quinta-feira, 28 de abril de 2016

Parabéns aos envolvidos: o país que tinha Jô Soares ganhou um Carioca do Pânico


Ontem à noite, em seu programa, Jô Soares tomou a palavra, emocionado, para defender o 
ator Zé de Abreu e o compositor Chico Buarque de Hollanda das provocações que eles – e 
muitos outros, inclusive o próprio Jô, que teve a rua em frente a seu apartamento pichada com 
ameaças de morte – têm sofrido nas ruas por parte das hordas fascistas que foram despertadas 
neste país.

por : Kiko Nogueira

O Brasil do golpe é um país em que o tempo da delicadeza, como dizia Chico Buarque, parece ter
acabado. A cafajestagem e a truculência viraram moda.
Se vale tudo no Congresso e no Judiciário, por que não na rua, nas famílias, entre amigos, na 
televisão, no rádio?
O fascismo também invadiu o humor. Sai de cena uma figura como Jô Soares para a entrada de um 
asno sem graça como Danilo Gentili e uma cópia piorada, um certo Carioca, do Pânico.
Em seu programa de ontem, Jô saiu em defesa de José de Abreu. No meio do debate com suas 
“meninas”, fez um aparte.
“Me espanta cada vez mais o ambiente de impaciência que o Brasil está vivendo. Esse episódio que 
aconteceu com o José de Abreu é constrangedor. Um cidadão não pode sair com sua mulher para 
jantar que é obrigado a ouvir insultos terríveis”, falou.
“Disseram horrores sobre a mulher dele. A reação dele foi levantar e dar uma cusparada no casal, 
que também é uma reação movida por um ‘não aguentar mais. A pessoa não pode ter uma opinião ou 
tendência política que é condenada. Isto está ficando pior do que o comportamento de alguns 
deputados no Congresso, que também é lamentável”.
Criticou Jair Bolsonaro e sua homenagem infame a um torturador. Na sequencia, lembrou das 
agressões a Chico, segundo ele um “patrimônio nacional”.
“Eu fico comovido e com vergonha. Feliz o país que tem um Chico Buarque. Um cara que deveria 
ser reverenciado, mas ao invés disso sai de casa com os amigos e é agredido de uma forma 
mesquinha. Desculpa, mas precisava fazer esse desabafo”. Terminou com os olhos marejados.
Naquele mesmo dia, o prefeito de São Paulo Fernando Haddad participou do programa Pânico, da 
Jovem Pan.
Parêntese: Alguém um dia vai explicar por que Haddad insiste em dar entrevista a empresas 
abertamente hostis, de uma agressividade diária assassina. Eu quero ser mico de circo se isso render 
um único voto. Fecha parêntese.
Entre as hienas do estúdio, estava o humorista Carioca, visivelmente exaltado, babando ódio em sua 
obesidade, um revoltado online pretensamente divertido.
Carioca incorpora o espírito da Jovem Pan, emissora jabazeira que encontrou um nicho na direita. 
Como um interrogador de polícia vagabundo, Carioca vociferava contra as ciclovias — um dos 
argumentos era o clássico “perto da minha casa tem uma que acaba num bueiro” — a educação, o 
PT, o trânsito, o diabo.
Não que São Paulo esteja como Nova York ou Paris, mas na “opinião” de Carioca vivemos em 
Bagdá. No auge de sua cavalgada, quando Haddad mostrava números fornecidos por uma empresa 
alemã de GPS sobre o tráfego na cidade, o interlocutor enlouquecido respondeu: “Discordo”.
Foi ridicularizado por seus próprios companheiros, que perguntaram se ele discordava também que 2 
mais 2 dava 4. Haddad saiu-se bem porque é articulado e muito bem preparado, mas deveu muito à 
indigência mental do adversário.
Esse é o país que assoma com a instabilidade dos últimos meses e o microfone aberto para coxinhas 
incivilizados. Carioca é sintoma disso. Um mini bolsonaro.
Que reconciliação será possível com essa gente que prestou tributo a agentes da repressão nas 
avenidas, que levou suas crianças à Paulista para aprender como mandar senhoras tomarem no cu, 
que berra que não gosta de pobre e que nos atirou, afinal, no colo de Cunha e Temer?
Sai de cena um Jô Soares falando o óbvio — sejamos educados e aprendamos a conviver com as 
diferenças, para simplificar — e entra o Carioca. Em algum momento, fizemos por merecer. Agora é 
preciso retomar.



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