quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

“O que Moro fez com Dona Marisa é indescritível”, diz o embaixador Pinheiro Guimarães


O jornal argentino Página 12 traz em sua edição desta quarta-feira (15) uma entrevista com o embaixador Pinheiro Guimarães. Ele participou da missa do sétimo dia em memória de Dona Marisa Letícia, a esposa do ex-presidente Lula que morreu por causa de um acidente vascular cerebral que o PT atribui a angústia causada pelos processos judiciais causados apresentados pelo juiz Sergio Moro, responsável pela operação Lava Jato.
Página 12 afirma que Pinheiro Guimarães está indignado: "O que ele fez com Dona Marisa Moro é indescritível. Ele processou uma mulher irrepreensível sem evidência para alegações de corrupção. Quando nos referimos a Moro não podemos esquecer que estamos falando de um membro do Judiciário que foi treinado no Departamento de Estado, que viaja constantemente para a América. Moro sabe como ganhar a aprovação de Washington".
O diário informa que ele foi secretário-geral do Itamaraty e ministro de assuntos estratégicos, antes de ser escolhido como Alto Representante do Mercosul, cujo novo formato, agora sem a Venezuela e abertura para o mercado global como um dogma ideológico, foi apresentado por Michel Temer e Mauricio Macri, em Brasília.

P. Será que a cúpula presidencial da semana passada busca restaurar o modelo de integração de Fernando Henrique Cardoso e Carlos Menem?

R. Eu realmente não sei se este governo que emergiu do golpe contra o presidente Dilma tem a dimensão completa do que é uma política externa. Acho que eles são improvisados, começando com Temer e continuando através de seu ministro das Relações Exteriores Sr. (José) Serra. 
Os países mais importantes do Mercosul estão comprometidos com a abertura econômica para os Estados Unidos e as potências, apagando os ganhos desses anos, ele conseguiu conter a tentativa de impor a Alca, que foi rejeitada na Cúpula das Américas 2005 Mar de Prata.
Agora parece que queremos voltar a para a última década neoliberal, os anos 90.
Tenha em mente que o Mercosul nasceu no calor do Consenso de Washington, em 1991, com a assinatura de Fernando Collor de Mello e Carlos Menem, acompanhado por Luis Lacalle (Uruguai) e Andres Rodriguez (Paraguai), que eram os signatários do Tratado Assunção.
Para Cardoso e Menem, o Mercosul foi o início de um caminho para a criação de um mercado plenamente aberto, o que é um pouco contraditório: se a integração é ter uma tarifa externa comum, que limita a entrada de produtos de terceiros mercados, como os EUA. Temo que agora os governos conservadores do Brasil e da Argentina tentam remover a Tarifa Externa Comum, eu não sei se será possível, porque isso irá aumentar a oposição dos industriais.


P.O Risco Donald Trump rondou a reunião presidencial, obviamente por ser um fato que preocupa Brasília e Buenos Aires.

R. Trump É uma grande questão que eu ainda não decifrei, mas que, sem dúvida afetará dois governos que apostavam que ele não seria o vencedor nas eleições norte-americanas. Eu não poderia dizer que Trump é uma ameaça para a paz mundial maior do que teria sido Hillary Clinton.
Os Estados Unidos são um império, não pode ser analisado como um país, mas como um império como era nas relações britânicas ou romanos, e impérios não são democráticos. 


P. Você mencionou a relação de Moro com Washington, você pode dar mais detalhes?
R. Os jornais contam que o juiz Sergio Moro está viajando com uma frequência impressionante para os EUA, inclusive decidiu tirar um ano sabático na causa Lava Jato para estudar lá. Estudar? (Risos). O juiz está nos dizendo que depois de ter condenado Lula, até mesmo sem provas, deve deixar o país por um tempo, porque sua missão falha e absolutamente política estará concluída. Se não é política, por que só persegue líderes do PT e olha para o outro lado quando se trata de comprovada corrupto pertencente a outro partido?. Porque seu objetivo é destruir Lula. Hostiliza lo de forma legal e emocionalmente humilhante sua falecida esposa, violando sua casa... Estas atitudes são claramente ilegais, mas são recebidas com a aprovação pelas elites locais e com simpatia pela embaixada norte-americana.
Tolerar e admitir que Lula é um candidato a presidência em 2018 é algo inconcebível para Moro e ele fará de tudo para impedir, mas a verdade é que cada vez mais, eu acho que Lula vai ganhar e Moro não pode prende-lo.  
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