sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

É inexplicável a ausência de gravação em delação contra Zé Dirceu


Por Renato Rovai

Fernando Moura fez um acordo de delação premiada e deixou a prisão. O que se sabia até ele ser 
ouvido pelo juiz Sérgio Moro, no dia 22, última sexta-feira, era que ele revelara como o ex-ministro 
José Dirceu organizou, a partir da diretoria de Serviços da Petrobras, controlada por Renato Duque, 
uma parte do que seria um caixa dois do PT.
Acontece que Fernando Moura, confrontado por Moro com as suas supostas declarações, não as 
confirmou. E como José Dirceu é citado na delação que agora Moura nega, Roberto Podval, 
advogado do ex-ministro, fez o óbvio e solicitou as gravações do que estava transcrito. Áudio, vídeo, 
sinal de fumaça, qualquer coisa.
E a resposta do Ministério Público foi a de que elas não existem.
Não faz o menor sentido não gravar uma delação tão explosiva quanto essa numa investigação do 
porte e do risco da Lava Jato.
Qualquer estagiário de jornalismo sabe que se chegar na redação com uma história dessas sem 
qualquer prova e tiver um editor responsável, ela não é publicada.
Ou seja, a ausência de gravação não cola.
Nelson Rodrigues poderia atribuir isso ao Sobrenatural de Almeida ou poderíamos dizer que se trata 
do inexplicável futebol clube. Mas em casos de investigação criminal o inexplicável não condena 
ninguém. Absolve. Se não tiver como explicar e provar, não vale.
O MP e a PF parecem ter aberto a temporada de brincar com fogo. O nome da Operação de hoje, 
Triple X, também é mais político do que qualquer outra coisa. Há uma sanha persecutória em alguns 
ambientes que hoje atinge uns, mas que amanhã pode atingir outros.
Nunca é tarde demais para lembrar que o Estado de Direito deve ser sempre o limite da democracia. 
E brincar com ele é brincar com ela.
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