segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

A INDUSTRIA DA MORTE NÂO CONHECE CRISE, SÓ CRESCE

A maior fabricante de equipamentos e veículos militares do mundo gastou mais de US$ 4 
milhões na campanha eleitoral de 2014 e já doou mais de US$ 1 milhão para a corrida 
presidencial de 2016.

O financiamento anunciado pela “House Rules Committee” (comissão temática da Câmara dos 
Representantes) e autorizado em dezembro passado pelo Congresso estadunidense para dar 
continuidade às guerras contra o Estado Islâmico, o chamado “Ato de Dotações Consolidadas” 
para o ano fiscal de 2016, mostra que a indústria militar é a máquina de fazer dinheiro mais 
eficaz do mundo.

Dinheiro para a guerra permanente: Por Gustavo Guerreiro


O pacote de gastos de US$1,16 trilhões, conhecido como “Omnibus” (um volumoso documento de 
duas mil páginas), mostra as prioridades de Washington para sua política externa. Boa parte desses 
recursos, cerca de US$ 573 bilhões, é reservada para “despesas do Pentágono”. Das demais despesas, 
US$ 58,6 bilhões vão para fundos da chamada Guerra Global contra o Terror/Operações de 
Contingência Estrangeiras; US$ 111 bilhões destinados à aquisição de equipamentos e novos 
armamentos (US$ 17 bilhões a mais do que em 2015), e US$ 49,8 bilhões para pesquisa e 
desenvolvimento (US$ 13,7 bilhões a mais do que em 2015), segundo o sítio Defense News.
A lei aprovada tem efeitos políticos imediatos ao autorizar o emprego de efetivos militares em áreas 
de conflito no Iraque e na Síria. Trata-se de uma medida que contradiz o posicionamento público da 
administração de Barak Obama, que rechaça a impopular utilização das forças armadas regulares 
para combates em terra. A insaciável sofreguidão do complexo industrial militar estadunidense 
transforma a “guerra ao terror” em uma campanha bélica global.
A partir dessa perspectiva, a proposta do ex-embaixador dos EEUU na ONU, o neoconservador e 
resoluto intervencionista John Bolton, quer que o Ocidente faça de tudo para destruir o califado do 
ISIS, casando a iniciativa militarista com a afirmação surpreendente de que o Iraque e a Síria 
perderam o direito de recuperar os territórios ocupados pelos terroristas e que “Washington deveria 
reconhecer essa nova configuração geopolítica. A melhor alternativa ao Estado Islâmico no Nordeste 
da Síria e parte ocidental do Iraque é um novo Estado sunita independente”. Bolton assume, assim, 
uma postura totalmente neocolonial. O intuito é manter Moscou fora de cena, restaurando a 
influência total dos EUA na região, a partir do apoio indireto às monarquias anti-xiitas do Golfo.
O grupo de pesquisa sobre lobby e influência política “Center for Responsive Politics” informou que 
o Comitê de Ação Política, da empresa Lockheed Martin (maior fabricante de equipamentos e 
veículos militares do mundo), gastou mais de US$ 4 milhões na campanha eleitoral de 2014 e já 
doou mais de US$ 1 milhão para a corrida presidencial de 2016. Bolton teve como maior doador 
para sua campanha de 2014 a Renaissance Technologies, fundada em 1982 pelo bilionário James 
Simons, premiado matemático e ex-decodificador de criptografias da Guerra Fria. A empresa é 
especializada em gestão de fundos especulativos usando apenas modelos matemáticos, análises 
estatísticas e supercomputadores.
O lobby político-financeiro-militar não se define apenas pela intensificação operacional das forças 
armadas; ele é concebido para atuar na defesa de projetos de lei de seu interesse na forma de uma 
sofisticada engenharia jurídica. Em geral, as discussões sobre operações militares dos EUA e a 
“guerra ao terror” passam ao largo de um debate público amplo e democrático. Enquanto trilhões são 
gastos no Afeganistão, no Iraque e no combate ao ISIS, o Congresso planeja cortar bilhões de 
programas sociais, incluindo uma provável extinção do Medicare, principal plano de saúde pública 
dos EUA, sob a alegação de falta de recursos. A máquina de guerra deve continuar livre da 
intromissão da discussão política pública.
O sistema entra em um ciclo de produção de mais armamentos. Como não há guerra sem inimigos, é 
preciso inventá-los, produzindo mais conflitos e instabilidades. A perspectiva de incremento do ciclo 
de violência global forma a base para a grande estratégia de investimentos do complexo militar-
industrial.
Há 56 anos, o presidente Dwight Eisenhower classificou como “poder equivocado” o lobby do 
complexo industrial-militar. Mesmo assim trata-se de um poder que tem crescido desmesuradamente 
baseado no atendimento de encomendas governamentais. A guerra pode ser um inferno para alguns, 
mas é o paraíso para uma plutocracia que gere uma economia dela dependente. O problema é que 
leva todo o planeta a reboque.
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