Jornal GGN - No curso da ação penal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outras seis pessoas por suposta compra de silêncio de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, o senador cassado Delcídio do Amaral reiterou a tese contra Lula, sem provas materiais e sem assumir o compromisso com a verdade.
Delcídio prestou depoimento nesta quarta-feira (15), na 10ª Vara Federal de Brasília, onde tramita o processo. Por cerca de três horas, o ex-parlamentar mostrou uma aparente "confissão", afirmando ter sido uma "sandice" procurar a família do pecuarista José Carlos Bumlai, supostamente a pedido de Lula, para obstruir a Justiça.
A investigação com base apenas na delação premiada de Delcídio, prestada à Procuradoria-Geral da República no último ano, sustenta que o ex-presidente atuou para comprar o silêncio de Cerveró, antes de que fechasse um acordo de delação com os procuradores da República.
Delcídio narrou que conversou com o ex-presidente em uma reunião no Instituto Lula, ainda em maio de 2015, sobre a possibilidade de Cerveró comprometer a ele e Bumlai em uma eventual delação. De forma completamente genérica, Lula teria dito a Delcídio para "ver essa questão do Bumlai".
O "ver essa questão" foi interpretado por Delcídio do Amaral como uma "ordem". Foi o ex-senador, então, que decidiu procurar a família do pecuarista, que por sua vez teria aceito pagar R$ 50 mil mensais de ajuda financeira à família de Cerveró.
"É nesse contexto que entendemos ter ele atribuído ao ex-Presidente Lula uma frase para que verificasse o que poderia ser feito para ajudar a família de José Carlos Bumlai. Essa afirmação, além de não comprovada, não configura qualquer tentativa de obstrução à justiça", informaram os advogados de Lula.
Se a narrativa hipotética confirma que o ex-presidente não emitiu uma "ordem" efetivamente, ainda, Delcídio admite em seu depoimento a responsabilidade: "cometi a sandice de tomar essa atitude".
A fragilidade do depoimento prestado nesta quarta vai além: tentando voltar a mira ao ex-presidente, o senador cassado tentou garantir que teve "muitas conversas solitárias com o presidente Lula", sem, ainda, lograr a apontar uma testemunha que confirmasse a sua versão.
"Delcidio ainda admitiu não haver testemunha dessa narrativa. Ele reconheceu não ter intimidade com Lula, apenas proximidade política por ser líder do governo a partir do início de 2015 e foi nessa categoria que o ex-Presidente o recebeu", reportaram os advogados Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira.
Delcídio do Amaral foi preso em novembro de 2015, por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), após o filho do ex-diretor da estatal, Bernardo Cerveró, apresentar aos investigadores um áudio de Delcídio com a família de Cerveró, negociando a "mesada" e, inclusive, incentivando uma fuga do ex-diretor à Espanha.
Em nota, Zanin e Teixeira afirmaram que as declarações "revelaram de forma inequívoca que ele tinha interesse próprio no processo de delação premiada de Nestor Cerveró".
"Delcidio Amaral admitiu que se sentiu ameaçado em conversas com familiares de Cerveró diante da possibilidade de o ex-diretor da Petrobras delatar supostos recebimentos de propina por ele, Delcidio, em contratos que a Petrobras firmou com a Alston e a GE, e, ainda, por supostas contribuições ilegais relativas à campanha de 2006 para o governo do Estado do Mato Grosso do Sul", publicaram.
Ainda, a defesa de Lula lembrou que em depoimento prestado também à Justiça de Brasília, o próprio ex-diretor Nestor Cerveró disse que Delcídio do Amaral tinha interesses próprios em suas investidas e que a negociação da "mesada" buscavam dissuadi-lo de delatar contra o próprio ex-parlamentar.
E não apenas Nestor Cerveró, como também a advogada do ex-diretor e seu filho Bernardo, confirmaram os interesses individuais de Delcídio, não podendo arrolar o ex-presidente Lula na tratativa planejada pelo ex-senador.
