Por Renato Rovai
Se o ano começa duro e difícil para o governo Dilma, que tem a tarefa de afastar do cenário a possibilidade de impeachment ao mesmo tempo que enfrenta uma profunda crise econômica, quem vai ter de encarar o desafio mais difícil de 2016 é o partido da presidenta que disputará a mais dura batalha eleitoral de sua história.
Desde que foi fundado em 1980, o PT já teve 18 anos com eleições (82, 85, 86, 88, 89, 90, 92, 94, 96, 98, 2000, 02, 04, 06, 08, 10, 12, 14) e foi se tornando aos pouco numa máquina eleitoral azeitadíssima. Já na estreia, em 82, ganhou Diadema, elegendo o operário Gilson Menezes. Em 1985 veio a conquista da primeira capital, com Maria Luíza Fontenelle, em Fortaleza, cujo mandato foi extremamente conturbado mas que não impediu vitórias em outras capitais em 1988, São Paulo, Porto Alegre e Vitória. E muitas outras cidades importantes, principalmente no estado de São Paulo, como Santo André, Santos, São Bernardo e Campinas.
Essas vitórias abriram a porta para que Lula quase se tornasse presidente da República, em 89, e construíram uma narrativa de governos que apresentavam o “jeito petista de governar”, com mais participação popular e inversão de prioridades.
Intelectuais de esquerda testavam suas teorias sobre programas de governo, lideranças populares passavam a ter cargos importantes na vida institucional e políticos tradicionais começavam a ver no partido que nascera a partir do chão das fábricas uma oportunidade para se aproximar de setores populares.
O PT foi crescendo e ficando cada vez mais parecido com os partidos tradicionais, mas mantinha, principalmente nas suas gestões mais destacadas, as marcas de governos de centro esquerda.
A cada eleição ia crescendo um pouco mais. E em 2002, depois de um ajuste no seu programa, com a publicação da Carta aos Brasileiros, elege sua principal liderança para a presidência da República, Lula. E inicia ali um novo ciclo onde o céu o inferno pareciam faces da mesma moeda.
A eleição de Lula, que permitiu ao PT crescer ainda mais, ao mesmo tempo lhe aproximou perigosamente de um abismo. Em 2004, o partido, por exemplo, falava em eleger 1 mil prefeitos, meta que não foi alcançada e que lhe levou a uma crise financeira que se aprofundou com a investigação do mensalão e que acabou levando à prisão boa parte da sua direção nacional.
Quando todos esperavam que aquele poderia ser o fim de sua história ou como cravou Jorge Bornhausen, então presidente do PFL, “a oportunidade de ficar livre dessa raça por uns 30 anos”, Lula não só se reelegeu, como o partido fez cinco governadores e 83 deputados federais, tendo ainda obtido maior votação para o Congresso.
Aquela vitória reafirmava a força do PT ao mesmo tempo que levava embutida em si o vírus que dez anos depois, neste 2016, pode vir a lhe levar a sua maior derrota.
O PT não fez naquele momento uma correta reavaliação dos seus erros, não abriu espaço para a renovação dos seus quadros políticos e nem modificou seus mecanismos para enfrentamentos eleitorais. O partido sempre falou em reforma política, mas quando teve todas as possibilidades de aprová-la, não fez a devida força.
De 2007 a 2010, Lula teve um Congresso mais favorável e imensa popularidade. Poderia não só ter colocado a reforma política como sua proposta principal, como ter mobilizado a sociedade para defendê-la.
O fato é que ao mesmo tempo que o PT defendia a reforma política, sabia que podia continuar ganhando eleições no formato tradicional, onde o voto ficava mais caro a cada processo eleitoral. E os financiamentos empresariais mais necessários e volumosos.
Até 2014, o PT ganhou eleições fazendo campanhas tão caras quando adversários que tinham relações mais próximas ao ideário liberal e ao mercado. E tudo indica que foi ali que o partido mordeu a maça envenenada.
A Operação Lava Jato transformou o PT, mesmo com menos investigados e condenados que outras siglas, em símbolo da corrupção nacional. E mesmo ainda se mantendo como sigla da preferência nacional, sua popularidade despencou como nunca. Ao que tudo indica, a necessidade de disputar eleições com as mesmas chances de seus adversários o fez utilizar de métodos semelhantes aos deles para obter recursos.
E por este motivo 2016 tem tudo para ser o ano mais difícil da história da sigla em embates eleitorais. Tanto porque sua imagem foi profundamente desgastada pelas investigações, como pela crise econômica que levou o governo Dilma a uma aprovação nanica, perto de 10%.
Em 2012, segundo dados do TSE, o PT foi o partido que mais recebeu votos em seus candidatos a prefeitos pelo país afora, 17,2 milhões de votos. E o terceiro em prefeitos eleitos, 635. Perdendo apenas para o PMDB, 1024, e o PSDB, 702. E o mais importante, venceu em São Paulo, retomando a maior capital do país com Fernando Haddad.
