terça-feira, 4 de outubro de 2016

Eduardo Suplicy – Um petista insólito nas ruas de São Paulo


Vereador mais votado da história, com 301.446 votos, Eduardo Suplicy (PT) diz ter sido 
abatido por um tsunami em 2014, quando perdeu a vaga no Senado para José Serra depois de 
24 anos, mas se reergueu com as palestras que deu em 2016. “Sobrevivi e consegui enfrentar o 
tufão que atingiu o PT neste ano, tendo em conta a experiência de não ter ganhado a eleição de 
2014”, comenta, conforme relata a jornalista Catia Seabra, da Folha de S. Paulo. Ele conta que 
sua campanha esse ano custou R$ 120 mil, bem diferente de 2014, quando terminou o período 
eleitoral com uma dívida de R$ 500 mil e sem ser eleito. “Um custo de R$ 0,387 por voto”, 
destaca, sobre a nova cifra.


Nos últimos meses um petista insólito cruzou os espaços urbanos de São Paulo. Ele foi detido pela 
PM mais de uma vez, esteve ao alcance de riscos diversos, como o de ser alvejado pelas pérfidas 
balas de borracha. Nos diversos confrontos em que se fez presente, foi atingido por spray de 
pimenta, recebeu ameaça de ser surrado com cassetete, foi arrastado, discutiu com PMs e levou 
empurrões.
Sem dúvida, o fato mais significativo da esquerda nos últimos meses foi a presença constante de 
Suplicy no front das lutas populares em São Paulo. Ele enfrentou a polícia, combateu ao lado dos 
viciados em crack, dos sem teto e dos despejados. Não é pouco.
E agora foi eleito com uma votação consagradora, como o vereador mais votado do país, com mais 
de 300 mil votos. Isso prova que a esquerda está morta ou combalida? De forma nenhuma. Isso 
prova que o político de esquerda, escondido em seu gabinete, eternamente de terno, transportado por 
chofer em carro blindado, instalado longe dos riscos físicos, incapaz de pôr o corpo à prova, isto é, o 
político burocrata de esquerda, está morto.
Nem o Judiciário, nem a mídia, nem Sérgio Moro nem o STF, conseguiram privar Eduardo Suplicy 
dos votos que merecia. O espírito de burocracia do PT fez muita gente rir quando soube que ele seria 
candidato a vereador. Foi uma surpresa hilária.
Como? De ex-Senador para candidato à vereador? Muita gente ficou entre perplexa e divertida com 
a notícia. Mas, o fato, é que por si só, essa salto mortal da cúpula do senado ao subsolo da vereança, 
já deu muito o que pensar.
O que a recente trajetória meteórica (para baixo e para cima) de Suplicy prova? Que o PT não 
morreu para seu verdadeiro eleitorado, ao contrário. Esse eleitorado está clamando pelo PT. Mas não 
o PT, ou a esquerda burocrática e presunçosa, desfilando seu poder em carros oficiais, mas a 
esquerda de mangas arregaçadas e efetivamente ao lado dos pobres nos momentos de confronto.
Esse PT que está sendo demandado, não é um PT que nunca existiu. É, ao contrário, o PT que deu 
origem ao PT das grandes vitórias e que, depois, exatamente por sentir-se tão vitorioso, se afastou 
das ruas e se trancou nos gabinetes.
Colocar a questão de vitória ou derrota, de fim possível do PT, nos termos que fazem os analistas da 
Globo, nos seus comentários nauseantes e vazios, é seguir a cartilha da mídia, que só compreende a 
realidade pelo positivismo mais pedestre. Eles só reconhecem fatos, mas não sabem ler tendências.
Quem se restringir ao modelo de análise da Globo, vai contar prefeituras e vereadores, pode chegar a 
conclusões muito óbvias com os dados disponíveis – “O PT perdeu em quatro anos mais da metade 
das prefeituras...” – mas não pensará a política. Fora do ópio da Globo, fica claro que o PT perdeu, 
mas que essa derrota pode ter sido a melhor coisa que aconteceu a essa partido nos últimos 25 anos.
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