sexta-feira, 9 de setembro de 2016

SINDICATO DE LADRÔES: NUMA TACADA SÓ, CONGRESSO DEVE PERDOAR CAIXA 2 E LIMPAR FICHA-SUJA DE TEMER


Na minuta da proposta, há um trecho que brinda Michel Temer, que foi enquadrado na Lei da 
Ficha Limpa, segundo o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo; o projeto prevê, além do 
perdão ao caixa dois, anistia a todos os casos de doações em desacordo com a lei, como 
contribuições eleitorais de sindicatos e aquelas que ultrapassaram o valor permitido pela 
legislação eleitoral

Jornal GGN - Circula na Câmara dos Deputados, segundo reportagem publicada pelo Valor 
Econômico nesta quinta-feira (9), uma minuta de projeto de lei cujo objetivo é distinguir quem fez 
uso de caixa dois eleitoral para receber propina, ou seja, para enriquecimento pessoal, de quem fez 
ou recebeu doações à margem do sistema legal, de olho nas urnas. O GGN antecipou, há alguns 
meses, que a ideia de descriminalizar o caixa dois está inserida no contexto de encerramento da Lava 
Jato.
Pela lei atual, o caixa dois de campanha é crime eleitoral com baixo potencial punitivo. Não à toa, 
advogados de envolvidos na Lava Jato - incluindo José Serra e Michel Temer - disseram à jornalista 
Mônica Bergamo que estavam "aliviados" com o fato da delação da Odebrecht mencionar apenas 
repasses extraoficiais. Somente nos casos em que a força-tarefa consegue avançar na ideia de que o 
caixa dois serviu para lavagem de dinheiro e outras formas de corrupção é que há margem para um 
enquadramento legal que inclui multas pesadas e anos de reclusão.
No mês passado, a colunista Maria Cristina Fernandes, do Valor, também abordou o plano em curso 
para anistiar os políticos e empresários que poderiam ser pegos por conta do caixa dois. Ela indicou 
que a ideia tomaria a forma de um jabuti ao projeto de reforma política que Aécio Neves encabeça 
no Senado ou seria negociada no pacote anticorrupção que o Ministério Público Federal tenta 
emplacar no Congresso.
Nesta quinta, o jornal mostra que o plano, agora, é substituir projetos que tratam de financiamento 
eleitoral em tramitação na Comissão de Finanças e Tributações da Câmara por um texto próprio 
sobre a anistia ao caixa dois eleitoral.
Pela minuta do texto em construção, a partir do momento em que a lei entrar em vigor, será aberta 
aos interessados na anistia a possibilidade de fazer uma "delação premiada" junto ao Tribunal 
Superior Eleitoral - hoje presidido pelo ministro Gilmar Mendes - para confessar o uso de caixa dois 
no passado, e negociar o pagamento de multa de 35% sobre o valor da doação irregular. É a pena 
máxima.
O envolvimento do TSE é indicativo de que Gilmar pode entrar no jogo. Segundo o Valor, 
defensores da anistia "já sondam também integrantes da cúpula do Judiciário por apoio". No 
Supremo Tribunal Federal, o magistrado foi contrário a proibição do financiamento empresarial, 
alegando que isso é um incentivo a repasses não declarados ou ao uso de pessoas físicas por 
empresários comprometidos com doações vultosas.
Na minuta, ainda de acordo com o Valor, há um trecho que brinda Michel Temer, que foi enquadrado 
na Lei da Ficha Limpa, segundo o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, O projeto prevê, além 
do perdão ao caixa dois, anistia a todos os casos de doações em desacordo com a lei, como 
contribuições eleitorais de sindicatos e aquelas que ultrapassaram o valor permitido pela legislação 
eleitoral. Coincidentemente, Temer está inabilitado justamente porque doou cerca de R$ 16 mil 
acima do que sua renda declarada permite.
De acordo com o deputado Helio Rocha (PMDB-MA), vice-presidente da Comissão de Finanças da 
Câmara, já há vários parlamentares envolvidos nas negociações. "O entendimento é que quem 
recebeu no passado caixa dois referente a propina não tem perdão. Agora, se foi dinheiro dado sem 
nada em troca, pode anistiar. Não pode punir da mesma forma duas coisas distintas", disse ao Valor.
Mas que a classe política não se engane: o perdão não é suprapartidário. "Se for para anistiar os 
petistas de responderem as acusações da Lava Jato, não tem chance de passar", acrescentou o 
deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), também da Comissão de Finanças.
Limitar quem ainda pode ou não cair nas garras da Lava Jato é conveniente agora que a delação de 
Leo Pinheiro, da OAS, deve ser retomada pela força-tarefa da Lava Jato. Ela foi suspensa pela 
Procuradoria Geral da República após a revista Veja vazar parte de seu conteúdo, constrangendo o 
ministro Dias Toffoli, que foi prontamente defendido por seu colega Gilmar Mendes.
A expectativa é de que a delação de Odebrecht e OAS abra o leque de partidos implicados na Lava 
Jato, atingindo caciques do PMDB e PSDB. Só que se Pinheiro seguir os passos do executivo 
Marcelo Odebrecht e citar apenas a existência de caixa dois para candidatos e suas agremiações, o 
alcance da Lava Jato ficará restrito com a cartada da lei da anistia ao caixa dois.
Neste caso, o tucanato poderá usar a cartilha que Aécio desenvolveu para explicar parte de suas 
citações na Lava Jato. O principal argumento é que, ao contrário do PT, que dominou a máquina por 
mais de uma década até a queda de Dilma Rousseff, o PSDB não estava no poder, não tinha 
influência sobre obras do governo federal, muito menos um patrocinado na Petrobras. Logo, 
qualquer doação de empreiteira foi boa vontade da mesma, não uma troca de favores que poderia 
caracterizar pagamento de propina.
Uma vez superada a corrupção eleitoral passada, quem for pego por caixa dois a partir do momento 
em que a lei estiver em vigor será punido com três a 10 anos de prisão, no caso de doações 
envolvendo pessoas pessoas físicas. Para pessoas jurídicas, a pena será a proibição de contratar com 
o poder público ou obter subsídios por até oito anos.
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