A situação deve mudar muito neste ano. Lideranças locais estão se desfiliando do partido e procurando legendas que lhe permitam disputar a eleição de maneira mais cômoda. Até porque sabem que o PT terá enorme dificuldade em arrecadar recursos e que seus adversários combaterão os candidatos do partido como se estivessem num cruzada santa contra o mal que está destruindo o Brasil.
Isso não significa que o PT vai ser demolido enquanto sigla. Certamente ainda elegerá uma importante quantidade de executivos municipais e pode, inclusive, vir a reeleger a sua joia da coroa neste pleito.
Haddad tem feito um governo que lhe permite falar para além do partido e tem adversários pouco consistentes. Não será surpresa se vier a superá-los.
Ao mesmo tempo, o PT ainda tem espaço para vencer em cidades que fez boas administrações e onde tem lideranças carismáticas. E ainda tem a chance de obter vitórias em lugares onde os atuais prefeitos fizeram mandatos fracos. O que neste momento de crise não tende a ser exceção, mas regra.
É difícil o PT não perder ao menos 30% dos votos e dos governos que teve em 2012. Mas ao mesmo tempo faz apenas jogo de torcedor quem afirma que “o partido não vai eleger nem síndico de prédio”. Bobagem.
A capilaridade que o partido tem lhe garante alguma resiliência. Mas isso não lhe permite imaginar que viverá em 2016 um 2006. O ano de 2016 será certamente o mais duro da história eleitoral do PT. A depender do que vier a acontecer na economia e no enfrentamento do impeachment, pode vir a ser desastroso ou até algo mais administrável.
Mas não há a menor possibilidade de que não aconteça uma profunda retração do capital político da sigla. O PT vai sair menor do que vai entrar na eleição de 2016.
A definição do seu futuro, porém, tende a não acontecer neste embate. Se continuar governando o país com Dilma e conseguir transformar 2017 e 2018 em anos de crescimento econômico consistente, tem chance de seguir em frente. Se o desastre econômico se aprofundar, tende a se tornar um partidinho em 2018, quando muitos movimentos populares que lhe dão vitalidade tenderão a buscar uma outra agremiação para os seus projetos institucionais.
Ainda não será a eleição de 2016 que vai definir o futuro do PT, mas isso não signfica que ela não influenciará no seu destino. Não há o que ganhar nesta sua maior batalha eleitoral desde a fundação. Há apenas o que tentar preservar. E em casos assim, perder de pouco já permite cantar vitória.
Desde que foi fundado em 1980, o PT já teve 18 anos com eleições (82, 85, 86, 88, 89, 90, 92, 94, 96, 98, 2000, 02, 04, 06, 08, 10, 12, 14) e foi se tornando aos pouco numa máquina eleitoral azeitadíssima. Já na estreia, em 82, ganhou Diadema, elegendo o operário Gilson Menezes. Em 1985 veio a conquista da primeira capital, com Maria Luíza Fontenelle, em Fortaleza, cujo mandato foi extremamente conturbado mas que não impediu vitórias em outras capitais em 1988, São Paulo, Porto Alegre e Vitória. E muitas outras cidades importantes, principalmente no estado de São Paulo, como Santo André, Santos, São Bernardo e Campinas.
Essas vitórias abriram a porta para que Lula quase se tornasse presidente da República, em 89, e construíram uma narrativa de governos que apresentavam o “jeito petista de governar”, com mais participação popular e inversão de prioridades.
Intelectuais de esquerda testavam suas teorias sobre programas de governo, lideranças populares passavam a ter cargos importantes na vida institucional e políticos tradicionais começavam a ver no partido que nascera a partir do chão das fábricas uma oportunidade para se aproximar de setores populares.
O PT foi crescendo e ficando cada vez mais parecido com os partidos tradicionais, mas mantinha, principalmente nas suas gestões mais destacadas, as marcas de governos de centro esquerda.
A cada eleição ia crescendo um pouco mais. E em 2002, depois de um ajuste no seu programa, com a publicação da Carta aos Brasileiros, elege sua principal liderança para a presidência da República, Lula. E inicia ali um novo ciclo onde o céu o inferno pareciam faces da mesma moeda.
A eleição de Lula, que permitiu ao PT crescer ainda mais, ao mesmo tempo lhe aproximou perigosamente de um abismo. Em 2004, o partido, por exemplo, falava em eleger 1 mil prefeitos, meta que não foi alcançada e que lhe levou a uma crise financeira que se aprofundou com a investigação do mensalão e que acabou levando à prisão boa parte da sua direção nacional.
