segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O significado do discurso de Lula na festa do PT


“O Partido da Globo, da Veja”: Lula na comemoração do PT. Com 10 anos de atraso, Lula 
enfim reage a uma mídia que só pensa em destruí-lo.

por Paulo Nogueira  

Lula demorou mais de dez anos para reagir a uma mídia que tenta freneticamente destruí-lo.
Seu discurso ontem nos 36 anos do PT foi talvez o mais beligerante desde que ele ascendeu ao poder, 
cheio de dedos e de concessões para evitar que a plutocracia fizesse com ele o que fizera com 
Getúlio e Jango. 
Não existe um grande partido de oposição, afirmou. Existe o partido da Globo, o partido da Veja, o 
partido dos jornais, todos unidos numa missão: dar um golpe.
Estes partidos exercem um controle sinistro sobre o Ministério Público e sobre a PF. (Isso nas barbas 
do ministro da Justiça, um dos mais inoperantes da história do Brasil, se não o mais.)
A ironia é que quanto mais Lula for agressivo tanto mais ele será atacado, porque as grandes 
empresas de mídia têm pavor da ideia de que o governo federal acabe com mamatas como as 
multimilionárias verbas publicitárias e como o olhar cego de Brasília para brutais sonegações.
Compare.
O ministro da Justiça de Geisel, Armando Falcão, observou num despacho para o chefe que a 
imprensa não “vive e nem sobrevive” sem o governo. É uma dependência visceral, parecida com a 
de recém-nascido diante da mãe. 
A imprensa necessita desesperadamente de publicidade e outros “favores especiais”, para usar uma 
expressão empregada por Roberto Marinho para extrair vantagens dos militares em troca de apoio 
editorial.
Falcão chamava tudo isso de “armas incríveis”.
O que fez Lula (como Dilma depois) com estas “armas incríveis”?
Nada.
Aécio no governo de Minas matou de fome a mídia que se opunha a ele. Alckmin faz o mesmo em 
São Paulo.
Não que isso seja bonito. É horrível aliás. Mas se este é o jogo, ou você joga ou desiste dele.
Num mundo menos imperfeito, vigoraria um capitalismo real na mídia, em que as companhias 
dependeriam apenas de si próprias e de sua competência, e não do dinheiro do contribuinte. Mas não 
é assim. Nunca foi assim.
Olhemos para o quadro sob termos práticos: nenhum jornal, nenhuma revista é obrigado a fazer 
jornalismo equilibrado, isento, imparcial. Você não pode forçar os Marinhos, por exemplo, a cobrir a 
meia tonelada de pasta de cocaína encontrada no helicóptero de um amigo de Aécio.
O mercado – os leitores — se incumbe de premiar ou castigar o comportamento editorial. E uma 
Justiça isenta – não é o caso nacional – puniria calúnias, difamações, denúncias sem prova e coisas 
do gênero. 
Mas também governo nenhum é obrigado a anunciar em qualquer veículo que seja. Se você 
considera, e com copiosas razões, que a emissora X ou o jornal Y agem como um partido interessado 
em destruir você, o que o leva a anunciar neles? Impulso suicida?
Em 12 anos, Lula e Dilma colocaram 6 bilhões de reais em propaganda na Rede Globo. Isto já em 
pleno vigor da Era Digital, que transformou a tevê numa mídia-dinossauro. Qual o sentido disso?
O momento atual é propício a rever a dependência abjeta da imprensa em relação ao governo.
É urgente um choque de capitalismo. Já é tempo de Marinhos, Civitas e Frias deixarem de ser 
servidos por um Estado-Babá.
Caso Lula se reeleja em 2018, ela deveria ser uma de suas tarefas prioritárias: forçar as empresas 
jornalísticas a enfrentar uma coisa que elas abominam: o capitalismo real, em que você floresce ou 
desaba de acordo com seu talento – e não mediante injeções de dinheiro público.
____________________________________________________

Nenhum comentário: