Jornal GGN - O ministro de Relações Exteriores José Serra (PSDB) recebeu, às 16h da quinta-feira (25), o presidente da Shell Brasil Petróleo, André Araújo, e o vice-presidente mundial da Royal Dutch Shell, Andrew Bown. Embora o encontro conste na agenda oficial de Serra, o teor da conversa não foi divulgado pela assessoria do tucano. Tampouco os jornais da grande mídia retrataram o evento que ocorreu às vésperas de a Câmara votar um projeto de lei do Senado - de autoria de Serra - que altera o regime do pré-sal, atendendo ao lobby de petroleiras estrangeiras.
Quem denunciou nas redes sociais o bate-papo a portas fechadas de Serra com a Shell foi o deputado federal Wadih Damous (PT). O petista destacou que o encontro ocorria enquanto todos os holofotes estavam voltados para o primeiro dia do julgamento final do impeachment de Dilma Rousseff (PT) no Senado.
"Enquanto Dilma está sendo julgada pelo Senado, o tucano José Serra está no Itamaraty recebendo poderosos da Shell. (...) Como já se sabe, a venda o pré-sal brasileiro é ponto central do golpe de Estado em curso em nosso país. Para isso, querem fazer a sociedade acreditar que a Petrobras necessita de investimento estrangeiro quando, na verdade, existe uma aliança verdadeiramente serviçal com o objetivo de entregar a preço de banana nossa grande riqueza."
André Araujo foi recebido na mesma situação pelo ex-ministro da Casa Civil Jaques Wagner em 13 de novembro de 2015. No último ano, o executivo vem dando entrevistas no sentido de reafirmar o interesse da Shell em investir no Brasil, desde que o PLS (Projeto de Lei do Senado) 131, apresentado por Serra e já aprovado no Senado, seja avalizado pela Câmara e sancionado pelo interino Michel Temer (PMDB).
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), confirmou ao Estadão desta sexta (26) que o PLS 131 é prioridade na próxima semana, quando o impeachment de Dilma já terá um desfecho conhecido.
Com patrocínio do governo Temer, a Casa quer aprovar o PLS 131 sem mudanças, justamente para que ele seja sancionado o mais rápido possível.
A essência do projeto acaba com a presença obrigatória da Petrobras na exploração de todas as áreas do pré-sal - pelo atual regime de partilha, a estatal brasileira tinha direito a 30% de participação. Pelo projeto de Serra, o capital estrangeiro pode ter direito a 100%. Além da redução do papel da Petrobras no pré-sal, o projeto vai acabar com a exigência de contratação de conteúdo local na fabricação de equipamentos, outra demanda pública da Shell.
Para justificar o projeto, Serra escreveu que as medidas são necessárias para socorrer a Petrobras em meio à crise. Seu atual presidente, Pedro Parente, escalado por Temer para o cargo, concorda com as mudanças.
No Estadão, José Sergio Gabrielli e José Maria Rangel, ex-presidente da Petrobras e atual presidente da Federação Única dos Petroleiros, respectivamente, disseram que a atua lei sequer foi testada e que o ideal seria adiar os leilões por dois ou três anos para que a Petrobras pudesse participar.
Desde que retornou ao Senado, Serra tem se empenhado para atender ao lobby das petroleiras internacionais. Em 2009, ele foi pego em mensagens vazadas pelo WikiLeaks praticamente atuando em favor da Chevron e outras multinacionais que demonstravam total insatisfação com o regime de partilha do pré-sal criado no fim do governo Lula.
Nas mensagens, Serra sugeriu um boicote aos leilões das áreas de exploração de petróleo no Brasil para que, assim, a oposição ao então governo petista pudesse pressionar pela volta do regime anterior. Em 2013, no leilão do Campo de Libra, a Crevron, Britsh Petroleum, British Gas Group (BG) e Exxon Mobil não participaram da disputa, coincidentemente. Quem levou o leilão e virou a grande parceira da Petrobras com a posterior fusão com a BG foi a Shell.
Maioria na Câmara, a base aliada do governo Temer deve aprovar o projeto de Serra.
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