quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

O QUE É A FAMÍLIA DO NORTE, FACÇÃO RESPONSÁVEL PELA REBELIÃO EM MANAUS


Mais da metade dos mortos em Manaus não tinha ligação com facção

Do El Pais: FDN tem time de futebol e, acredita-se, 200 mil membros




Três lideranças da facção criminosa paulista
Primeiro Comando da Capital (PCC) foram
brutalmente degoladas entre junho e julho de
2015dentro de presídios de Manaus. Era apenas o
começo do episódio que ficou conhecido na capital
amazonense como o Fim de Semana Sangrento.
Entre a tarde de sexta feira, dia 17 de julho, e a
manhã de segunda-feira dia 20, foram 38
homicídios nas ruas da capital amazonense, boa
parte de pessoas supostamente ligadas ao PCC e a
outros grupos criminosos. As ordens para a
ofensiva partiram de dentro de presídios do Estado,
e existe a suspeita de que Policiais Militares
tenham participado do crime. Mensagens de celular
interceptadas pela Polícia Federal deixam claro o objetivo da ação: “Mano, esses cara que vestiram a
camisa do PCC aqui [no Amazonas] são uma vergonha para o crime (…) são todos safados. Esses
nós vamos matar é tudo”.
A mensagem que desencadeou o banho de sangue na capital partiu do telefone do traficante José 
Roberto Fernandes Barbosa. Conhecido dentro do sistema carcerário pelos apelidos de Z, Doido, 
Pertubado, Pertuba e Messi, ele é um dos fundadores da facção criminosa amazonense Família do 
Norte. Seu grupo se aliou ao Comando Vermelho (CV), originário do Rio de Janeiro, e tem 
praticamente o monopólio do tráfico no Estado e o domínio sobre o sistema carcerário local, além de 
exportar cocaína importada da Colômbia e Peru para a Europa. Os ataques contra o grupo paulista 
teriam sido provocados pela iniciativa do PCC de continuar batizando – expressão usada no crime 
para o recrutamento de novos integrantes -– apesar da desaprovação da Família do Norte.
De acordo com especialistas, os assassinatos ordenados por Barbosa em junho de 2015 estão na 
origem do rompimento da aliança de quase 20 anos entre o PCC e o CV. O fim da paz entre os dois 
grupos já custou a vida de ao menos 18 detentos em presídios de Roraima e Rondônia no início de 
outubro de 2016, a maioria deles ligados à Família do Norte e ao CV. Além disso, o caso mostra que 
a rixa entre as facções e o potencial de conflito dentro das cadeias já era conhecido há mais de um 
ano pelas autoridades.
Sem conseguir controlar a violência que tomava a capital e os presídios a mando da Família do 
Norte, o Governo do Amazonas propõe uma rodada de negociações com Barbosa, então detido no 
Complexo Penitenciário Anísio Jobim, para tentar chegar a um acordo de pacificação. Na tarde de 21 
de julho de 2015, três dias após o Fim de Semana Sangrento, Barbosa, um dos criminosos mais 
importantes da região Norte do Brasil, traficante internacional de cocaína e responsável por ordenar 
dezenas de homicídios, se sentou para conversar com o então secretário de Administração 
Penitenciária do Estado, o coronel reformado Louisimar Bonates. O líder da facção tinha sua própria 
agenda para as negociações: após a série de assassinatos, tinha receio de ser transferido para um 
presídio federal em outro Estado, onde ficaria isolado da Família do Norte e distante de sua mulher e 
filhos.
De acordo com a Polícia Federal, o encontro teria ocorrido na biblioteca do presídio, e Barbosa saiu 
da reunião satisfeito com o resultado da conversa. Além de obter do secretário a garantia de que não 
seria transferido para outro presídio, de quebra conseguiu nova vitória sobre os rivais do PCC. Em 
mensagem de celular enviada a outros traficantes, ele comemora: “Acabamos com o seguro [área dos 
pavilhões 1 e 2 destinada ao PCC] do Centro de Detenção Provisória. Eles [PCC] não têm mais 
nenhum pavilhão, porque esses vermes tinham dois pavilhões. Agora nós da Família estamos no 
controle de toda a cadeia”.
A área conhecida como seguro nos presídios é destinada a estupradores e presos vulneráveis no 
sistema carcerário. Como no Amazonas o PCC era minoria dentro das cadeias, por uma questão de 
segurança seus integrantes foram confinados nestes pavilhões específicos. Na prática, com o fim do 
seguro, os presos da facção paulista teriam de conviver com os rivais da Família do Norte, que 
contam com ampla superioridade numérica no Estado. Nesta situação teriam duas opções: ou 
mudariam para a outra facção ou seriam mortos.
Mensagem de texto enviada por João Pinto Carioca, vulgo Potência Máxima, terceiro na cadeia de 
comando da Família do Norte, confirma a reunião com o enviado do Governo: “Veja bem mano, o 
secretario veio aqui fala com o mano Z [Barbosa] para manter a paz dentro e fora do sistema. Ai o 
mano Z ganhou o pavilhão 1 e 2 onde era dos PCC vai ficar pessoal nosso lá”, diz uma das 
mensagens intecerceptadas pela PF. Em troca, Barbosa teria que ordenar o fim dos assassinatos. O 
grupo criminoso manteve sua parte no acordo com as autoridades. Em mensagem de celular enviada 
por João Carioca ele pede o fim das mortes: “Então, agora vou mandar brecar as mortes nas cadeias 
todas agora”.
(…)

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