segunda-feira, 4 de julho de 2016

Lula: "Temer pensa que ficará no poder por 70 anos"



Publicado na DW.

Em entrevista à revista alemã Der Spiegel publicada neste sábado (02/07), o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva fala sobre a crise política e econômica enfrentada pelo Brasil. Ele rebate 
acusações de corrupção e defende a presidente afastada Dilma Rousseff, criticando o presidente 
interino Michel Temer.
Ao ser questionado pela revista sobre o processo de impeachment em andamento contra Dilma, Lula 
voltou a falar em “vingança”. “O impeachment foi um ato de vingança do ex-presidente da Câmara 
Eduardo Cunha, o qual não ajudamos quando foi acusado de corrupção.”
Lula reforçou também que ainda não foi provado nenhum crime cometido por Dilma. “Essa coisa 
toda com o orçamento não passa de uma acusação barata. Quem está insatisfeito com o resultado das 
últimas eleições, deveria esperar pelas próximas”, afirmou. “Uma mudança abrupta não faz bem para 
o país.”
Para o ex-presidente, as chances de que o impeachment não se concretize são boas. Seria necessário 
conseguir o apoio de apenas mais seis senadores, disse. Além disso, o presidente interino, Michel 
Temer, “cometeu muitos erros”.
“Ele se comporta como Fidel Castro, que se instalou em Havana com seus guerrilheiros. Temer 
parece acreditar que ficará no poder por 70 anos. Ele trocou o comando de todos os postos 
importantes, dos ministérios, do Banco Central, da Petrobras. Ele é absurdo”, criticou Lula.
“Se a Dilma de fato voltar, vamos precisar de meio ano para contratar e dispensar gente de novo”, 
concluiu. A votação sobre o afastamento definitivo de Dilma está prevista para agosto.
O ex-presidente apontou a desaceleração econômica e uma “sociedade cada vez mais polarizada” 
como fatores que levaram ao processo de impeachment.
“Tudo isso se refletiu num Parlamento que não apenas bloqueou todos os projetos de lei do nosso 
governo, mas que também espreitava uma oportunidade de expulsar o PT, depois de quase 14 anos, 
do poder”, disse. “Parece que a democracia incomoda uma parcela da sociedade”, disse, referindo-se 
às “elites conservadoras.”
“Não tenho medo da prisão”
Quanto a acusações de corrupção contra ele, Lula afirmou que a mídia, mais especificamente a TV 
Globo, o taxou de corrupto ao afirmar que ele possui dois imóveis, apesar de ele não ser o 
proprietário deles. “Eles querem me desmoralizar perante a opinião pública.”
“Um juiz investiga o senhor. O senhor não tem medo de ser preso?”, perguntou a Der Spiegel. “Não 
tenho medo da prisão”, respondeu Lula. “Preocupa-me muito mais o fato de, na nossa democracia, 
parecer ser possível se tornar uma vítima de mentiras desse tipo.”
O ex-presidente afirmou que casos de corrupção estão vindo à tona graças ao PT, que estabeleceu as 
bases legais para isso nos últimos anos. “A crise é um sinal de que o Brasil avançou na luta conta a 
corrupção […] Um dia teremos orgulho do que está acontecendo no momento.”
“Não abandono uma companheira”
A Der Spiegel também abordou a nomeação de Lula para o cargo de ministro-chefe da Casa Civil, 
em março deste ano, suspensa pela Justiça. “O senhor queria escapar das garras do juiz, como 
supõem seus adversários?”, perguntou a revista.
Lula alegou não ter feito nada de errado e destacou que já havia sido convidado por Dilma para 
assumir o cargo no ano passado. “Eu achava que não havia lugar para dois presidentes no Palácio do 
Planalto, e recusei”, disse.
Com uma piora da crise, seus aliados o teriam pressionado a tentar “afastar o impeachment”. “Eu 
não abandono uma companheira somente para salvar minha própria reputação”, afirmou.

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