por Luiz Carlos Azenha
O ex-presidente Lula viajou o Brasil várias vezes.
Ele conhece o país física e intuitivamente.
Tem o Nordeste no DNA. Cresceu com os deserdados de São Paulo.
Lutou com a elite operária do ABC industrial. Não há outro líder com a sensibilidade social de Lula.
Fernando Henrique Cardoso, o líder intelectual da oposição, é um sociólogo de elite. Que só montou
num jegue e se declarou com “um pé na cozinha” durante campanhas eleitorais. A relação entre FHC
e o povo brasileiro é de água e óleo. O povo sabe que FHC não é “dos seus”.
Lula, não. Ele usa muitas metáforas no discurso. Algumas não fazem o menor sentido, mas garantem
Lula, não. Ele usa muitas metáforas no discurso. Algumas não fazem o menor sentido, mas garantem
que seu discurso chegue ao povão. Ele adora falar como o pai e a mãe que administram o Brasil
como se fosse uma imensa família, quando não é. Pelo contrário: a História do Brasil é a história da
insurreição e da supressão dos que lutam por direitos. Mas Lula, o conciliador, parece realmente
acreditar que o empresário Gerdau e o sindicalista Vicentinho podem conviver harmoniosamente.
Em outras palavras, Lula incorpora a ideia de que o pobre brasileiro “sabe o seu lugar”.
O ex-presidente diz que Dilma está à sua esquerda. Confere. Diz-se que Golbery, o fiador da abertura
lenta, gradual e restrita da ditadura militar, preferia Lula aos comunistas. O irmão de Lula era
comunista. Ele, nunca foi. Lula é um social democrata, cujo horizonte é dar casa própria e automóvel
a todos. Num país de deserdados e de imensa desigualdade social, como o Brasil, isso é
revolucionário. Lula fala sempre nos bagres e nos sapos como um estorvo ao desenvolvimento. Ele
ainda não chegou ao ponto de reconhecer que sem os bagres e os sapos nós, seres humanos, não
sobreviveremos nesta Terra.
Como diz Paulo Henrique Amorim, sempre um observador arguto de nossa realidade, os tucanos
Como diz Paulo Henrique Amorim, sempre um observador arguto de nossa realidade, os tucanos
vivem na e da mídia. Tiram o oxigênio dos colunistas de jornais, emissoras de rádio e TV. Não têm
qualquer afinidade com o povo brasileiro. Eleitoralmente, sobrevivem na negação do outro. São,
assim, cópia fiel da UDN. Criam uma realidade paralela, a do eterno “mar de lama”, para se
apresentarem como “alternativa” à corrupção — da qual, aliás, fazem parte intimamente. PHA diria:
qual é a ideia política original dos tucanos, além de entregar o patrimônio público para financiar seus
governos? Eles sobrevivem vendendo a soberania brasileira.
Lula, na entrevista aos blogueiros, admitiu hoje que o PT se tornou um partido igualzinho a todos os
Lula, na entrevista aos blogueiros, admitiu hoje que o PT se tornou um partido igualzinho a todos os
outros. Fato. Quando ele fala que alguns companheiros “erraram”, provavelmente está se referindo
aos crimes cometidos por gente como o ex-líder do governo Dilma no Senado, Delcídio do Amaral,
que armava para tirar uma testemunha-chave do Brasil.
Todos os escândalos tucanos sobreviveram ao PT no poder: sanguessugas, vampiros, mensalão,
Todos os escândalos tucanos sobreviveram ao PT no poder: sanguessugas, vampiros, mensalão,
petrolão. Em torno deles, o famoso pacto das elites.
O ex-presidente tem razão quando diz que o PT é perseguido pela mídia desde que ele assumiu o
O ex-presidente tem razão quando diz que o PT é perseguido pela mídia desde que ele assumiu o
poder, em 2002. Vi isso de dentro da redação da TV Globo. Eu estava presente — e abominei —
quando colegas jornalistas aplaudiram Lula antes da entrevista que ele deu ao Jornal Nacional,
depois que se elegeu. E abominei quando, na onda das primeiras denúncias do mensalão, a Globo
entrou na onda de criminalizar o PT, o que já dura mais de 12 anos. Testemunhei pessoalmente: a
Globo colocou todos os seus recursos materiais e profissionais para investigar o PT, quando não fez
o mesmo com nenhum outro partido.
A postura da mídia como linha auxiliar da oposição, no entanto, não deve ser usada como desculpa
para o “reformismo fraco” do PT. Desde que José Dirceu, com suas alianças a qualquer custo, levou
Lula ao poder, o PT se tornou ferramenta da “modernização conservadora” do Brasil. Um partido da
ordem, que proporcionou migalhas aos mais pobres enquanto os mais ricos enchiam as burras de
dinheiro.
O governo de coalizão do PT só pode se dar ao luxo de ser social democrata na bonança.
Na crise, banca a lei antiterrorismo contra os movimentos sociais, a reforma da Previdência, os
O governo de coalizão do PT só pode se dar ao luxo de ser social democrata na bonança.
Na crise, banca a lei antiterrorismo contra os movimentos sociais, a reforma da Previdência, os
leilões do pré-sal, o desmanche da Petrobras e da Eletrobras.
Na entrevista aos blogueiros, Lula mais uma vez mexeu com o pêndulo. Como líder mais importante
do PT, se disse contra a lei antiterrorismo, a venda da Gaspetro e da Transpetro e propôs uma
política econômica distinta do austericídio de Dilma.
É como se fosse aquele jogo do bad cop (Dilma) e do good cop (Lula).
Lula prega o apoio a Dilma, mas se distingue dela com propostas à esquerda, para não perder o
Lula prega o apoio a Dilma, mas se distingue dela com propostas à esquerda, para não perder o
campo político essencial, onde se encontra a militância do partido.
É sempre assim, desde a campanha de 2002: à esquerda durante a campanha, à direita no governo, à
É sempre assim, desde a campanha de 2002: à esquerda durante a campanha, à direita no governo, à
esquerda às vésperas do próximo período eleitoral, à direita depois da composição do governo.
Um pêndulo que, apesar de hipnotizar alguns blogueiros, se move de forma oportunista.
Mantém, como cenoura no horizonte, as reformas que realmente importam: democratização da
Um pêndulo que, apesar de hipnotizar alguns blogueiros, se move de forma oportunista.
Mantém, como cenoura no horizonte, as reformas que realmente importam: democratização da
mídia, reforma tributária que obrigue os ricos a assumirem carga tributária hoje carregada pela classe
média e os mais pobres, soberania nacional sobre setores estratégicos (energia, comunicações e
recursos naturais), um banco central que não esteja a serviço eminentemente do sistema financeiro.
O PT continua acreditando que pode se perpetuar como o menos ruim dos partidos.
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