quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O Oportunismo de Lula..... faz o pêndulo do PT se mover à esquerda; é a campanha eleitoral de 2016



por Luiz Carlos Azenha

O ex-presidente Lula viajou o Brasil várias vezes.
Ele conhece o país física e intuitivamente.
Tem o Nordeste no DNA. Cresceu com os deserdados de São Paulo.
Lutou com a elite operária do ABC industrial. Não há outro líder com a sensibilidade social de Lula.
Fernando Henrique Cardoso, o líder intelectual da oposição, é um sociólogo de elite. Que só montou 
num jegue e se declarou com “um pé na cozinha” durante campanhas eleitorais. A relação entre FHC 
e o povo brasileiro é de água e óleo. O povo sabe que FHC não é “dos seus”.
Lula, não. Ele usa muitas metáforas no discurso. Algumas não fazem o menor sentido, mas garantem 
que seu discurso chegue ao povão. Ele adora falar como o pai e a mãe que administram o Brasil 
como se fosse uma imensa família, quando não é. Pelo contrário: a História do Brasil é a história da 
insurreição e da supressão dos que lutam por direitos. Mas Lula, o conciliador, parece realmente 
acreditar que o empresário Gerdau e o sindicalista Vicentinho podem conviver harmoniosamente. 
Em outras palavras, Lula incorpora a ideia de que o pobre brasileiro “sabe o seu lugar”.
O ex-presidente diz que Dilma está à sua esquerda. Confere. Diz-se que Golbery, o fiador da abertura 
lenta, gradual e restrita da ditadura militar, preferia Lula aos comunistas. O irmão de Lula era 
comunista. Ele, nunca foi. Lula é um social democrata, cujo horizonte é dar casa própria e automóvel 
a todos. Num país de deserdados e de imensa desigualdade social, como o Brasil, isso é 
revolucionário. Lula fala sempre nos bagres e nos sapos como um estorvo ao desenvolvimento. Ele 
ainda não chegou ao ponto de reconhecer que sem os bagres e os sapos nós, seres humanos, não 
sobreviveremos nesta Terra.
Como diz Paulo Henrique Amorim, sempre um observador arguto de nossa realidade, os tucanos 
vivem na e da mídia. Tiram o oxigênio dos colunistas de jornais, emissoras de rádio e TV. Não têm 
qualquer afinidade com o povo brasileiro. Eleitoralmente, sobrevivem na negação do outro. São, 
assim, cópia fiel da UDN. Criam uma realidade paralela, a do eterno “mar de lama”, para se 
apresentarem como “alternativa” à corrupção — da qual, aliás, fazem parte intimamente. PHA diria: 
qual é a ideia política original dos tucanos, além de entregar o patrimônio público para financiar seus 
governos? Eles sobrevivem vendendo a soberania brasileira.
Lula, na entrevista aos blogueiros, admitiu hoje que o PT se tornou um partido igualzinho a todos os 
outros. Fato. Quando ele fala que alguns companheiros “erraram”, provavelmente está se referindo 
aos crimes cometidos por gente como o ex-líder do governo Dilma no Senado, Delcídio do Amaral, 
que armava para tirar uma testemunha-chave do Brasil.
Todos os escândalos tucanos sobreviveram ao PT no poder: sanguessugas, vampiros, mensalão, 
petrolão. Em torno deles, o famoso pacto das elites.
O ex-presidente tem razão quando diz que o PT é perseguido pela mídia desde que ele assumiu o 
poder, em 2002. Vi isso de dentro da redação da TV Globo. Eu estava presente — e abominei — 
quando colegas jornalistas aplaudiram Lula antes da entrevista que ele deu ao Jornal Nacional, 
depois que se elegeu. E abominei quando, na onda das primeiras denúncias do mensalão, a Globo 
entrou na onda de criminalizar o PT, o que já dura mais de 12 anos. Testemunhei pessoalmente: a 
Globo colocou todos os seus recursos materiais e profissionais para investigar o PT, quando não fez 
o mesmo com nenhum outro partido.
A postura da mídia como linha auxiliar da oposição, no entanto, não deve ser usada como desculpa 
para o “reformismo fraco” do PT. Desde que José Dirceu, com suas alianças a qualquer custo, levou 
Lula ao poder, o PT se tornou ferramenta da “modernização conservadora” do Brasil. Um partido da 
ordem, que proporcionou migalhas aos mais pobres enquanto os mais ricos enchiam as burras de 
dinheiro.
O governo de coalizão do PT só pode se dar ao luxo de ser social democrata na bonança.
Na crise, banca a lei antiterrorismo contra os movimentos sociais, a reforma da Previdência, os 
leilões do pré-sal, o desmanche da Petrobras e da Eletrobras.
Na entrevista aos blogueiros, Lula mais uma vez mexeu com o pêndulo. Como líder mais importante 
do PT, se disse contra a lei antiterrorismo, a venda da Gaspetro e da Transpetro e propôs uma 
política econômica distinta do austericídio de Dilma.
É como se fosse aquele jogo do bad cop (Dilma) e do good cop (Lula).
Lula prega o apoio a Dilma, mas se distingue dela com propostas à esquerda, para não perder o 
campo político essencial, onde se encontra a militância do partido.
É sempre assim, desde a campanha de 2002: à esquerda durante a campanha, à direita no governo, à 
esquerda às vésperas do próximo período eleitoral, à direita depois da composição do governo.
Um pêndulo que, apesar de hipnotizar alguns blogueiros, se move de forma oportunista.
Mantém, como cenoura no horizonte, as reformas que realmente importam: democratização da 
mídia, reforma tributária que obrigue os ricos a assumirem carga tributária hoje carregada pela classe 
média e os mais pobres, soberania nacional sobre setores estratégicos (energia, comunicações e 
recursos naturais), um banco central que não esteja a serviço eminentemente do sistema financeiro.
O PT continua acreditando que pode se perpetuar como o menos ruim dos partidos.
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