terça-feira, 8 de novembro de 2016

CERVERÓ DECLARA QUE DELCIDIO MENTIU SOBRE LULA PARA SE SAFAR E DIZ QUE JAMAIS RECEBEU PRESSÃO DE LULA PARA OBSTRUIR DELAÇÃO


Delcídio agiu em interesse próprio e acusou Lula depois, aponta novo depoimento

Cíntia Alves

Jornal GGN - O novo depoimento de Nestor Cerveró, ex-diretor da área Internacional da Petrobras, na ação que corre no Distrito Federal contra Lula e outros réus por suposta tentativa de obstrução da Lava Jato, reforça o que o GGN publicou em setembro passado: que há a desconfiança de que o ex-senador Delcídio do Amaral agiu por interesse próprio tentando comprar o silêncio de Cerveró e, após ser pego em flagrante pela força-tarefa, aceitou fazer um acordo de delação premiada em que jogou toda a culpa em Lula. Com isso, se livrou do regime fechado, entre outros benefícios. (Leia mais aqui)
Cerveró já havia admitido que nunca soube da suposta participação direta de Lula na tentativa de evitar que ele fizesse uma delação citando Delcídio, em vídeo publicado pelo Estadão há dois meses. Na gravação, feita diante de um membro da força-tarefa da Lava Jato, Cerveró dá elementos suficientes para levantar a hipótese de que o ex-senador estava pagando seu advogado para evitar o acordo de cooperação.
O interesse de Delcídio em manter-se o mais longe possível das investigações é inegável. Em seus depoimentos, Cerveró sempre fez questão de contar que só chegou à Petrobras por indicação do ex-senador, quando este ainda estava no PSDB, na época de Fernando Henrique Cardoso como presidente. Ambos atuaram em negociatas que desviaram recursos da estatal muito antes de Lula ser eleito pela primeira vez, em 2002. Ao longo de 1990, o setor energético era o ramo dos acusados.
Nesta terça-feira (8), Cerveró participou de uma vídeoconferência com a equipe do DF para instruir o processo. Os jornais noticiaram que ele "reiterou as acusações contra Dilma e Lula", mas a defesa do ex-presidente destacou as falas que a mídia fez questão de deixar de fora.
A advogada de Cerveró, Alessi Brandão, por exemplo, relatou os bastidores da sua relação com seu cliente, sobre a condução das negociações para que ele obtivesse uma delação premiada com os procuradores da Lava Jato. Ela acusou o advogado Edson Ribeiro, que representava Cerveró e tinha proximidade com Delcídio, de dificultar o acordo de delação, junto com o ex-senador. Ela disse ainda que só ouviu sobre a suposta participação de Lula na tentativa de obstruir a operação quando Delcídio firmou o acordo de delação premiada. 
Cerveró também reiterou que não houve nenhuma outra pressão, a não ser a de Delcídio do Amaral, para que ele não fizesse delação. "Delcídio, ao acusar Lula sem provas, conseguiu fechar ele próprio um acordo de delação que permitiu que o ex-senador saísse da cadeia e ficasse em liberdade.  Ou seja, após atuar para impedir uma delação, bastou Delcídio acusar Lula sem provas para ele mesmo obter um acordo de delação premiada, ao atribuir a outro uma ação do próprio Delcídio", escreveu a assessoria do ex-presidente.
"(...) a audiência de hoje deixou claro que nosso cliente não praticou qualquer ato ilícito antes, durante ou depois do cargo de Presidente da República", comentaram Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira, em nota à imprensa.
O Estadão, contudo, preferiu destacar que "Cerveró reiterou acusações contra os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff." Contra Lula, o jornal apontou que ele foi o responsável por garantir um cargo na BR Distribuidora a Cerveró após sua saída da Petrobras por pressão da bancada do PMDB. Michel Temer, que foi citado em delações como uma das lideranças procuradas para manter Cerveró na estatal de petróleo, não ganha menção do Estadão.
Contra Dilma, o jornal publicou que Cerveró afirmou que "uma das informações que me foi dita pelo Edson [Ribeiro] é que o Delcídio teria mandado um recado dizendo que a presidente Dilma estava preocupada com os meninos e que precisava soltar os meninos. Os meninos, no caso, eram meu colega Renato Duque (ex-diretor de Serviços) e eu."
À Lava Jato, Delcídio desenvolveu um roteiro que inclui a família Bumlai. Disse ter sido convocado por Lula para achar um meio de evitar que José Carlos Bumlai, o homem que avalizou um empréstimo do banco Schahin ao PT, fosse delatado por Cerveró. Para isso, Delcídio teria buscado ajuda de custo com o filho de Bumlai, Maurício, e com André Esteves, do BTG Pactual - que também acompanhava o desenrolar dos acordos de cooperação. Não há confirmações de que os últimos dois tenham, de fato, contribuído com a empreitada de Delcídio.
A defesa de Lula destaca, ainda, que Delcídio só aceitou fazer o acordo porque sofreu um tipo de tortura na prisão: era condicionado a ficar numa sala sem ventilação e luz. O relato é feito pelo próprio ex-senador à revista Piauí e é usado para invalidar sua delação.

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