais do Município de Belterra, ou simplesmente Amabela, que conta hoje 
com 75 agricultoras.
Nascida no sindicato
Como lembra a agricultora Selma Ferreira, a história do surgimento da Amabela passa pelo Sindicato 
dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Belterra, o STTRB. Na ocasião, em 2013, Ferreira era 
secretária de finanças do sindicato (ainda é) e recebeu como missão encaminhar a participação das 
mulheres em um edital aberto pela Fase Amazônia, via Fundo Dema - criado em 2003 para apoiar 
projetos coletivos de valorização socioambiental organizados por indígenas, quilombolas, 
comunidades extrativistas, ribeirinhas e da agricultura familiar.



O edital apoiava pequenos projetos elaborados necessariamente por mulheres no Baixo Amazonas, 
região que compreende vários municípios do oeste e noroeste do Pará. Por meio de um processo 
construído coletivamente entre a Fase e as mulheres, não só com as de Belterra, mas também de 
outros municípios, como Santarém, Oriximiná e Terra Santa, surgiu o Fundo Autônomo de Mulheres 
Rurais da Amazônia Luzia Dorothy do Espírito Santo.
Para acessar o fundo, nesse primeiro edital, muitos dos projetos inscritos tinham como objetivo criar 
associações de mulheres. Sara Pereira, educadora popular da Fase Amazônia, explica que as 
mulheres “queriam ter uma organização que tivesse estatuto, que tivesse uma questão contábil 
estruturada, para poder depois acessar outros recursos, em outros editais, em outros projetos”.
Em Belterra, Ferreira visitou as mulheres agricultoras, nas comunidades locais, preparando com elas 
a organização da futura associação. Para cumprir as exigências do edital, a Casa Familiar Rural de 
Belterra ofereceu o CNPJ e assim elas conseguiram acessar o fundo. Em 16 de maio de 2015, na 
sede do sindicato, foi oficializada a criação da associação e eleita a primeira diretoria da Amabela. 
Entre as fundadoras estava Maria Irlanda de Almeida, que tem uma história de lutas dentro do 
sindicato e que, na Amabela, é uma das agricultoras mais atuantes hoje. “A associação está com dois 
anos, nós já temos o nosso próprio CNPJ, direitinho. Temos projetos que já acessamos, como o 
projeto dos pintos e a criação de galinha caipira integrada à horticultura. Já começamos a receber os 
nossos pintinhos. Nesse projeto são 21 mulheres, e cada uma recebe 50 pintinhos para que a gente 
possa dar o ponta pé inicial na criação dessas galinhas caipiras".
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