quinta-feira, 4 de agosto de 2016

"SE VALE UM CONSELHO, MANDA O FELICIANO AQUIETAR O PINTINHO DELE"

 
Acusadora e acusado
Vazou um áudio em que a jovem que diz ter sido atacada sexualmente por Feliciano conversa com 
um suposto intermediário de Feliciano. A íntegra você encontra aqui. A melhor frase, abaixo:
Mulher – Se vale um conselho, manda o Feliciano aquietar o pintinho dele, é guardar o pintinho 
dele. Eu não estou fazendo favor a ninguém.

por : Nathali Macedo

Depois de declarar em uma sessão da Câmara dos Deputados que “não existe cultura do estupro, 
existem estupradores”, Marco Feliciano acaba de ser acusado de assédio sexual e tentativa de estupro 
por uma jovem militante do PSC.
Ela trouxe a público prints de conversas via WhatsApp em que o pastor a ameaçava e tentava 
justificar o abuso: “Jovem, a carne é fraca. Você é uma moça linda, atraente.” “Sabe do que mais 
tenho saudade? De te agarrar e olhar sua carinha linda de choro dizendo ‘não’.”
Os prints não demonstram apenas a naturalização do estupro – como se fosse aceitável morder uma 
mulher e tentar arrastá-la para a sua cama apenas porque ela é “atraente” – demonstram, antes disto, 
algo ainda pior: homens que se valem do prestígio que a religião cristã ainda desfruta em algumas 
camadas da sociedade para justificarem comportamentos abusivos e violentos.
Esse respeito é tão efetivo que, em um dos prints, a vítima chega a se desculpar: “Pastor, me perdoe 
como vou falar agora… mas o senhor me assustou.”
Nas igrejas neopentecostais brasileiras, pastores são tratados como divindades. Homens enviados por 
Deus, homens de quem não se pode discordar, homens a quem não se pode negar coisa nenhuma – 
nem mesmo sexo. Desfrutam de um temor quase tão grande quanto o temor dos evangélicos ao 
próprio Deus.
Segundo colunista da Uol, após a denúncia, a jovem, acuada, procurou ajuda de grandes nomes do 
PSC, que mandaram que ela “sumisse.” Ela obedeceu ao Pastor abusador e aos demais poderosos do 
partido – não se sabe a que custo, mas nós podemos imaginar – e saiu de Brasília durante cinco dias, 
não denunciou o caso à polícia, e, pasmem: publicou um vídeo em que defendia Marco Feliciano e 
desmentia a denúncia. O vídeo foi retirado do ar poucas horas depois de publicado, assim como a 
página da jovem no facebook, que foi misteriosamente excluída.
A asessoria de Feliciano manifestou-se, após muitas investidas do repórter em questão:
“Tenho uma honra ilibada e tais acusações são descabidas. Respeito minha família, o povo brasileiro 
e principalmente minha fé! E peço que assim o façam! Assim eu encerro tal assunto, deixando nas 
mãos das autoridades”.
Nós provavelmente estamos diante de um caso grave de coação. Uma jovem militante não pode 
muito contra um partido inteiro. O recuo de uma mulher fragilizada pela violência e por ameaças do 
próprio Feliciano – e provavelmente de outros homens poderosos, a julgar por suas atitudes típicas 
de uma mulher amedrontada – não pode ser preponderante para que esse caso deixe de ser 
investigado.
O crime de estupro (inclusive na modalidade tentativa), ressalte-se, é de Ação Pública condicionada 
à representação, ou seja, depende da denúncia da vítima. Isso significa que se essa mulher – 
amedrontada e coagida – não se convencer a denunciar seu agressor, o caso cairá sim no 
esquecimento.
Atribuir ao crime de estupro a natureza de Ação Pública Condicionada é um erro rude de nossos 
legisladores em um país em que as mulheres ainda não atingiram um nível de empoderamento que 
garanta que elas denunciem seus algozes. Nada surpreendente, se considerarmos que entre esses 
legisladores está o próprio Marco Feliciano e uma bancada evangélica assustadoramente 
conservadora, fundamentalista e fascista.
Para além disso, essa vítima – que ainda não foi identificada para o grande público – corre sério 
risco. Se ela foi fisicamente agredida pelo Deputado Pastor Canalha por negar-lhe sexo, o que seria 
ele capaz de fazer agora que ela arrancou a sua máscara de defensor da moral e dos bons costumes?
A denúncia pública está feita, ainda que não formalizada, a máscara de Feliciano caiu, como era de 
se esperar, e não há nada que se possa fazer para livrar a cara do Deputado Pastor estuprador. O 
melhor, suponho, é que essa moça apareça e enfrente isso até o fim.
Há Ong’s e grupos feministas que provavelmente se disporão a ajudá-la e protegê-la. Esse caso, 
embora privado, é de interesse de todos os brasileiros, dada a posição política deste homem, que 
provavelmente fará qualquer coisa para impedir a própria desmoralização – e prisão, pois é isto que 
esperamos.
Afora a aflição que um caso tão assustador é capaz de nos causar, consideremos o que há por traz do 
sadismo de homens como Feliciano:
Duvivier disse numa entrevista que “no fundo, evangélicos são fanáticos sexuais; represam o sexo 
para depois explodir.” A sacralização do sexo – em detrimento de sua banalização, como fazem os 
pagãos – seria a propulsora de uma visão muito mais intensa sobre ele.
Em outras palavras e para ser clara: o sexo proibido mostra-se muito mais espetacular, e esse tabu 
não passa, portanto, de uma máquina geradora de fanáticos sexuais.
Acontece que estupro não é sobre sexo, é sobre violência. É sobre o prazer mórbido de exercer poder 
físico sobre outra pessoa, de provocar-lhe sofrimento:
Homens como Feliciano – que, não nos enganemos, estão por aí aos montes – não sabem fazer sexo, 
nunca souberam. Para eles, o sexo – que é uma relação saudável e natural de troca de prazer – não 
existe: existem relações de poder, e são essas relações, e apenas elas, que lhes parecem prazerosas.
E para continuarem exercitando seu sadismo doentio e nojento, religiosos lançam mão de todos os 
artefatos possíveis: a bíblia, a moralidade, a respeitabilidade religiosa, e, pasmem, a política.
Pastores abusadores estão no Congresso Nacional negando a Cultura do Estupro e pregando a Cura 
Gay. Quanta podridão existe, longe de nossos olhos, nos homens de Deus na bancada evangélica? De 
quantos sádicos maníacos sexuais as mulheres brasileiras estão a mercê?
Feliciano não é acusado apenas de assediar e tentar estuprar uma jovem de 22 anos militante de seu 
partido. Ele tem violado milhões de mulheres brasileiras, não com o falo – apenas porque não lhe é 
possível – mas com o poder que inacreditavelmente ainda existe nas mãos da igreja neste país.
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