A cada dia que passa, fica claro o preço que a presidente deposta Dilma Rousseff teve que
pagar para garantir a governabilidade, antes do golpe parlamentar que a derrubou; para
conseguir os votos do PMDB no Congresso, Dilma teve que engolir Geddel Vieira Lima numa
vice-presidência da Caixa Econômica Federal e aliados de Eduardo Cunha em postos chave da
administração federal – todos, é claro, indicados pelo então vice-presidente Michel Temer;
agora que se sabe a finalidade dessas indicações, quem foi às ruas contra a corrupção se dá
conta de que a presidente honesta foi derrubada para que o PMDB, que vendia seu apoio no
Congresso, pudesse governar sem intermediários.
247 – A Operação Cui Bono, deflagrada na sexta-feira pela Polícia Federal, foi pedagógica. Revelou
que Geddel Vieira Lima, indicado por Michel Temer para uma vice-presidência da Caixa Econômica
Federal, estava lá com uma finalidade específica: garantir recursos para o PMDB e políticos aliados
por meio de propinas cobradas de grandes empresários. Tudo isso em parceria com Eduardo Cunha,
outro grande parceiro de Temer.
No modelo político brasileiro, do chamado presidencialismo de coalizão, Dilma se elegeu duas vezes
presidente da República, mas sempre em minoria no Congresso. A aliança com o PMDB, em tese,
deveria dar equilíbrio aos governos do PT.
No entanto, mesmo tendo Michel Temer como vice, a relação PT-PMDB sempre foi tensa. Políticos
No entanto, mesmo tendo Michel Temer como vice, a relação PT-PMDB sempre foi tensa. Políticos
como Geddel e Cunha, além de Eliseu Padilha e Moreira Franco, outros expoentes do quarteto ligado
a Temer, sempre cobravam mais espaços no governo.
Como Dilma conhecia as intenções desse quarteto, ela fazia o máximo possível para conter o
Como Dilma conhecia as intenções desse quarteto, ela fazia o máximo possível para conter o
estrago. Por isso mesmo, frequentemente, era acusada de inabilidade política. No glossário
peemedebista, ser inábil politicamente significa não entregar a mercadoria.
Dilma engoliu essa turma enquanto pôde. No entanto, quando Cunha se elegeu presidente da
Câmara, provavelmente financiando uma penca de deputados, como revelam as mensagens trocadas
com o Pastor Everaldo (leia aqui), o preço se tornou alto demais. Se antes era necessário entregar
apenas os anéis, agora era hora de dar os dedos, as mãos, os braços e os colares.
Como Dilma não cedeu, perdeu o pescoço. Curiosamente, no entanto, os brasileiros que foram às
ruas contra a corrupção contribuíram para a deposição de Dilma e para instalar no poder justamente
os maiores especialistas em mercantilização da política. A presidente honesta foi derrubada para que
o PMDB, que vendia seu apoio no Congresso, pudesse governar sem intermediários.
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