terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Viveremos hoje mais um dia em que o Brasil sentirá vergonha de suas instituições


Bromance

Publicado no Tijolaço

Viveremos hoje mais um daqueles nada raros dias em que o Brasil sentirá vergonha de suas 
instituições.
A sabatina de Alexandre de Moraes na Comissão de Constituição e Justiça do Senado é um destes 
espetáculos de hipocrisia que ficará marcado no imenso capítulo de infâmia que se escreve, nestes 
tempos, na história brasileira.
Não se fala do seu saber jurídico – ainda que manualesco, como se Direito fosse apenas um 
compêndio onde a realidade social e a complexidade humana devam ser enquadrados como as 
vítimas do leito de Procusto – nem da inclinação conservadora do indicado.
O que salta aos olhos é a inaptidão moral de um cidadão que – a definição é insuspeitíssima, do 
Estado de S. Paulo – só as relações de compadrio com o Presidente ilegítimo da República 
explicavam estar no Ministério e explicam estar na condição de virtual Ministro do Supremo.
O ministro da Justiça e Cidadania, Alexandre de Moraes, não tem mais condições de permanecer no 
cargo, se é que algum dia as teve. Seu despreparo para tão importante função já estava claro havia 
algum tempo, mas o episódio em que ele antecipou a realização de operações da Polícia Federal (PF) 
no âmbito da Lava Jato, justamente na véspera da prisão do ex-ministro petista Antonio Palocci, teria 
de servir como gota d’água para sua dispensa, em razão de tão gritante imprudência. Infelizmente, 
porém, o presidente Michel Temer, sabe-se lá por que razões, preferiu contemporizar, correndo o 
risco de ter de enfrentar novas crises em razão do comportamento irresponsável de Moraes. (…)
E depois de listar as “obras” de Moraes, o ex-vetusto jornalão paulista aponta as tais razões: “Só 
velhas relações de compadrio podem explicar como o dono desse desastroso currículo virou ministro 
da Justiça.”
Tudo é mais grave quando o compadre – e os compadres do compadre – lotam o rol de delatados, 
investigados e – sabe Deus se serão um dia – potenciais réus a depender o juiz-compadre, cujo rigor 
jurídico permite copiar parágrafos e páginas alheios como se seus fossem e cuja noção de decoro 
bem se ilustra na visita ao Barco do Amor, a nau de má fama onde deu explicações à turma do pudim 
governamental.
Hoje, o Senado Federal transmuta-se na chalana Champagne, mas em escala muitíssimo mais 
condenável. Afinal, os encontros lá embarcados são da esfera privada e a promiscuidade que se terá 
na Comissão de Constituição e Justiça é pública, portanto um atentado ao pudor. Ao ponto de estudar-
se o providencial “sumiço” de seu presidente, Edison Lobão, para que não se passe o vexame de 
vermos juiz e réu trocando carícias verbais em público.
Recomenda-se o mesmo cuidado quando da votação no plenário do Senado, para que aquela estátua 
de Rui Barbosa que o domina, como os frades de pedra, não core ao se ver convertida na imagem de 
Nossa Senhora que protegia os estabelecimentos de luz mortiça no passado, chalanas de terra firme.
Alguém explique ao velho Rui que os tempos mudaram e encurtou-se a túnica da deusa da Justiça ao 
tamanho de um traje de Carnaval.
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