Segundo a PM, decisão foi dos dependentes, mas a prefeitura diz que novo local favorece
atendimentos
FELIPE BETIM
Um mês. Este foi o tempo necessário para que a aglomeração de dependentes e usuários de drogas
FELIPE BETIM
Um mês. Este foi o tempo necessário para que a aglomeração de dependentes e usuários de drogas
que forma a cracolândia de São Paulo deixasse a praça Princesa Isabel e retornasse à sua antiga zona,
dessa vez ao lado da estação Júlio Prestes e da Sala São Paulo. No último 21 de maio, uma operação
da Polícia Militar (PM) e da Guarda Civil Metropolitana (GCM) expulsou usuários e traficantes da
rua Helvétia e Alameda Dino Bueno, na mesma zona. Foi o início de uma série de ações do
governador Geraldo Alckmin e, sobretudo, do prefeito João Doria, que lançou o programa anti-crack
Redenção com a promessa de extinguir a questão. Nesta quarta-feira, entretanto, um usuário gritava
enquanto atravessava a rua Helvétia sob o olhar atento dos policiais: "Estou em casa de novo!". O
chamado "fluxo" – o mercado aberto de drogas – se encontra agora em uma pequena praça da
Alameda Cleveland, uma via paralela à Dino Bueno, na esquina com a Helvétia. Praticamente onde
estavam antes.
A movimentação começou por volta das 20h, quando uma multidão deixou a Princesa Isabel
A movimentação começou por volta das 20h, quando uma multidão deixou a Princesa Isabel
correndo e atravessou cerca de 400 metros até o novo fluxo. Adriano foi um dos últimos a deixar a
praça. "Foi uma ordem do comando aí. Falaram pra gente ir pra outra praça, que esta era histórica e
tal", contou, enquanto recolhia seus pertences. A polícia nada fez e não estava claro, até a publicação
desta reportagem, a que "comando" Adriano se referia.
O capitão da PM Marcelo Martin explicou que a movimentação foi repentina e partiu dos próprios
O capitão da PM Marcelo Martin explicou que a movimentação foi repentina e partiu dos próprios
usuários. Em princípio, disse, os agentes respeitaram o direito de ir e vir deles. Mas depois
receberam ordens para deixar os dependentes no outro local. "Ali é um lugar menor, melhor para
controlar. E para a prefeitura é mais fácil de fazer as abordagens", explicou o capitão.
O secretário municipal de segurança urbana, José Roberto Rodrigues de Oliveira, confirmou ao EL
PAÍS que, para a prefeitura, o novo local é melhor. "Eles agora estão perto dos equipamentos de
atendimento". Enquanto os últimos usuários recolhiam seus pertences na Princesa Isabel, o secretário
dava a orientação de deixá-los sair de forma natural e esperar que a praça estivesse vazia para que a
limpeza fosse feita.
A nova localização da cracolândia está ao lado de uma sede do programa Recomeço (Governo do
A nova localização da cracolândia está ao lado de uma sede do programa Recomeço (Governo do
Estado), de uma tenda que pertencia ao programa Braços Abertos (gestão Haddad) e de um CAPS do
programa Redenção (gestão Doria). Está mais perto também de uma unidade de atendimento da
prefeitura que oferece alimentação, banheiro e camas para dormir. Durante a movimentação, a PM e
a Guarda Civil Metropolitana bloquearam o acesso à Dino Bueno, onde até um mês atrás o chamado
"fluxo" se aglomorava. A Helvétia, contudo, estava livre para que os usuários passassem.
Com ações apressadas e improvisadas, a cracolândia tornou-se a primeira pedra no sapato da jovem
gestão Doria, iniciada em janeiro. A Prefeitura chegou a pedir autorização na Justiça para "buscar e
apreender" usuários de drogas que estivessem "vagando pelas ruas de São Paulo" para que fossem
examinados e, após aprovação judicial, internados compulsoriamente. O pedido foi negado e
arquivado. No entanto, com 60% dos moradores da capital apoiando as ações na região e 80%
dizendo ser favoráveis à internação compulsória, segundo uma pesquisa Datafolha, o prefeito
prometeu em diversas ocasiões que não iria recuar em suas medidas e decretou, mais de uma vez, o
fim da cracolândia.
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