sábado, 7 de maio de 2016

A lição da estudante que humilhou Telhada e da ativista que encarou 300 neonazis suecos


Landmesser (no círculo)

Kiko Nogueira

Era a Alemanha de 1936, e uma multidão se aglomerou em Hamburgo para assistir ao lançamento de 
navios de guerra. Enquanto milhares de pessoas executavam a saudação nazista, um homem cruzou 
os braços, numa atitude desafiadora.
A foto circulou durante décadas até que, em 1991, ele foi identificado como August Landmesser, que 
trabalhava num estaleiro. Landmesser era casado com uma judia. Segundo sua filha, ele pouco falava 
sobre o assunto, apenas que “era o certo a fazer”.
Separadas de Landmesser por um oceano, duas mulheres deram belíssimas demonstrações de 
coragem diante de fascistas. Karol Rocha é a garota que aparece enfrentando o Coronel Telhada na 
Assembleia Legislativa de São Paulo num vídeo que viralizou.
Karol recebe voz de prisão de um Telhada ensandecido e algumas vezes maior do que ela, 
acompanhado do Major Olímpio, um puxa saco troglodita da mesma espécie.
Telhada, ex-comandante da Rota, deputado estadual com a segunda maior votação no estado (o 
campeão foi Fernando Capez, veja só), avança sobre ela a bordo de todos os tiques psicóticos da 
Polícia Militar.

— Você está pensando que está falando com algum moleque? Eu sou deputado e deputado tem 
que ser respeitado nessa casa!, grita ele.
— Porque você é deputado?, ela devolve.
— Sim, senhora.
— Eu sou estudante, mulher e também mereço respeito.
— Vou botar essa moça daqui pra fora.
— Aqui é a casa do povo!


Telhada exige que ela baixe o tom com ele. “’Vai me prender? Por quê? Por que eu defendo uma 
CPI legítima?”, ela diz. “É por isso mesmo”, confessa o elemento.
Quantos marmanjos fariam o mesmo? Conto nos dedos: nenhum. A fama de Telhada o precede. 
Entre maio de 2009 e novembro de 2011, quando chefiou a Rota, o número de mortes aumentou em 
63,16% com relação ao período anterior.
Evangélico, escreveu em seu Facebook que o repórter André Caramante era “notório defensor de 
bandidos” depois de uma matéria de que não gostou. Caramante teve de sair do Brasil por um tempo.
Karol reduziu-o a nada, a mais um vagabundo autoritário abusando de suas credenciais para 
intimidar os outros, algo que ele e seus comandados fizeram a vida inteira na periferia.
Como ela, Maria-Teresa Tess Aplund ganhou notoriedade com um ato felizmente registrado por 
câmeras. Aos 42 anos, de ascendência africana, ela invadiu uma marcha de neonazistas numa cidade 
da Suécia.
Sozinha, ergueu o punho diante de 300 palhaços estranhamente uniformizados como garçons de 
restaurante dos Jardins, com calça preta e camisa branca, todos, evidentemente, belezas caucasianas 
raça pura.


Maria-Teresa Tess Aplund

Ao Guardian, ela admitiu que não refletiu e agiu instintivamente. “Foi um impulso. Eu estava tão 
zangada que tive de ir para a rua”, contou. “Só pensava: eles não podem marchar aqui. Nenhum 
nazista vai marchar aqui, não está correto”.
Depois da manifestação, apanhou o ônibus e voltou para casa. No dia seguinte, ela estava por toda a 
Internet. O grupo é um dos mais violentos do país. Ela já recebeu telefonemas anônimos.
“É difícil falar sobre o ódio. Sinto vergonha por termos este problema. As autoridades dizem que 
este é um país democrático. Mas estamos falando de nazistas!”, falou.
Maria-Teresa, Karol e os estudantes representam uma esperança, uma resistência frente ao avanço de 
uma extrema direita cada vez mais à vontade. Elas canalizam a revolta com a ascensão desse lixo 
velho.
Como o alemão Landmesser, estão lutando contra um mal maior, uma ameaça sinistra — e, 
simplesmente, fazendo o que é certo, algo que você também pode e deve fazer.



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