quarta-feira, 29 de março de 2017

Para Mano Brown, pobres estão mais conservadores e com mentalidade elitista


Líder do Racionais MC's, na Rádio Brasil Atual: "O cara que 
mora em uma comunidade e vota em um aristocrata, que 
nunca sofreu nada, se sente como o Doria"

São Paulo – Em participação no programa Hora do Rango, da Rádio Brasil Atual, na terça-feira (28), o rapper e líder dos Racionais MC's, Mano Brown, criticou a reforma da Previdência proposta pelo governo de Michel Temer. Ele classificou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287 como uma "limpeza" da próxima população de idosos. "A intenção deles é que os velhinhos morram antes, fazer uma limpeza, porque eles não vão sobreviver sem aposentadoria. Não dá para viver até os 70 anos para se aposentar, já que com 45 anos você não arruma mais emprego. A grande maioria trabalha no informal, no subemprego, sem carteira assinada. Vai ter um exército de gente jogada na rua", disse Brown apontou que a população da periferia está mais conservadora e lembra da vitória do prefeito João Doria (PSDB) no seu bairro, o Capão Redondo. "Lá ele teve 48% dos votos." Mesmo com o aval da sua comunidade, o rapper disse que medidas de Doria, como apagar os grafites da cidade, são retrocessos, mas que não se surpreende, pois acredita que a sociedade brasileira tem uma "mentalidade elitista".
"Quem votou no Doria, pensa como ele. O cara que mora em uma comunidade e vota em um cara aristocrata, rico de raiz, que nunca sofreu nada, ele se sente como o Doria. No governo Lula, a pessoa comprou um carro, uma moto, um celular caro, agora ela quer trancar tudo com um cadeado e colocar a polícia na porta para defender. Eu converso com as pessoas nas ruas. Tem quem diga que não leva o filho no CEU (Centro Educacional Unificado) porque é onde estão as 'piores crianças'. É a mentalidade elitista do brasileiro."
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Para o rapper, tal pensamento conservador da população faz com que policiais, religiosos radicais, homofóbicos e racistas sejam eleitos. "Você soma tudo e pergunta: quem tá elegendo? O Hitler? Não. É o brasileiro comum, mas que pensa como um alemão".
Ainda sobre política, Brown afirmou que a intolerância e os preconceitos presentes no Brasil foram alguns dos motivos do impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, afirma Brown. "Se você analisar que você teve um presidente que veio do nordeste, metalúrgico e as pessoas falavam que ele era analfabeto e sem diploma. Depois entrou uma mulher, em um país machista. De uma hora para outra, tudo acabou e voltou a ser o que era antes. O povo é intolerante com essas pessoas.
"Música
Sobre seu primeiro álbum solo, intitulado Boogie Naipe, lançado no final do ano passado, o cantor e compositor disse que, apesar de o disco seguir uma linha musical diferente do Racionais MC's, o novo trabalho também tem a sua cara. "Tem uma época da música, que vai de 1977 a 1982, quando eu era adolescente, que eu considero a melhor fase. A minha geração ouviu muita música americana e ouvimos muito funk, disco e alguma coisa de rock. O disco é inspirado nessa fase."
Ao falar sobre música, o artista voltou a criticar os preconceitos da sociedade sobre gêneros que fazem sucesso nas periferias, principalmente o funk. "Tem que tomar cuidado com os tipos de preconceito. O funk existe porque o povo aceita e elegeu como um estilo de música para ouvir. O funk não é a primeira música que fala sobre assuntos banais, a novela já fala sobre isso. Você vai ter preconceito com outro favelado? Com um moleque que podia estar no tráfico, mas está fazendo funk? Você está errado."
Ouça a íntegra da participação de Mano Brown no programa Hora do Rango.

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