quarta-feira, 4 de maio de 2016

PALHAÇOS VESTIDOS DE TOGA


De onde menos se espera é que não sai nada mesmo: Lewandowski. As explicações ridículas 
sobre a omissão do STF.

por : Paulo Nogueira

Não esperem nada do Supremo.
Foi em essência esta a mensagem que vinte parlamentares progressistas ouviram de Ricardo 
Lewandowski, presidente do STF, num encontro ocorrido nesta terça.
Com alguma esperança, eles levaram a Lewandowski uma lista de razões pelas quais Eduardo Cunha 
deveria ser afastado de suas funções de presidente de Câmara.
Entraram na conversa com alguma esperança de ganhar algumas luzes de Lewandowski. Algum 
calor. Receberam sombras e jatos de frio siberiano, tudo isso na linguagem empolada dos eminentes 
ministros do Supremo.
Lewandowski disse a eles que o STF é “garantista”. Não. Não é garantista no sentido de impedir que 
um corrupto sem qualquer escrúpulo faça horrores para destruir a democracia. Não é garantista para 
proteger o voto de mais de 54 milhões de brasileiros.
É garantista, nas atuais circunstâncias, na seguinte acepção: deixar que Eduardo Cunha faça o que 
quiser. Está incluído aí dar um jeito para ser aprovado na Câmara o aumento do Judiciário.
Lewandowski usou também na conversa uma expressão em latim que, na prática, significa lavar as 
mãos.
O caso é interna corporis, afirmou. É uma questão interna da Câmara. Isso quer dizer que Cunha 
pode fazer o que quiser, porque o Judiciário não se mete em política.
Um dos presentes à conversa definiu com precisão essa fala. “Ele deve estar pensando que somos 
idiotas.” Sim. É acintoso falar que a Justiça não se mete nas questões políticas quando um juiz como 
Gilmar Mendes usa a toga para fazer militância política fantasiado de magistrado. Ou quando um 
procurador geral diz, sem prova nenhuma, que Dilma devia saber do Petrolão.
Lewandowski desprezou as evidências esmagadoras contra Eduardo Cunha. “O papel aceita tudo”, 
afirmou.
Ora, ora, ora.
E as contas secretas provadas pelas autoridades suíças? Está tudo documentado. Foi entregue de 
bandeja para as autoridades brasileiras.
E o perjúrio – mentira criminosa – de Cunha ao dizer sob juramento na Câmara, antes que os suíços 
o desmascarassem, que não tinha conta nenhuma no exterior?
E a expressão que Cunha utilizou, acuado, para tentar justificar as contas que deveriam levá-lo à 
cadeia: usufrutuário?
Não é apenas o papel que aceita tudo. A covardia aceita ainda mais. Ou a omissão. Ou a conivência. 
É difícil saber onde se encaixa a atitude do STF perante Cunha: covardia, omissão ou conivência. 
Pode ser também uma mistura das três coisas.
Lewandowski deu uma esmola, uma espórtula, uma migalha aos parlamentares que conversaram 
com ele: elogiou sua postura cidadã. E disse que vai levar o documento que lhe foi passado ao relator 
do caso Cunha no STF: Teori, o gatilho mais lento do planeta. Das cinzas para as cinzas, portanto. 
Ainda em 2015 Teori recebeu da Procuradoria Geral um documento que pedia o afastamento de 
Cunha.
Nada fez, e nem seus colegas. O STF sequer se pronunciou sobre a qualidade das acusações do 
procurador. Nos últimos dias, com o país em chamas, os juízes encontraram tempo para deliberar 
sobre pipocas no cinema.
É um circo. O golpe é um grande circo. Você teve o circo da Câmara. Agora tem o circo do Senado. 
E como garantista de ambos há o circo do Supremo, no qual os palhaços usam capas e se escondem 
por trás de latinismos como interna corporis.
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