Quando todos esperavam que aquele poderia ser o fim de sua história ou como cravou Jorge Bornhausen, então presidente do PFL, “a oportunidade de ficar livre dessa raça por uns 30 anos”, Lula não só se reelegeu, como o partido fez cinco governadores e 83 deputados federais, tendo ainda obtido maior votação para o Congresso.
Aquela vitória reafirmava a força do PT ao mesmo tempo que levava embutida em si o vírus que dez anos depois, neste 2016, pode vir a lhe levar a sua maior derrota.
O PT não fez naquele momento uma correta reavaliação dos seus erros, não abriu espaço para a renovação dos seus quadros políticos e nem modificou seus mecanismos para enfrentamentos eleitorais. O partido sempre falou em reforma política, mas quando teve todas as possibilidades de aprová-la, não fez a devida força.
De 2007 a 2010, Lula teve um Congresso mais favorável e imensa popularidade. Poderia não só ter colocado a reforma política como sua proposta principal, como ter mobilizado a sociedade para defendê-la.
O fato é que ao mesmo tempo que o PT defendia a reforma política, sabia que podia continuar ganhando eleições no formato tradicional, onde o voto ficava mais caro a cada processo eleitoral. E os financiamentos empresariais mais necessários e volumosos.
Até 2014, o PT ganhou eleições fazendo campanhas tão caras quando adversários que tinham relações mais próximas ao ideário liberal e ao mercado. E tudo indica que foi ali que o partido mordeu a maça envenenada.
A Operação Lava Jato transformou o PT, mesmo com menos investigados e condenados que outras siglas, em símbolo da corrupção nacional. E mesmo ainda se mantendo como sigla da preferência nacional, sua popularidade despencou como nunca. Ao que tudo indica, a necessidade de disputar eleições com as mesmas chances de seus adversários o fez utilizar de métodos semelhantes aos deles para obter recursos.
E por este motivo 2016 tem tudo para ser o ano mais difícil da história da sigla em embates eleitorais. Tanto porque sua imagem foi profundamente desgastada pelas investigações, como pela crise econômica que levou o governo Dilma a uma aprovação nanica, perto de 10%.
Em 2012, segundo dados do TSE, o PT foi o partido que mais recebeu votos em seus candidatos a prefeitos pelo país afora, 17,2 milhões de votos. E o terceiro em prefeitos eleitos, 635. Perdendo apenas para o PMDB, 1024, e o PSDB, 702. E o mais importante, venceu em São Paulo, retomando a maior capital do país com Fernando Haddad.
A situação deve mudar muito neste ano. Lideranças locais estão se desfiliando do partido e procurando legendas que lhe permitam disputar a eleição de maneira mais cômoda. Até porque sabem que o PT terá enorme dificuldade em arrecadar recursos e que seus adversários combaterão os candidatos do partido como se estivessem num cruzada santa contra o mal que está destruindo o Brasil.
Isso não significa que o PT vai ser demolido enquanto sigla. Certamente ainda elegerá uma importante quantidade de executivos municipais e pode, inclusive, vir a reeleger a sua joia da coroa neste pleito.
Haddad tem feito um governo que lhe permite falar para além do partido e tem adversários pouco consistentes. Não será surpresa se vier a superá-los.
Ao mesmo tempo, o PT ainda tem espaço para vencer em cidades que fez boas administrações e onde tem lideranças carismáticas. E ainda tem a chance de obter vitórias em lugares onde os atuais prefeitos fizeram mandatos fracos. O que neste momento de crise não tende a ser exceção, mas regra.
É difícil o PT não perder ao menos 30% dos votos e dos governos que teve em 2012. Mas ao mesmo tempo faz apenas jogo de torcedor quem afirma que “o partido não vai eleger nem síndico de prédio”. Bobagem.
A capilaridade que o partido tem lhe garante alguma resiliência. Mas isso não lhe permite imaginar que viverá em 2016 um 2006. O ano de 2016 será certamente o mais duro da história eleitoral do PT. A depender do que vier a acontecer na economia e no enfrentamento do impeachment, pode vir a ser desastroso ou até algo mais administrável.
Mas não há a menor possibilidade de que não aconteça uma profunda retração do capital político da sigla. O PT vai sair menor do que vai entrar na eleição de 2016.
A definição do seu futuro, porém, tende a não acontecer neste embate. Se continuar governando o país com Dilma e conseguir transformar 2017 e 2018 em anos de crescimento econômico consistente, tem chance de seguir em frente. Se o desastre econômico se aprofundar, tende a se tornar um partidinho em 2018, quando muitos movimentos populares que lhe dão vitalidade tenderão a buscar uma outra agremiação para os seus projetos institucionais.
Ainda não será a eleição de 2016 que vai definir o futuro do PT, mas isso não signfica que ela não influenciará no seu destino. Não há o que ganhar nesta sua maior batalha eleitoral desde a fundação. Há apenas o que tentar preservar. E em casos assim, perder de pouco já permite cantar vitória.
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