O ex-senador Delcídio do Amaral, réu em ação penal por obstrução da Justiça por suposta tentativa de impedimento da delação premiada do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, prestou depoimento nesta quarta-feira (15) na Justiça Federal de Brasília. Na mesma ação, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também é acusado de obstrução, por supostamente, de acordo com delação premiada de Delcídio, ter conversado com o ex-senador que trabalhasse para que Cerveró não assinasse um acordo de delação.
No depoimento desta quarta, Delcídio afirmou que já estava em contato com a família do executivo da Petrobras desde janeiro de 2015, muito antes, portanto, da reunião que teria tido com Lula em maio daquele ano, onde este assunto teria sido tratado.
Delcídio também afirmou que Lula não lhe pediu que obstruisse a delação de Nestor Cerveró. O ex-senador falou que não se lembra se foi ele ou Lula quem marcou a reunião de maio, nem a data exata da conversa, que teria acontecido em uma sexta-feira. Segundo Delcídio, só os dois estavam na sala. O assunto Cerveró teria surgido em dado momento, mas o ex-senador não sabe quem o mencionou, se ele ou Lula. "O assunto sobre a família Cerveró surgiu na conversa (com Lula). E eu disse que eles estavam enfrentando dificuldade, e que uma alternativa era tentar atendê-los de alguma maneira. Lula disse que estava muito preocupado com a família Bumlai, e disse 'veja o que você pode fazer' sobre a família Bumlai. E eu imediatamente contatei o Maurício Bumlai (filho de José Carlos Bumlai)."
Segundo Delcídio, o ex-senador e Maurício Bumlai acertaram pagamentos mensais de R$ 50 mil à família de Cerveró, que duraram cinco meses. Mas, ainda segundo o próprio Delcídio, ele não discutiu nada de dinheiro com o ex-presidente Lula, e que foi dele, Delcídio, a iniciativa de buscar o contato com o Maurício Bumlai. Essa seria, mesmo de acordo com o depoimento de Delcídio, a única suposta relação do ex-presidente Lula com as tratativas entre Delcídio e as famílias de Cerveró e Bumlai, que teriam acontecido entre janeiro e novembro de 2015.
Como a lei é clara ao determinar que ninguém pode ser condenado baseado apenas em delação premiada (realizada em troca de benefícios penais, o que é exatamente o caso do depoimento de Delcídio do Amaral), não há uma única prova que sustente a acusação de envolvimento do ex-presidente Lula em suposta tentativa de impedir a delação de Nestor Cerveró.
Em depoimentos anteriores como testemunha, tanto Bernardo Cerveró quanto Nestor Cerveró negaram que Delcídio tenha feito qualquer pedido de proteção em relação à José Carlos Bumlai ou Lula, e que as preocupações de Delcídio era apenas evitar citações ao próprio ex-senador. Delcídio negou essa fala de Cerveró feita na condição de testemunha, onde há a obrigação de se dizer a verdade, diferente da condição de réu de Delcídio.
Delcídio foi preso em novembro de 2015 graças à gravação de uma conversa dele com o filho de Cerveró, Bernardo. O ex-senador só deixou a cadeia ao acusar Lula em delação premiada, em processo da Operação Lava Jato.
No depoimento desta quarta, Delcídio também relatou que teve uma reunião com Lula, Edison Lobão e Renan Calheiros, e que Lula estaria preocupado com os desdobramentos da Lava Jato, não questionando a Operação em si ou fazendo qualquer tipo de obstrução à Justiça, mas manifestando “preocupação institucional”, com os efeitos dela no legado e na imagem do ex-presidente e de seu partido, o PT, após 13 anos de governo. Delcídio disse que Lula "teria razão", inclusive pelo posterior impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
No início do depoimento, advogados de Lula e outros réus levantaram uma questão de ordem sobre se o ex-senador seria ouvido como réu ou réu colaborador. Porque, como réu, ele teria direito de permanecer em silêncio, mas como réu colaborador, após um acordo de delação premiada, ele não teria o direito de permanecer em silêncio em nenhuma pergunta, além de ter o compromisso de dizer a verdade. Foi definido, então, que ele deporia como réu.
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