sexta-feira, 30 de junho de 2017

Morre Simone Veil, sobrevivente de Auschwitz, política e feminista

Simone esteve à frente da legalização do aborto na França em 1975 e foi a primeira mulher eleita presidente do Parlamento Europeu
Morreu em Paris nesta sexta-feira (30/6), aos 89 anos, Simone Veil, sobrevivente do holocausto, conhecida por ter sido a primeira mulher eleita presidente do Parlamento Europeu (1979) e pela defesa da legalização do aborto.

Simone nasceu em 13 de julho de 1927, em Nice, no sul da França. Em 1944, quando tinha 16 anos, todos os membros de sua família – seus pais, seu irmão e suas duas irmãs – foram deportados. Eram judeus não praticantes. Ela, a mãe a uma de suas irmãs acabaram no campo de concentração nazista de Auschwitz. Somente as três filhas sobreviveram.
“Acho que sou uma otimista mas, desde 1945, não tenho ilusões. Dessa terrível experiência, guardei a convicção de que alguns seres humanos são capazes do melhor e do pior”, disse em uma entrevista dez anos atrás ao jornal espanhol El País.
Depois do fim da guerra e ao longo de sua carreira política, militava pela preservação da memória, uma das razões por que não apagou o número de prisioneira 78651, tatuado em seu braço pelos nazistas.
Estudou direito na Ciências Po, em Paris. “Eu tinha uma ideia romântica da advocacia, queria defender as viúvas, os órfãos”.  Casou, teve três filhos. Trabalhava como advogada, participou da redação do Código Civil e da lei de adoção. Até que recebeu um convite para trabalhar como funcionária do alto escalão na magistratura até que, em maio de 1974, o então presidente Valéry Giscard d’Estaing a nomeou ministra de Saúde.
Em novembro de 1974, o governo levou ao Parlamento a medida que ficou conhecido”Lei Veil”, legalizando o aborto. A lei foi aprovada em 17 de janeiro de 1975, resgatando o que Simone chamava de “uma convicção de mulher”. O argumento da então ministra era de que nada justifica manter uma proibição que colocava em risco vidas e a saúde reprodutiva de milhões de mulheres.
“Não podemos continuar a fechar os nossos olhos quanto aos 300 mil abortos que todos os anos mutilam as mulheres deste país, que desrespeitam as nossas leis e que humilham e traumatizam aquelas que a eles recorrem”, declarou na época.
Na ocasião, enfrentou uma forte campanha da oposição conservadora. Foi acusada de “apoiar o genocídio” e de se comportar como nazista.
“A equiparação entre nazismo e comunismo me parece um erro. Sob o rótulo do totalitarismo, ocultam duas ideologias muito diferentes. No caso do nazismo, o que domina é a força racista, antissemita, nacionalistas ou da maldade. Enquanto a ideologia comunista está inspirada na vontade de melhorar o mundo repartindo a riqueza”, afirmou em uma entrevista em 2005.
Simone deixou o ministério para se candidatar ao Parlamento, quando foi eleita a presidente da Casa, cargo em que ficou até 1982. Aquele mandato foi o primeiro em que membros do Parlamento Europeu foram eleitos por voto direto.
Simone voltou a ocupar um cargo ministerial como titular de Saúde e Assuntos Sociais no governo do primeiro-ministro Edouard Balladur, entre 1993 e 1995, foi membro do Conselho Constitucional entre 1998 e 2007
Em 2010, tornou-se a sexta mulher a entrar para a Academia Francesa.

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