quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Lava Jato recicla depoimento vazado contra Lula sem avançar na investigação



Cíntia Alves
Além de usar uma delação não homologada na denúncia contra Lula, Lava Jato demonstra que não avançou em nada em relação aos fatos narrados por Pedro Corrêa há quatro meses
Jornal GGN - Pedro Corrêa, ex-deputado do PP,  é uma figura curiosa na Lava Jato. Foi o único réu da operação que conseguiu fazer o sisudo Sergio Moro cair na gargalhada durante um depoimento. O mérito é da leveza com que admite os crimes de corrupção que vinha cometendo há mais de 30 anos - isso mesmo, muito antes do PT chegar ao poder.
No começo deste mês, em depoimento à força-tarefa para instruir um processo contra Lula, ele disparou que nunca esteve preocupado com o desenvolvimento da Petrobras, mas sim em desviar dinheiro da estatal para injetar em políticos do PP, impulsionando o desempenho da legenda. Além da naturalidade com que conta os esquemas, também gosta de interromper a entrevista para fazer comentários aleatórios. Por exemplo, que seria uma piada a vitória de Lucina Genro (PSOL) na disputa pela prefeitura de Porto Alegre, embora ela lidere pesquisas de opinião.
Esse depoimento recente de Corrêa foi publicado na página do Estadão no dia 15 de setembro [assista ao vídeo abaixo]. Um dia antes, a Lava Jato promoveu uma coletiva de imprensa em que expôs Lula como o chefe de toda a corrupção que existe no plano federal. Para subsidiar a denúncia, usou vários trechos da delação na qual o ex-deputado afirma que Lula sabia dos fins arrecadatórios das indicações políticas para a Petrobras. 


Com um calhamaço em mãos - provavelmente, cópia da delação premiada que acertou com o Ministério Público Federal no começo do ano - Pedro Corrêa lê tudo o que já disse antes sobre Lula. Inclusive resgata o episódio em que o ex-presidente teria ameaçado demitir o Conselho Administrativo da Petrobras caso Paulo Roberto Costa não fosse nomeado para a diretoria de abastecimento, atendendo ao apelo do PP.
O uso desse depoimento - que foi vazado para a revista Veja há quatro meses - não pegou bem na mídia. A defesa de Lula apontou a fragilidade das informações e sua falta de validade legal.Isso porque o Supremo Tribunal Federal ainda não homologou a delação.
Mas além de usar uma delação não homologada, o depoimento de Corrêa à Lava Jato na denúncia contra Lula demonstra que a operação não avançou em nada em relação aos fatos narrados pelo ex-deputado em maio.
Diferentemente do que ocorre na delação recente de Delcídio do Amaral, por exemplo, onde há comentários sobre a existência de provas materiais e dúvidas por parte dos investigadores, com Pedro Corrêa, a Lava Jato limita-se a ouvir mais do mesmo.
Vista grossa
Como fez com Delcídio, Lava Jato repete com Corrêa o padrão de mostrar total desprezo por qualquer indício de corrupção que tenha ocorrido antes do governo Lula ou que atinja partidos que não sejam PT, PMDB e PP.
É o que transparece quando Corrêa diz que Paulo Roberto Costa, no "delírio" de ser presidente da Petrobras, começou a "servir" todos os partidos, incluindo o PSDB. Não há perguntas sobre quem eram os tucanos que tratavam com o ex-diretor e quais os contratos corrompidos para além do episódio de Sergio Guerra e a CPI da Petrobras.
O comportamento é repetido com Delcídio, que aparece em outras delações como um ex-diretor da Petrobras, do governo FHC, que vinha atuando nesse esquema de desvio de dinheiro da estatal muito antes da chegada de Lula à Presidência. Os crimes do ex-senador não foram vazados.
Basicamente, Pedro Corrêa colabora com a denúncia contra Lula alegando que o petista podia não ter conhecimento de todos os centavos roubados da Petrobras, mas com certeza sabia que os partidos da base aliada, pós-mensalão, eram pagos para apoiar o governo dessa maneira.
Mais sobre o depoimento vazado à Veja:


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